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O SOM DA HISTÓRIA

NO ‘NOITES TROPICAIS’, OS ARTISTAS SÃO BIOGRAFADOS NO INÍCIO DAS CARREIRAS, E VÁRIOS NÃO ERAM NEM JOVENS, ERAM CRIANÇAS

NELSON MOTTA segundocaderno@oglobo.com.br

Dia de lançamento da nova edição de “Noites tropicais” comemorativa de seus 21 anos, toda reescrita e com três capítulos extras que começam onde termina a edição original. Uma trabalheira, feita com gosto e rigor. O objetivo era ficar melhor do que a original, mas isso os leitores é que vão dizer. A vantagem é que dessa vez poderão ouvir no Spotify todas as incontáveis músicas citadas no livro e assim fazer uma leitura integral, imersiva.

Na era do narcisismo, pensei até em me desculpar por parecer autorreferente, mas se eu fosse um cronista musical teria que obrigatoriamente falar desse livro que se tornou um grande best-seller e referência em escolas e universidades. E me deu, e continua dando, a imensa alegria de emocionar, divertir e esclarecer com a história de nossa gloriosa música popular — o melhor espelho de nós, espelho sonoro, eu digo.

Este livro me levou a palestras em Harvard, em Oxford, na Casa de América de Madri, na Embaixada do Brasil em Roma, em incontáveis cidades brasileiras, sempre com sensação de que a música popular é nossa maior contribuição à beleza e à alegria do mundo, que nos traz admiração e respeito onde é ouvida.

Este livro nasceu de uma impossibilidade. Em 1998, arrasado com a morte de Tim Maia e estimulado por Lulu Santos, decidi escrever sua biografia.

Mas nada é fácil com Tim Maia, os direitos estavam numa briga interminável de herdeiros, e os livros precisavam de autorização, antes da lei do cala a boca já morreu.

Então pensei que podia escrever as melhores histórias do Tim... e de João Gilberto, Gil, Chico, Caetano, Roberto, Erasmo, Rita, Tom, Vinicius, Renato, Cazuza, Marisa, Gal, Bethânia, Lulu, Ben Jor, Ney e outros artistas que construíram a música brasileira no século XX, sem precisar da autorização de ninguém, contando minha própria história com esses grandes personagens, como testemunha privilegiada, e algumas vezes coadjuvante e até protagonista, dos movimentos musicais que começam na bossa nova e chegam ao sertanejo, ao axé e ao funk, passando por Jovem Guarda, MPB, Tropicalismo e Rock Brasil, em perfeita sincronia com os momentos políticos e sociais que o país vivia, como expressão musical de nossa sociedade.

O que acho mais interessante no livro é que os artistas são sempre biografados no início de suas carreiras, vários não eram nem jovens, eram crianças, adolescentes, nenéns falando, cantando e fazendo coisas seriíssimas, assumindo responsabilidades para as quais não estavam preparados, enfrentando preconceitos e incompreensões, acho muito linda a alvorada de cada geração, com sua inocência, sua espontaneidade, seus sonhos e ideais, seu tesão de mudar e construir.

Eles são a trilha sonora da nossa História.

Segundo Caderno

pt-br

2023-01-27T08:00:00.0000000Z

2023-01-27T08:00:00.0000000Z

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