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Operação da PF mira suposta falsificação de dados na Braskem

Policiais cumpriram 14 mandados e suspeitam de omissão de informações por parte da empresa. Ninguém foi preso

PATRIK CAMPOREZ E BERNARDO LIMA politica@oglobo.com.br

Policiais fizeram buscas na sede da empresa, suspeita de omitir informações para manter minas de sal-gema funcionando em Maceió.

Onze dias após uma mina de sal-gema explorada pela Braskem ter cedido em Maceió (AL), a Polícia Federal deflagrou uma operação ontem para investigar possíveis crimes cometidos pela empresa na região do acidente. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão, um deles na sede da companhia, no bairro do Pontal, na capital alagoana. Ninguém foi preso.

A investigação apura indícios de que a atividade da petroquímica descumpria os parâmetros de segurança necessários para garantir a estabilidade das minas e a segurança da população. A exploração, realizada entre 1970 e 2019, causou o afundamento do solo em cinco bairros da cidade, o que levou 60 mil pessoas a abandonarem suas casas.

Os suspeitos poderão responder pelos crimes de poluição qualificada, usurpação de recursos da União, apresentação de estudos ambientais falsos ou enganosos, inclusive por omissão e outros delitos, segundo a Polícia Federal. A Justiça decretou sigilo sobre os nomes dos alvos e também na relação de material apreendido durante a operação policial.

‘QUEM FEZ O QUÊ’

A PF identificou suspeitas de que a empresa teria apresentado dados falsos e omitido informações das autoridades para manter as minas funcionando. Por determinação da Justiça Federal de Alagoas, ao todo, 60 policiais cumpriram 11 buscas em Maceió, duas no Rio de Janeiro (RJ) e uma em Aracaju (SE). Em nota enviada ao GLOBO, a empresa afirmou que “está à disposição das autoridades, como sempre atuou. Todas as informações serão prestadas no transcorrer do processo”.

De acordo com a superintendente da PF no estado, Luciana Paiva Barbosa, a ação de ontem mirou a cadeia de comando da empresa, e busca estabelecer as responsabilidades individuais pelos possíveis crimes cometidos. Ao GLOBO, a delegada afirmou que as buscas devem marcar o encerramento de um ciclo no inquérito. A partir de então, a polícia espera identificar “quem fez o quê, se seguiram corretamente a autorização de lavra, quais foram os documentos que apresentaram, se estavam corretos e se não estavam”.

—O objetivo é conseguir os documentos e equipamentos eletrônicos que possam esclarecer a rede de comando, quem mandava. (Quem estabelecia) A forma de perfurar as minas, até onde podiam ir, a distância entre elas. Tudo isso que a gente está tentando esclarecer no inquérito —afirmou, em entrevista por telefone.

Ainda segundo Luciana Barbosa, a operação é uma consequência natural das investigações.

— Quando as investigações chegam a um certo ponto, às vezes precisamos de medidas mais invasivas para conseguir o dado real, bruto, e analisá-lo sem influência e sem nenhum tipo de maquiagem daquele dado —acrescentou.

A exploração de sal-gema da Braskem em Maceió começou na década de 70 e já afetou cerca de 60 mil pessoas. As primeiras pesquisas que comprovaram a possibilidade de um desnivelamento do solo no local foram publicadas em 2010. No entanto, a catástrofe só começou a se tornar evidente em 2018, quando rachaduras de 280 metros de extensão surgiram nas casas e ruas de bairros próximos à região de exploração.

A Braskem argumenta, por meio de nota oficial, que seus funcionários já prestaram esclarecimentos e que a empresa entregou documentos e relatórios solicitados pelos investigadores. “A empresa vem agindo com diligência e transparência, como sempre atuou”, diz o texto.

Sustenta ainda que lançou mão das técnicas disponíveis para fazer a extração do sal-gema em Maceió, “sempre acompanhadas e fiscalizadas pelos órgãos públicos” e “com as licenças de operação correspondentes”.

Opinião

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2023-12-22T08:00:00.0000000Z

2023-12-22T08:00:00.0000000Z

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