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Rio aposta em super-radar para temporais

Com ruas alagadas e ônibus sem ar, Rio terá super-radar meteorológico e parceria com a Nasa

JÉSSICA MARQUES jessica.marques@oglobo.com.br

Plano Verão anunciado pela prefeitura inclui a compra de um super-radar finlandês, por R$ 6,8 milhões, capaz de detectar tempestades de granizo. Medidas foram divulgadas dois dias depois que chuvas fortes causaram alagamentos em pontos recorrentes na cidade.

Atecnologia é a aposta da prefeitura do Rio para prever a chegada de temporais à cidade, cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas. O investimento inclui a compra de um super-radar finlandês por R$ 6,8 milhões, capaz de detectar a formação de núcleos de chuva a 150 quilômetros de distância, além da ampliação da parceria com a Nasa (agência espacial americana) para acesso a 25 satélites que podem informar sobre a possibilidade de alagamentos e enchentes. As medidas foram anunciadas dois dias depois de as ruas da Lapa e do Catete ficarem mais uma vez inundadas durante as fortes chuvas. No dia seguinte, com a volta do calor abrasador, passageiros continuaram a sofrer: uma mãe, em desespero, quebrou o vidro de um ônibus sem ar-condicionado ao ver o filho passar mal.

— Nenhum desses investimentos aqui nos traz imunidade ou a certeza de que não teremos alagamentos na cidade. Nós temos alagamentos e pedimos atenção das pessoas para que elas saibam que pode-se limpar ralo, mas se elas jogarem lixo lá nada mudará — afirmou o prefeito Eduardo Paes durante a coletiva em que foi divulgado o Plano Verão.

ESTADO TEM CINCO RADARES

O novo radar ficará na Serrado Mendanha, na Zona Oeste, e deve entrar em operação mês que vem. O equipamento vai detectar e escanear nuvens de tempestades e até de chuvas de granizo quando elas ainda estiverem na Região Serrana e na Costa Verde. Isso vai permitir ao Centro de Operações Rio (COR) emitir alertas atempo de os cariocas se prepararem.

— Essa aquisição vai aumentar bastante a nossa capacidade de predição no chamado curto prazo. O nosso atual radar, instalado no Sumaré, tem tecnologia banda C. Esse novo equipamento faz uma leitura vertical e horizontal e consegue captara presença degelo nas nuvens. Comisso, agente conseguirá avisar, por exemplo, aos moradores de determinado bairro sobre a possibilidade de chuva de granizo com uma pequena antecedência — explica o chefe-executivo do COR, Marcus Belchior.

Já a parceira com a Nasa vai a possibilitar a adoção de dois sistemas: o Lhasa Rio —primeiro modelo global de análise de risco de deslizamentos —e o Rio Flood Model —que faz a previsão de enchentes em curtíssimo prazo. O Estado do Rio tem hoje cinco radares meteorológicos.

Hoje os cariocas não precisam nem de tecnologia para saber que, se chover um pouco mais forte, as ruas do Catete, por exemplo, vão virar um rio. E, nos últimos meses, a cidade vem sofrendo ainda mais com temperaturas elevadas e temporais. A onda de calor desta semana levou ainda ao aumento do consumo de energia, sobrecarregando o sistema. Ontem à tarde, moradores da Rocinha fecharam a Autoestrada LagoaBarra, para protestar contra a falta de luz. O trânsito deu um nó na Zona Sul. A Light informou que o problema na favela é agravado pelas ligações clandestinas — 83% da energia distribuída é furtada.

Parte do problema climático é associada ao fenômeno El Niño, responsável por afetar o tempo no continente, elevando as temperaturas e provocando estiagem no Norte do Brasil e chuvas mais intensas no Sul do país. No Rio, de acordo com meteorologistas do COR, a expectativa é que o verão carioca seja de muito calor e chuvas mais irregulares.

Para enfrentar esse período, Paes afirmou que a prefeitura registrou “recorde de dragagens”, com a retirada 555 mil toneladas de sedimentos de rios. No ano passado, foram 490 toneladas. Segundo o prefeito, também foram ampliados os serviços de manutenção da cidade, principalmente na Zona Oeste.

A prefeitura divulgou ainda que foram feitas 166 obras de contenção de encostas e que a Operação Ralo Limpo desobstruiu 300 pontos de alagamento, considerados críticos em dia de chuva. A Rio-Águas também está instalando megarralos —seis dos 20 previstos já estão prontos — para ajudar no escoamento.

— Vou fazer uma breve comparação com a pia da sua casa. Pode estar tudo limpinho, o cano está limpinho. Mas se jogar um balde de água maior do que o volume aceito naquela pia, pode ter certeza que vai transbordar —disse Paes, referindose aos alagamentos nas ruas.

PROBLEMAS CONTINUAM

O exemplo de Paes foi conferido de perto por quem passou pela Lapa na última terça-feira. A região, principalmente na Rua Mem de Sá, ficou totalmente alagada, com carros ilhados e calçadas submersas. O nível da água só foi baixar na manhã de quartafeira. A prefeitura disse que investiu, desde 2011, mais de R$ 1 bilhão em programas de infraestrutura.

— Vamos continuar a ter problemas nesse verão. O Jardim Maravilha, em Campo Grande, vai precisar de intervenções no padrão holandês. Estamos investindo já, mas ali é um processo de quatro ou cinco anos de intervenção —afirmou Paes.

Outra medida anunciada ontem pela prefeitura foi a mudança das nomenclaturas dos estágios operacionais. Sempre que a rotina da cidade é alterada, o COR emite alertas. Agora, os níveis serão baseados na Escala Richter, utilizada no caso de terremotos. Em vez de nomes, serão números. Com isso, o município espera dar uma resposta mais rápida à população em situações de risco.

A escala continua a ter cinco estágios: do normal (numeração 1) ao mais grave (5). Agora, o estágio de normalidade passa a ser o estágio 1 e tem a cor verde. Em seguida, vem o estágio 2, de cor amarela. O estágio 3 será identificado pela cor laranja, e a vermelha indicará o nível 4. A situação mais grave será o estágio 5, com a cor roxa.

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2023-11-17T08:00:00.0000000Z

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