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Renegociação de dívida empaca, e governo faz mutirão

Governo via potencial de até 32 milhões, mas atinge só 740 mil na segunda fase

RENAN MONTEIRO, BERNARDO LIMA E ANA FLÁVIA PILAR economia@oglobo.com.br BRASÍLIA E RIO

Exclusivamente digitais e com muitas etapas, as renegociações de dívidas de até R$ 5 mil pelo Desenrola beneficiaram, em um mês, apenas 740 mil pessoas, ante 32 milhões de negativados. Para destravar o programa, o governo promove hoje um “Dia D” e pediu ajuda aos bancos, que vão auxiliar endividados.

Promessa de campanha do presidente Lula e lançado como forma de impulsionar a economia e reduzir o endividamento das famílias, o programa Desenrola Brasil ainda não deslanchou. Fase mais importante do programa, iniciada há mais de um mês, atingiu apenas 740 mil pessoas, de acordo com o Ministério da Fazenda, enquanto o governo via potencial de até 32 milhões CPFs tirarem o nome do vermelho. Essa etapa está focada na população de baixa renda e permite o parcelamento de dívidas, bancárias ou não, de até R$ 5 mil. Para tentar impulsionar o programa, o governo faz hoje um “Dia D” para negociar dívidas e auxiliar nas negociações.

O programa começou pela Faixa 2, pessoas com renda mensal de até R$ 20 mil e cujas dívidas bancárias foram inscritas em cadastros de inadimplentes até 31 de dezembro de 2022.AsrenegociaçõesdaFaixa 2 são realizadas diretamente com os bancos credores.

Já a Faixa 1 começou em outubro e é a principal aposta do governo por ter enfoque no atendimento de pessoas com dívidas de até R$ 5 mil e renda de até dois salários mínimos ou inscritas no CadÚnico. Essas dívidas, bancárias ou não, podem sem parceladas com descontos médios de 83%.

Nesta etapa, podem ser negociadas dívidas com setores como varejo e concessionárias de água e luz. Apesar de haver dívidas com agentes de fora do mercado financeiro, os bancos são usados no processo e principalmente no parcelamento dos débitos. Por isso o governo recorreu ao setor para fazer o programa deslanchar. Técnicos da pasta ofereceram treinamento para as equipes de comunicação dos bancos para ajudar no processo. O governo espera que o “Dia D” hoje inicie um movimento que prossiga para estimular a negociação de contratos em atraso.

Com o mutirão de hoje, as instituições financeiras aumentarão o horário de atendimento nas agências e vão oferecer suporte personalizado. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal vão abrir uma hora mais cedo.

Foi essa fase que poderia chegar a mais de 30 milhões de pessoas e atendeu, hoje, menos de 1 milhão. Desde a última segunda-feira, dívidas de até R$ 20 mil também podem ser parceladas.

Somadas as duas fases, foram 2,94 milhões de pessoas atingidas —além de 6 milhões de brasileiros que tiveram dívidas de até R$ 100 retiradas dos registros de negativados.

O presidente Lula chamou ontem o ministro Fernando Haddad para participar de sua

live semanal e divulgar o programa e o mutirão.

—Não tenha medo, não tenha vergonha de conversar com alguém sobre sua dívida. Procure o banco e discuta com seriedade que você vai sair do banco de cabeça erguida, com o nome limpo na praça —disse o presidente.

Durante a transmissão ao vivo, Lula fez questão de elogiar o trabalho de Haddad à frente da Fazenda:

— A seriedade que o companheiro Haddad deu ao Ministério da Fazenda faz com que a gente vá conquistando credibilidade interna, credibilidade externa, e o mercado vai percebendo que esse país deixou de brincar. Porque esse país, há muito tempo, não era levado a sério.

Haddad convocou as pessoas a participarem:

—Não tema se desenrolar, mesmo que você não tenha o valor à vista para pagar. Pega o desconto, porque você vai fazer uma nova dívida 80%, 90% menor e limpar o seu nome.

ACESSO À PLATAFORMA

As etapas de verificação da conta do site Gov.br e dificuldades de acesso à plataforma são alguns dos fatores que explicam a baixa adesão na atual fase do programa, na visão da Fazenda. As negociações são feitas exclusivamente por meio digital, sendo necessário ter uma conta Gov.br, com certificação de segurança nível prata ou ouro.

Segundo especialistas, esse resultado frustrante, e o cenário de orçamento familiar ainda apertado, pode reprimir o consumo, reduzindo a atividade econômica e contribuindo negativamente para o resultado do PIB.

— A ideia do Desenrola é reintegrar mais pessoas à economia formal, porque, com o nome limpo, elas conseguem consumir a prazo e até ofertar trabalho de forma mais eficiente. Vamos entregar um crescimento bem mais baixo no ano que vem, e a baixa adesão ao Desenrola colabora para isso — diz Beto Saadia, economista da Nomos.

Nos meses de agosto e outubro, o número de inadimplentes, segundo a Serasa, voltou a subir, depois da primeira queda no ano, em julho. Atualmente, são 71,9 milhões de brasileiros nessa situação. Para Graziela Fortunato, professora da Escola de Negócios da PUC, a falta de campanhas claras sobre como usar a plataforma do governo foi um dos principais entraves à adesão ao Desenrola:

— As pessoas não sabem sobre o que é o programa. Nem todas conseguem acessar a plataforma, que trava bastante e exige um selo especial no Gov.br para o acesso. O governo não fez campanhas suficientes para informar os brasileiros.

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2023-11-22T08:00:00.0000000Z

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