Blinken afirma a Lula divergência dos EUA na comparação entre Gaza e Holocausto
Secretário de Estado americano se reuniu com presidente brasileiro no Planalto, e os dois países elogiaram encontro
ELIANE OLIVEIRA E ALICE CRAVO
Em encontro com o presidente Lula em Brasília, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reafirmou a divergência do governo dos Estados Unidos sobre a comparação feita pelo brasileiro no domingo entre a ação militar de Israel em Gaza com o Holocausto. As diplomacias de Brasil e Estados Unidos elogiaram a reunião, em que se discutiram alternativas em busca de uma resolução do conflito em Gaza, com a libertação de reféns israelenses e a ampliação da ajuda humanitária aos palestinos. Também foram temas do encontro a guerra na Ucrânia e as situações de Venezuela e Haiti, além do combate à fome e ao desmatamento na Amazônia e a urgência da transição energética. Blinken classificou como “ótima” a conversa e ressaltou a “amizade” entre os dois países.
Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ontem, por quase duas horas, com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, que veio ao Brasil para a cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Na conversa, que abordou vários temas, o chefe da diplomacia dos EUA reiterou ao presidente a discordância de Washington da comparação que Lula fez sobre a ofensiva de Israel em Gaza ao Holocausto, o extermínio de judeus pela Alemanha de Hitler na Segunda Guerra. A comparação gerou uma crise diplomática entre Brasil e Israel.
Os dois também defenderam a criação de um Estado palestino. A chamada solução de dois Estados é uma bandeira histórica da diplomacia brasileira e também é defendida pelos EUA. Segundo um comunicado divulgado pelo Palácio do Planalto, Lula reafirmou seu desejo pela paz e o fim dos conflitos na Ucrânia e Gaza.
DIVERGÊNCIA DE VERSÕES
Após o encontro, os governos brasileiro e americano divergiram sobre uma informação referente à crise diplomática entre Brasil e Israel. O portavoz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse, em Washington, que Blinken expressou a Lula sua discordância em relação à fala do presidente.
—O secretário teve a oportunidade de discutir os comentários com o presidente Lula hoje [ontem], na sua reunião, no contexto da discussão ampla sobre o conflito em Gaza. E deixou claro, como eu fiz ontem [terça-feira], que são comentários com os quais não concordamos —disse Miller.
Segundo relatos, o secretário de Estado deu um depoimento de cunho pessoal a Lula: mencionou a história de seu padrasto, Samuel Pisar, sobrevivente de campos de concentração nazista. Pisar era criança quando foi mandado a Auschwitz, o mais famoso dos campos de concentração na Polônia.
O Palácio do Planalto, porém, disse que em nenhum momento a declaração de Lula esteve em pauta. O governo brasileiro afirma que houve discordância sobre Gaza, mas não sobre a declaração.
— O secretário de Estado deu sua visão sobre o Holocausto. Lula não comentou, até porque não foi preciso. Não havia o que contestar. Blinken disse, em seguida, que não achava que o que está ocorrendo em Gaza seja genocídio. Lula expressou sua opinião sobre a matança de civis, sobretudo mulheres e crianças, na Palestina e frisou a necessidade de um cessar-fogo para pôr fim à tragédia humanitária. Não houve debate ou contestação —disse o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, ao GLOBO.
Outros temas discutidos foram a situação na Venezuela e no Haiti, a guerra na Ucrânia, o meio ambiente, a presidência brasileira do G20 e a reforma da governança global. No fim do encontro, Blinken declarou à imprensa que os dois países vão “trabalhar juntos”:
— Foi uma ótima reunião, estou muito grato ao presidente pelo seu tempo. Foi uma ótima reunião e EUA e Brasil estão fazendo importantes coisas juntos. Estamos trabalhando juntos bilateralmente, regionalmente, globalmente. É uma parceria importante e somos gratos pela amizade.
Antony Blinken, conforme nota da Embaixada dos EUA, falou sobre o envolvimento americano no conflito em Gaza entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Enfatizou os trabalhos para facilitar a libertação de todos os reféns nas mãos do grupo extremista e a assistência humanitária aos civis palestinos.
Blinken ainda agradeceu a Lula pela participação no processo da Fórmula da Paz para tentar acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia. E citou o lançamento de uma iniciativa global, sob o comando de Lula e o presidente dos EUA, Joe Biden, em defesa dos direitos dos trabalhadores.
A nota do governo americano diz, ainda, que Blinken expressou o compromisso dos EUA de fazer parceria com o Brasil na agenda da presidência do G20, especialmente no combate à fome e à pobreza, na mobilização contra a crise climática e na reforma da governança global — tema prioritário na reunião de chanceleres das maiores economias do mundo que acontece no Rio.
ELOGIOS POR MEDIAÇÃO
Blinken fez elogios a Lula por seu papel na redução das tensões entre a Guiana e a Venezuela na região de Essequibo —área rica em petróleo reivindicada por Caracas. Reforçou a posição, dos EUA e do Brasil, para que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, “retorne à implementação do acordo do roteiro eleitoral de Barbados para garantir eleições presidenciais competitivas em 2024”, diz a nota.
O secretário de Estado reconheceu o “apoio de longa data” do Brasil ao povo do Haiti. Reiterou a “necessidade urgente" de assistência internacional para melhorar o situação de segurança no Haiti.
Blinken enfatizou o compromisso do Brasil de acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030.
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