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Após fuga inédita, governo ordena pente-fino nas 5 prisões federais

Dois criminosos do Acre escapam da cadeia de Mossoró (RN), e PF investiga facilitação

ALFREDO MERGULHÃO, ARTHUR LEAL, BERNARDO LIMA, EDUARDO GONÇALVES, LUIS FELIPE AZEVEDO E PÂMELA DIAS brasil@oglobo.com.br RIO E BRASÍLIA (com informações do g1)

Dois bandidos do Acre escaparam ontem do presídio de segurança máxima de Mossoró (RN), na primeira fuga registrada nos 18 anos do Sistema Penitenciário Federal. O Ministério da Justiça afastou a diretoria e determinou um interventor na unidade. A Polícia Federal investiga se a saída dos presos por uma abertura no teto das celas foi facilitada. A prisão passa por obras. Também foi determinada uma revisão completa de equipamentos e protocolos nas cinco cadeias federais, que abrigam criminosos famosos e de alta periculosidade. É a primeira crise enfrentada pelo ministro Ricardo Lewandowski, que deverá prestar esclarecimentos à Câmara dos Deputados.

Afuga de dois presos da Penitenciária de Segurança Máxima de Mossoró (RN) na madrugada de ontem, uma falha inédita no sistema de cinco presídios que o governo federal administra, tornou-se a primeira crise da gestão do novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento teriam escapado por uma abertura no teto das celas e a Polícia Federal apura se houve facilitação par a a fuga.

Os dois teriam escapado por volta das 3h, mas os policiais penais só perceberam a ausência dos presos duas horas depois. O presídio passava por uma reforma na divisão do pátio de banho de sol, e a PF apura se algum dos equipamentos da obra foi usado.

IMAGENS ANALISADAS

A principal suspeita levantada até agora é de que houve facilitação para que os dois fugissem. A PF analisa as imagens das câmeras de vigilância, que ficam armazenadas numa sala de controle da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), em Brasília.

Rogério e Deibson estavam no presídio há quatro meses. Os dois são ligados à facção Comando Vermelho, que tem um de seus principais líderes também preso em Mossoró: Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Ele foi transferido para a unidade em janeiro.

Os fugitivos foram levados para a penitenciária em 27 de setembro do ano passado, por terem, em julho, participado de uma rebelião no presídio estadual de segurança máxima Antônio Amaro Alves, no Acre, em que cinco detentos foram executados. Três deles foram decapitados.

Deibson responde a 34 processos no Acre, por crimes como formação de quadrilha, tráfico de drogas e roubo. Rogério responde a mais de 50 processos por homicídio qualificado, roubo e violência doméstica, entre outros delitos.

Deibson estava preso desde agosto de 2015 e já havia passado pelo presídio federal de Catanduva (PR). A Justiça do Acre o definiu como um criminoso de “alta periculosidade”. Rogério, conhecido como Querubim, Chapa ou Cabeça de Martelo, tem uma suástica tatuada em uma das mãos e é considerado “extremamente frio”.

SEM GOL E SEM COZINHA

Diferentemente dos presídios estaduais, as unidades federais têm um maior controle do uso de objetos e do cotidiano dos presos. Elas não possuem aparelhos de academia ou traves de gol nem cozinhas. As refeições são produzidas fora do presídio. As áreas de banho de sol são cobertas por uma tela de aço para impedir o acesso de helicópteros e drones.

Cada preso recebe uma caneta desmontada. A lâmina de barbear é fornecida, mas precisa ser devolvida em seguida. As celas são revistadas todos os dias na hora em que os detentos saem para o banho de sol —assim como os presos.

Eles têm o direito de manter na cela livros e fotos de parentes, mas não podem fumar nem usar nada que envolva fogo. As celas têm chuveiros, mas a água para o banho dura cinco minutos.

As unidades têm a mesma estrutura entre si. A única diferença é na penitenciária federal de Brasília, que possui uma muralha de concreto de 11 metros à prova de balas calibre .50, capazes de derrubar helicópteros.

O Sistema Penitenciário Federal (SPF) foi criado no segundo mandato do governo Lula, em 2006, como uma resposta do Estado a uma série de rebeliões ocorridas naquele ano. Presos filiados a uma facção paulista organizaram um levante em 74 penitenciárias do Estado e ordenaram ataques a policiais, agentes penitenciários e delegacias.

Inaugurada em 2009, o presídio federal de Mossoró é o único que fica no Nordeste. A penitenciária já abrigou o traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, atualmente na Penitenciária Federal de Campo Grande, e Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados de matarem a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.

Outro criminoso que esteve na unidade foi Orlando Curicica. O ex-policial militar, que seria chefe de uma milícia na Zona Oeste, foi transferido quando surgiram suspeitas de seu envolvimento também na morte da vereadora Marielle e de Anderson Gomes, hipótese que depois foi descartada .

O novo chefe da Senappen, André Garcia, desembarcou ontem à noite no estado para acompanhar as buscas. A Polícia Rodoviária Federal e as polícias do Rio Grande do Norte também ajudam na procura. As polícias militares da Paraíba e do Ceará foram acionadas para reforçar a segurança nas divisas.

Lewandowski ordenou a mobilização das Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado, que reúnem equipes da PF e das polícias estaduais, na busca. O Ministério da Justiça pediu a inclusão dos nomes dos dois no Sistema de Difusão Laranja da Interpol e no Sistema de Proteção de Fronteiras. Com isso, eles serão procurados também em outros países.

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2024-02-15T08:00:00.0000000Z

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