Infoglobo

Juros caem 0,5 ponto, e Copom sinaliza manter ritmo de queda

BC defende manutenção da meta fiscal e vê chance de redução de preços no país

ALVARO GRIBEL alvaro.gribel@oglobo.com.br BRASÍLIA E RIO (Colaborou Letycia Cardoso)

A primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central confirmou a esperada queda de 0,5 ponto percentual na Taxa Selic, agora em 11,25%, e sinalizou para novas baixas dos juros no mesmo ritmo ao menos nos próximos dois encontros. A decisão foi unânime. O comunicado do BC alerta ainda para uma possível “persistência” da inflação mundial, mas avalia que uma desaceleração da economia global pode ajudar na queda de preços no país. A projeção do mercado financeiro para a inflação de 2024 é de 3,81%. A meta é 3%, mas com intervalo de 1,5 ponto.

Em sua primeira reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu ontem a Taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano, o menor patamar desde março de 2022. No comunicado da decisão, que foi unânime, o BC indicou que o ritmo de queda da taxa básica de juros será mantido nas “próximas reuniões”. Isso significa pelo menos mais duas reduções de 0,5 ponto, nos encontros de março e maio, o que levaria a Selic a pelo menos 10,25%.

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o texto.

A decisão de cortar os juros em 0,5 ponto já havia sido sinalizada pelo Copom na última reunião do ano passado e era amplamente esperada pelo mercado. Esta foi a quinta redução consecutiva da taxa, que começou a cair na reunião de agosto de 2023, depois de permanecer por quase um ano em 13,75%.

O comunicado do BC é semelhante ao divulgado após a reunião de dezembro, mesmo com novos indicados para o colegiado. Os novos diretores são Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira, que assumiram seus cargos no dia 2 deste mês e participaram do Copom pela primeira vez ontem. Os indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no BC agora são quatro (considerando Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino Santos), de um total de nove membros da diretoria (o que inclui o presidente Roberto Campos Neto).

DEFESA DA META

Entre os trechos que o Copom decidiu manter no texto divulgado nesta quarta, está uma defesa da manutenção das metas fiscais já estabelecidas. O governo determinou como objetivo zerar o déficit nas contas públicas neste ano.

Na visão do economista Luis Otávio Leal, do G5 Partners, o resultado já era esperado, e o comunicado da decisão também reforçou a visão do mercado financeiro de que os cortes seguirão no ritmo de 0,5 ponto:

—Temos já mais dois cortes de 0,5 ponto garantidos, nas reuniões de março e maio. O comunicado foi praticamente uma cópia da decisão de dezembro.

O Banco Central pontuou que há dois fatores de risco que podem dificultar o cenário da inflação. Primeiro, “uma maior persistência da inflação mundial”. Segundo, “uma maior resiliência na inflação de serviços” no Brasil. Por outro lado, o BC entende que a desaceleração da economia mundial poderia ajudar na queda dos preços no Brasil, assim como os efeitos defasados da política monetária, já que a Selic permaneceu bastante elevada durante o ano de 2023.

A inflação oficial do país fechou 2023 com alta acumulada de 4,62%, dentro do intervalo da meta, que era de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

As projeções de inflação do mercado financeiro estão em 3,81% para 2024 e em 3,5% em 2025 e 2026. A meta é de 3%, com intervalo de 1,5 ponto. Embora esteja na tolerância, os números se mantêm acima do centro, por isso, o BC tem receio de acelerar o ritmo de cortes para 0,75 ponto, como deseja o governo Lula e integrantes da equipe econômica.

Outro ponto de preocupação do Banco Central é o risco de crescimento dos empréstimos subsidiados via BNDES, que poderiam diminuir os efeitos da política monetária.

Caio Megale, economistachefe da XP Investimentos, acredita que há espaço para o BC seguir com cortes nos juros, mas sem pressa:

— O mercado de trabalho permanece aquecido, com dados fortes novamente, e desemprego em queda. No mínimo, o BC não precisa ter pressa com os cortes, eles podem ser graduais e tranquilos, para que os juros caiam mais ao longo do tempo. Não vemos ainda razão para mudança na orientação.

FED MANTÉM TAXA

Ontem, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidiu manter a sua taxa de juros inalterada entre 5,25% e 5,5% pela quarta vez seguida. A manutenção era consenso entre os analistas de mercado.

O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou estar gerenciando riscos para não demorar demais para baixar os juros nem cortar a taxa cedo demais.

Powell fez questão de reforçar que não espera ver o enfraquecimento do mercado de trabalho e da atividade econômica. Por outro lado, aguarda dados consistentes sobre a inflação:

— Nós precisamos ter mais evidências que nos deem confiança de que estamos num caminho sustentável para fazer a inflação voltar a 2%.

Para o economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, o BC passou a ter uma visão mais otimista sobre a inflação mundial. Com o comunicado do Fed, Cardoso entende que aumentaram as chances de o ciclo de cortes no Brasil levar a Selic abaixo de 9% até o fim deste ano:

— Ainda que o comunicado tenha tido poucas novidades, quando a gente pega a decisão do Fed como base, a gente pode dizer que a probabilidade de o BC ir abaixo dos 9% aumentou. Por ora, mantemos nosso cenário de a Selic ir a 9%, mas aumenta a chance de ficar abaixo se o Fed de fato começar logo o ciclo (de cortes) — disse.

Primeira Página

pt-br

2024-02-01T08:00:00.0000000Z

2024-02-01T08:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281560885681550

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.