Inflação volta a ficar dentro da meta após dois anos

Cenário de 2024 tem alimentos e serviços como sinal de alerta

A inflação oficial do país fechou 2023 em 4,62%, ficando dentro do teto da meta estipulada pelo governo federal pela primeira vez desde 2020, um dado positivo para a economia. A supersafra de grãos e o câmbio favorável tiveram peso no resultado, avaliam especialistas. Para este ano, os setores de alimentos, sob impacto das mudanças climáticas, e de serviços preocupam.

Ainflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou dentro da meta em 2023 após dois anos de estouro. O índice fechou o ano com alta de 4,62%. Em dezembro, o IPCA acelerou e subiu 0,56%, puxado por alimentos e passagens aéreas. Para 2024, preços de alimentos e serviços são as principais fontes de preocupação e podem fazer o Banco Central (BC) não acelerar o ritmo de queda dos juros.

A meta estabelecida pelo governo, e que orientava a política de juros do BC, era de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo — ou seja de 1,75% a 4,75%.

A perda de força da inflação é tida como uma boa notícia pelos agentes econômicos, que, em janeiro do ano passado, chegaram a projetar um IPCA de 5,48%.

Os preços no país seguiram trajetória de desaceleração. A inflação de serviços cedeu, e houve um alívio maior que o esperado nos preços de alimentos e bebidas.

Para 2024, porém, são justamente estes dois fatores os pontos de preocupação. A produção de alimentos tende a ser afetada pelo El Niño e elevar preços. Além disso, a inflação de serviços em dezembro estava aquecida e aponta que os preços deverão cair em ritmo mais lento, o que pode afastar a chance de o BC acelerar o corte da taxa básica de juros, a Selic.

Para Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, a supersafra de grãos e o câmbio foram os principais elementos que fizeram de 2023 um ano atípico para preços de alimentos — que costumam subir em média 7,5% ao ano e, desta vez, subiram apenas 1%.

—O número de dezembro foi ruim, mas a inflação de 2023 pode ser considerada muito boa e deixa um sinal positivo para frente. A grande incógnita neste ano vai ser o grupo Alimentação e Bebidas —

afirma Leal, que projeta inflação de 4% este ano, já incorporando impactos do El Niño na produção de alimentos.

MENOR ALTA DESDE 2017

Em 2023, o grupo Alimentação e bebidas subiu 1,03% e registrou a menor alta desde 2017. O óleo de soja ficou 28% mais barato no ano passado, seguido do frango em pedaços (-10,12%) e das carnes (-9,37%), segundo o IBGE. Para André Almeida, gerente do IPCA, os alimentos ajudaram a segurar o índice no ano.

Adriano Valladão, economista do Santander, pondera que o país passa por um processo de desinflação bem-sucedido, porém ainda incompleto e desafiador de ser alcançado pelo BC.

— A meta para 2024 é 3% (de inflação), e o BC deveria entregar no centro do intervalo. Tem ainda mais um processo para continuar (a desinflação). A parte mais preocupante são os serviços. A gente ainda vê o setor rodando acima da inflação em 2024, apesar da tendência de desaceleração — afirma Valladão, que espera 3,9% para o IPCA neste ano.

A inflação de serviços cedeu para 6,22% em 2023 e foi a menor desde 2021, mas chegou a mostrar aquecimento em alguns itens em dezembro. O grupo abarca diferentes preços — desde refeições em restaurantes e aluguel, até consultas médicas, mensalidades escolares, passagens aéreas e serviços de beleza.

Já os itens “monitorados” (fixados por governo, agências reguladoras ou estatais) foram considerados os “vilões” em 2023. A gasolina ficou 12% mais cara e puxou a alta de 7,14%deTransportes.Boaparte do aumento se deve à retomada dos impostos federais sobre o produto pelo governo Lula, após o ex-presidente Jair Bolsonaro cortar tributos no período eleitoral, em 2022.

Leal, da G5 Partners, avalia que o BC terá cautela nas próximas reuniões:

—O resultado de hoje diminui a chance de você ter uma aceleração dos cortes, mas não anula os cortes de 0,5 ponto que o BC se propôs .