Infoglobo

CHATGPT CURA A DOR DE CORNO E ENTRA NA DANCINHA DO K-POP

NA ‘METAONDA’ DA VEZ, PRODUTORES CRIAM DUPLA SERTANEJA E GRUPO DE KOREAN POP COM A AJUDA DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: ‘FAZ UM RECADINHO PRA ELA VOLTAR PRA MIM’, DIZ LETRA DE MÚSICA QUE JÁ TEVE 15 MIL STREAMS

RICARDO FERREIRA E BOLÍVAR TORRES segundocaderno@oglobo.com.br make new wave

Tem dupla sertaneja nova na área. Mas João Miguel & Pedro Henrique não vieram dos rincões do Centro Oeste e tampouco estarão nos próximos festivais do gênero pelo país. Os nomes e a imagem da dupla foram criadas por inteligência artificial sob encomenda do músico carioca Diogo Tupinambá, de 28 anos, que compôs e produziu o single de estreia do duo, “Chat GPT”, já disponível nas plataformas digitais.

O sertanejo, vale dizer, não é lá a praia de Diogo, que é fã de rock, blues, country, folk e jazz. Mas bastou sua namorada ouvir com mais frequência Marília Mendonça que ele começou a se interessar pelo gênero. E, então, arregaçou as mangas.

—Comecei a ter umas sacadas, percebi que há uma receita que, se seguida, pode dar um bom resultado — diz o músico, que mora em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio. —Minha ideia não era me lançar como artista sertanejo. Isso já é demais, não sei se conseguiria. Mas gostaria, sim, de ser um compositor de sertanejo, ou de produzir artistas, porque gostei de fazer a música.

‘CÃO ABANDONADO’

A canção “ChatGPT” fala de um rapaz que, claro, sofre pela perda da amada e a quer de volta. Ele recorre à ajuda da inteligência artificial para enviar mensagens à pretendida: “ChatGPT, faz um recadinho pra ela voltar pra mim/ Escreve dizendo que eu ainda tô a fim/ E que o nosso amor ainda não pode acabar”, diz a música que tem mais de 15 mil streams no Spotify, plataforma em que João Miguel & Pedro Henrique registram mais de 12 mil ouvintes desde que surgiram, há três semanas. No TikTok, o vídeo em que Diogo explica todo o processo de concepção da dupla e da música passa de 180 mil visualizações. Ele gravou tudo em casa, tocou violão, guitarra e baixo, chamou um amigo para ajudar nas vozes (afinal, é uma dupla) e usou simuladores para criar bateria, percussão e sanfona. Uma vez concluída, mandou a faixa para um amigo nos EUA mixar. E pronto, era só jogar no mundo.

—Fiquei duas semanas estudando o estilo, numa imersão em vários artistas sertanejos como Zé Neto & Cristiano, Henrique & Juliano e Marília Mendonça. Depois, parei pra escrever a música. Precisava dessa coisa sofrida, meio corno, cachorro abandonado. Várias músicas usam esses termos, como ouvir um áudio, olhar stories, notificações de celular. Tive o insight de usar o ChatGPT como tema. Fiquei muito surpreso com o nível de engajamento, tem muita gente comentando — diz Diogo, que já está trabalhando no próximo single de João Miguel & Pedro Henrique.

A pedido do GLOBO, André Piunti, jornalista especializado em música sertaneja e coautor, com Michel Teló, do livro “Bem sertanejo —a história da música que conquistou o Brasil”, ouviu João Miguel & Pedro Henrique. E gostou:

— Essa música está pronta, totalmente adaptada, poderia fazer sucesso amanhã. O sucesso no sertanejo pode depender de dois aspectos: ou viralizar, que pode ser uma questão de sorte, ou ser fruto de um investimento mesmo, impulsionando no digital, divulgando em rádios etc. É bem interessante e bem assustador saber que a dupla de artistas não existe.

Corta para o outro lado do planeta, onde o grupo sul-coreano de K-pop Mave já registra mais de 1,5 milhão de ouvintes mensais no Spotify. O Mave é resultado de uma mistura de vozes de dubladores reais com outras geradas por inteligência artificial. Seu clipe “Pandora” já ultrapassou 20 milhões de visualizações em cem dias, e seus produtores dizem ao jornal espanhol El País que vem novidade por aí.

Graças à mistura de inteligência artificial, tecnologia 3D, realidade aumentada e síntese de voz, as cantoras virtuais do grupo de K-pop são difíceis de serem distinguidas de um grupo formado por humanos, sobretudo no que se refere a seu canto.

Os produtores criaram os avatares das “cantoras” Siu, Zena, Tyra e Marty. Elas têm entre 19 e 20 anos e cada uma vem de um país diferente, dos EUA à Indonésia, mas todas têm características asiáticas.

Segundo o El País, o nome Mave significa

(criar uma nova onda) ou metaonda, pois o grupo tem a “ambição de criar uma nova onda na cena K-pop durante a era do metaverso”.

PROJETO DE ÍDOLOS REAIS

Sung-Ku Kang, diretor de tecnologia da Metaverse Entertainment, empresa responsável pelo grupo, explicou ao jornal espanhol que o projeto consiste no mesmo planejamento e produção daqueles realizados com grupos ídolos reais.

“Os integrantes da empresa são especialistas em diversas áreas, como videogames, entretenimento, música... E têm um profundo conhecimento de como obter bons resultados e criar personagens queridos”, diz.

Mas o que está além do alcance dos humanos que um grupo de avatares pode oferecer? Kang explica:

“Como um grupo virtual, você pode coreografar em uma velocidade e nível de dificuldade que seria difícil para um cantor real alcançar, e todos os tipos de imaginação podem ser usados ao criar videoclipes”.

Segundo Caderno

pt-br

2023-06-01T07:00:00.0000000Z

2023-06-01T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/282308209486888

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.