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Um hospital para sex toys

GIOVANNA DURÃES* giovanna.duraes@oglobo.com.br * Estagiária sob supervisão de Daniel Biasetto (colaborou Evelin Azevedo)

Em São Paulo, oficina se especializou em consertar brinquedos eróticos, que são enviados de todo o país.

No distrito da Penha, na Zona Leste da cidade de São Paulo, Barthô de Alencar mantém uma oficina erótica, onde repara brinquedos sexuais enviados pelo correio por clientes de todo o Brasil. O que já foi um “hospital de brinquedos infantis”, hoje é o Hospital de Vibradores, anunciado com orgulho pelo dono como o único lugar do país que realiza o reparo de sex toys.

O primeiro vibrador de Barthô chegou por meio de um casal, em 2003. Ao analisar como o aparelho funcionava, ele percebeu que todo o sistema era bem similar aos brinquedos de criança que já consertava há 20 anos e decidiu se aventurar.

—O casal chegou perguntando se eu consertava qualquer tipo de brinquedo, quando vi, tinha um um pênis de borracha no balcão. Levei para a oficina e notei que a mecânica era a mesma de um brinquedo infantil, só que sem a cabeça e os braços. Decidi consertá-lo. A partir desse dia, mandei email para sex shops e recebi um monte de vibradores precisando de reparos. Vi um espaço desocupado no mercado e fui —recorda.

A demanda pelo serviço inusitado foi alta, e segue sendo. Atualmente, com cerca de oito a 12 pedidos novos por dia, o pronto-socorro erótico virou referência para os consumidores e sex shops do país. Apesar da história com os vibradores ter começado nos anos 2000, a antiga oficina, focada em brinquedos infantis, começou a funcionar em 1983, quando Barthô apenas tinha 22 anos.

— Antes de me casar, eu trabalhava em uma empresa ligada à Estrela, a produtora de brinquedos, então recebíamos muitos produtos para manutenção. Até hoje, recebo muitos brinquedos, mas nem se compara à quantidade de vibradores —relembra o empreendedor.

Hoje, com 62 anos, Barthô vê seu negócio decolar, especialmente depois da pandemia. Segundo ele, todo dia em torno de 30 a 40 pessoas entram em contato com o perfil do Hospital de Vibradores nas redes sociais. Com mais de cem “atendimentos” por mês, e um valor médio de R$ 50 a R$ 200 por “consulta”, a oficina já conta com uma equipe de funcionários e duas sedes: uma em Osasco, voltada somente para brinquedos infantis, e outra na Penha, conhecida como a oficina erótica.

NOVOS TEMPOS

Ao longo de duas décadas, Barthô percebeu também uma mudança no comportamento dos clientes em relação aos brinquedos eróticos. Uma virada que reflete um novo pensamento em torno da aceitação e da interpretação do que é prazer, individualmente ou na relação.

—Antigamente, as pessoas ligavam para a oficina e tinham vergonha de falar de vibrador, era um “produtinho meio esquisitinho” ou um “brinquedinho diferente”. Hoje todo mundo vem aqui na oficina tranquilamente, tenho clientes que, inclusive, viraram meus amigos — conta Barthô. —O público dos vibradores é bem legal. Tenho mais clientes mulheres do que homens, e mulheres empoderadas, que se conhecem de verdade. Trabalhar com isso ajudou até minha esposa. Quando comecei ela estranhou, mas hoje ela me ajuda, assim como minha família. É a minha profissão.

Outra mudança recente foi dos itens mais encaminhados para a “lanternagem” na oficina. Se antes os mais populares eram os clássicos pênis “de mentira”, hoje brotam aos montes os dispositivos menores, especificamente desenhados para a genitália feminina, considerados uma revolução no campo do autoprazer.

—Costumava-se usar muito aqueles vibradores realistas, que são parecidos com um pênis. Hoje em dia a mulherada usa mais os sugadores de clitóris, os modelos que têm texturas, que massageiam. São os que eu mais conserto —revela Barthô.

A higiene é parte importante do trabalho. Ele explica que sempre que recebe um novo brinquedo faz uma limpeza com álcool, que se repete na hora de devolver o item. Em seguida os vibradores voltam para a caixa original ou são protegidos com uma embalagem plástica.

Especialistas, no entanto, não recomendam o uso frequente de álcool para higienizar apetrechos eróticos. Na maior parte das vezes, água e sabão neutro são as opções mais indicadas.

“Antigamente, as pessoas ligavam para a oficina e tinham vergonha de falar de vibrador, era um ‘produtinho esquisitinho’. Hoje todos vêm tranquilamente”

“A mulherada agora usa mais os sugadores de clitóris, são os que eu mais _ conserto”

Barthô de Alencar, dono de oficina de produtos eróticos

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2023-06-01T07:00:00.0000000Z

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