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Tensão étnica leva Otan a enviar mais 700 soldados a Kosovo

Violência eclodiu após comunidade sérvia contestar eleições regionais

BRUXELAS, MOSCOU E PRISTINA

AOrganização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou na terça-feira o envio de 700 soldados adicionais para Kosovo, em resposta à violência que eclodiu nos últimos dias no norte do país dos Bálcãs. A comunidade sérvia, majoritária na região, entrou em confronto com as forças de segurança em protestos que contestavam o resultado das eleições regionais em cidades próximas à fronteira com a Sérvia.

— Decidimos alocar 700 soldados adicionais da força de reserva operacional para os Bálcãs Ocidentais e também deixar em alta prontidão um batalhão adicional de forças de reservas que poderá ser acionado caso necessário —disse em entrevista coletiva Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan.

Desde segunda, 30 soldados da aliança militar ficaram feridos. Os manifestantes se concentram em frente à prefeitura de Zvecan, na parte sul do país, onde autoridades impedem o seu acesso. Ao menos 50 deles ficaram feridos, três gravemente.

As tensões despertam temores de uma escalada da violência na região, palco de um conflito que deixou cerca de 13 mil mortos no final dos anos 1990, já na fase final do esfacelamento da Iugoslávia. Desde o fim da guerra, a Otan estabeleceu uma missão no país que hoje conta com aproximadamente 3.770 militares.

INTERFERÊNCIA DE MOSCOU

Moscou cobrou ontem respeito aos direitos dos sérvios em Kosovo. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertou para “ações provocativas” contra os direitos dos sérvios, expressando a preocupação do governo russo com os conflitos na região.

— Acreditamos que todos os direitos e interesses legítimos dos sérvios de Kosovo devem ser respeitados — disse o porta-voz a repórteres. —Expressamos nosso apoio incondicional à Sérvia e aos sérvios.

A situação de Kosovo, que tem sido tensa há anos, piorou gradualmente nas últimas semanas depois que a comunidade sérvia boicotou as eleições municipais de abril em quatro cidades do norte, onde são maioria. Prefeitos albaneses foram eleitos no pleito, mas o índice de comparecimento às urnas foi inferior a 3,5%. As autoridades, consideradas ilegítimas pelos sérvios, tomaram posse na semana passada, no que foi o estopim para as manifestações.

Os atritos entre sérvios e kosovares albaneses, no entanto, remontam a séculos. Para os sérvios, a região é parte central de seu Estado, palco de uma batalha em 1389 contra o Império Otomano que nacionalistas veem como um marco. A área abriga também símbolos importantes da sua história, como monastérios cristãos ortodoxos. No entanto, entre os 1,8 milhão de kosovares, apenas cerca de 120 mil são etnicamente sérvios — a maciça maioria é de albaneses étnicos.

ORIGEM DO CONFLITO

As divergências se intensificaram após a morte do arquiteto da Iugoslávia, o marechal Josip Broz Tito, em 1980. A ascensão de Slobodan Milosevic à Presidência da Sérvia em 1989 foi a gota d’água para os movimentos que buscavam mais autonomia para os albaneses. Nos primeiros meses de governo, ele instaurou medidas que deixaram desempregados milhares de cidadãos e restringiram sua cultura.

Em resposta, os albaneses criaram um movimento encabeçado pela Liga Democrática de Kosovo. O movimento ganhou amplo apoio popular: em uma pesquisa de 1995, 43% dos kosovares de etnia albanesa queriam se juntar à Albânia, e os outros 57% desejavam a independência. No ano seguinte surgiu o Exército da Libertação de Kosovo, que entrou em confrontos sangrentos com os sérvios.

Tentativas de cessar-fogo foram malsucedidas, e Milosevic respondeu com um programa de limpeza étnica. Após negociações fracassarem, a Otan bombardeou a Sérvia em março de 1999 sem o aval do Conselho de Segurança da ONU. Um acordo de paz foi firmado meses depois, estabelecendo a saída de tropas e o retorno dos refugiados à região, que ficaria sob controle da ONU.

Kosovo declarou independência em 2008. Sua soberania é reconhecida por mais de 100 países, incluindo o Brasil. Belgrado, contudo, nunca o fez, assim como cinco integrantes da União Europeia, China e Rússia.

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