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Rússia cobra Otan após ataque a drone em Moscou

Autoridades se manifestaram após aparatos inimigos serem empregados em área civil da capital, enquanto bloco militar ocidental não tem um posicionamento unificado sobre as incursões contra o território russo

OKremlin e autoridades do governo russo acusaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de promover uma guerra contra o país, após os mais recentes ataques contra Moscou na terça-feira. Um dia depois de drones atingirem alvos civis na capital, representantes da alta cúpula da burocracia russa miraram o Ocidente ontem, principalmente os Estados Unidos e o Reino Unido, a quem atribuíram responsabilidade pela ofensiva dentro de suas fronteiras.

Vários sinais partiram das autoridades russas. O portavoz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que Moscou “teria preferido ouvir ao menos algumas palavras de condenação” sobre o ataque partindo das capitais ocidentais, ponderando que o país vai “calma e deliberadamente” pensar em como lidar com esse novo cenário.

‘INCENTIVO A TERRORISTAS’

Anatoly Antonov, embaixador russo em Washington, disse que a recusa da Casa Branca em condenar abertamente os ataques “é um encorajamento para os terroristas ucranianos”, enquanto o vicepresidente do Conselho de Segurança Nacional, Dmitri Medvedev, ex-presidente que se notabilizou por apresentar as posições mais extremistas de Moscou desde o começo da guerra, disse que qualquer funcionário britânico “pode ser considerado um alvo militar legítimo”, pelo papel do Reino Unido na guerra.

“Hoje, o Reino Unido atua como aliado da Ucrânia, fornecendo-lhe ajuda militar na forma de equipamentos e especialistas, ou seja, lidera de fato uma guerra não declarada contra a Rússia. Sendo assim, qualquer um de seus funcionários públicos (seja militar, seja civil, que facilite a guerra) pode ser considerado um alvo militar legítimo”, escreveu Medvedev em uma publicação no Twitter, em resposta a uma declaração do secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly.

O chefe da diplomacia do Reino Unido, que se negou a comentar diretamente os ataques a drone contra alvos civis russos, afirmou que a Ucrânia “tem o direito de projetar força além de suas fronteiras para minar a capacidade da Rússia de projetar força na própria Ucrânia”, o que foi rebatido com veemência por Medvedev.

“As apatetadas autoridades do Reino Unido, nosso eterno inimigo, devem lembrar que dentro da estrutura da lei internacional universalmente aceita que regula a guerra moderna, incluindo as Convenções de Haia e Genebra com seus protocolos adicionais, seu Estado também pode ser qualificado como estando em guerra”, escreveu.

Embora autoridades ocidentais tenham se negado a condenar os ataques ao território russo, alguns aliados de dentro da Otan pediram cautela sobre o tema, em meio a preocupações de que uma potencial escalada possa arrastá-los para uma guerra mais ampla.

Os EUA, que em diversos momentos apresentaram contrariedade ao uso das armas cedidas a Kiev contra o território russo, não condenam os ataques, defendendo ser uma escolha da Ucrânia atacar ou não a Rússia. A posição é similar à da França, que apoia o direito da Ucrânia de se defender, embora diga que os equipamentos e armamentos franceses enviados a Kiev não devem ser usados para atacar a Rússia. Uma autoridade francesa ressalvou, porém, que se a Ucrânia quiser fazer mais com suas próprias forças, não cabe à França ditar a Kiev como conduzir esta guerra.

Outro diplomata europeu disse que os aliados tendem a não discutir a questão porque ela é divisiva.

ATAQUES NA FRONTEIRA

A Rússia enfrenta ataques menores em seu próprio território há meses, incluindo os desta semana, quando disse que cinco drones direcionados a Moscou foram abatidos e três interceptados por interferência eletrônica.

Regiões perto da Ucrânia foram atacadas repetidamente nas últimas semanas, com autoridades ordenando que alguns moradores da área de Belgorod deixassem suas casas. Um ataque de drone causou um incêndio na refinaria de petróleo de Afipsky, na região de Krasnodar, no sul da Rússia, disse o governador local em seu canal Telegram na quarta-feira.

—Tudo isso que está acontecendo agora dentro da Rússia é extremamente difícil de avaliar —disse o ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Pekka Haavisto, em entrevista em Oslo ontem, antes de duas reuniões de seus colegas da Otan. —É um movimento de resistência dentro da Rússia tomando iniciativa? Vem de fontes externas? Nossa abordagem quando estamos dando armas à Ucrânia, é que defendam seu próprio território, retomando alguns que foram ocupados pela Rússia e assim por diante, e esse é, obviamente, o objetivo de nosso apoio militar.

‘ESCOLHAS OPERACIONAIS’

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, relutou em falar sobre o uso de armas ocidentais para atacar a Rússia em entrevista a repórteres no dia do ataque a drone.

— As escolhas operacionais sobre como usar as armas devem ser feitas pelos próprios ucranianos — disse Stoltenberg. — Existem escolhas difíceis.

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, disse à CNN ontem que, uma vez que Washington forneça sistemas aos ucranianos, eles decidem o que fazer com as armas.

— Agora, eles nos deram garantias de que não usarão nosso equipamento para atacar dentro da Rússia. Mas uma vez que [o armamento] vai para eles, pertence a eles —disse Kirby

Os EUA abandonaram no mês passado sua relutância em permitir que aliados treinem pilotos ucranianos em caças F-16. O presidente Joe Biden disse ter recebido garantias do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de que Kiev não usaria as aeronaves para entrar em território russo. Por outro lado, autoridades americanas têm impedido o envio do Sistema de Mísseis Táticos do Exército, por sua capacidade de atingir o território russo.

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2023-06-01T07:00:00.0000000Z

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