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‘CHATGPT MUDARÁ COMO AVALIAMOS AS PESSOAS’

Jeff Manggioncalda / CEO DA COURSERA Executivo de educação mostra otimismo com as ferramentas de IA, mas admite que, em alguns casos, pode haver prejuízo ao pensamento crítico

RENNAN SETTI rennan.setti@oglobo.com.br Este texto foi originalmente publicado na coluna de negócios Capital, no site do GLOBO: blogs.oglobo.globo.com/capital

Enquanto professores de todo o mundo sinalizam temor ou cautela com o ChatGPT, o CEO da gigante da educação Coursera, Jeff Manggioncalda, não esconde seu entusiasmo com a inteligência artificial, que vê como um divisor de águas na educação. Ele esteve no Brasil na semana passada.

Como as ferramentas de IA vão impactar o rol de habilidades exigidas dos profissionais?

As pesquisas já deixaram claro que a IA generativa (capaz de gerar conteúdo de texto e imagem) terá um impacto profundo nas profissões. Falando apenas no ChatGPT, com sua integração a diversos softwares, todo mundo que usa a linguagem de algum modo no trabalho terá essa ferramenta à mão. Será uma espécie de “calculadora para escrita” que ajuda a pensar e expressar ideias mais rapidamente. Todos os empregos serão impactados, mas os do universo da mídia serão ainda mais.

E como isso impacta o negócio da própria Coursera?

Acabamos de criar o “Coursera Coach”. É um chat ao qual você pode pedir, por exemplo: “Explique essa aula em termos simples.” A ferramenta “lê” toda a aula e faz um resumo. E você pode continuar conversando com ele, que faz as vezes de um coach personalizado. E, em vez de procurar informações em toda a internet, sua principal fonte é o conteúdo do curso. Além disso, é uma ferramenta que aumenta a acessibilidade. Você pode falar com ele na língua que quiser. Mesmo que o curso seja em inglês com legendas, o assistente pode explicá-lo em português, por exemplo.

Ele é baseado no ChatGPT?

Ele usa a tecnologia da OpenAI. Ou seja: é basicamente como o ChatGPT. Mas suas respostas são baseadas no curso, como se fosse um tutor. Está sendo implementado aos poucos. Imagino que estará disponível para todos nos próximos dois meses.

Quais as outras possíveis aplicações da IA?

Temos 5,8 mil cursos na plataforma, mas apenas 280 estão em português do Brasil. Usaremos a IA para traduzir 2,7 mil cursos até o fim do ano. A IA também vai nos ajudar na criação de cursos. Se um parceiro quiser criar cursos personalizados, ele poderá misturar seu próprio conteúdo com o que já temos na plataforma.

Muitas universidades estão proibindo o ChatGPT...

Há alunos trapaceando com o ChatGPT. Se a maneira como você avalia alguém é baseada em sua produção textual, você não sabe mais se quem escreveu foi ele ou o ChatGPT. Acho que vamos mudar para um mundo em que avaliamos as pessoas de maneira diferente. Se você pensar como avaliamos habilidades matemáticas, o professor quer ver como você desenvolveu a conta até chegar à resposta final. Até o surgimento do ChatGP, a própria escrita era entendida como o caminho do seu raciocínio lógico. Agora não mais. Os professores vão se concentrar mais no seu processo de pensamento do que no texto final. E já há professores que pedem aos alunos para escrever sobre determinados assuntos com o ChatGPT, mas querem ver como eles usam a ferramenta, que perguntas fazem.

Essa mudança será para logo?

Não é fácil, será um grande desafio. Mas esse processo interativo já acontece há muito tempo. Para conseguir um título de PhD, você tem de defender sua tese diante de uma banca. Com o assistente virtual, nossa ideia é que ele faça perguntas para saber se você está entendendo o curso.

O senhor não teme os efeitos negativos da IA?

Tenho um medo moderado. Se as pessoas são preguiçosas, elas podem delegar seu pensamento ao ChatGPT. Grande parte do pensamento se dá durante o processo de escrita. Sem escrever, eu não conecto muitos conceitos importantes. Sem isso, as pessoas podem prejudicar o desenvolvimento do seu pensamento crítico —e justamente quando a IA pode criar informações falsas para manipular as pessoas, tornando o pensamento crítico ainda mais necessário! Mas o que mais me preocupa é o risco de uma IA suficientemente inteligente começar a controlar sistemas como os de energia, transporte, armas...

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2023-06-01T07:00:00.0000000Z

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