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Guarulhos enfrenta problemas operacionais

Com demanda abaixo do período pré-pandemia, terminal tem filas e defasagem de mão de obra, no momento em que Galeão vive crise

IVAN MARTÍNEZ-VARGAS ivan.martinezvargas@edglobo.com.br SÃO PAULO

Principal origem e destino de voos internacionais do país, o Aeroporto Internacional de Guarulhos tem registrado problemas operacionais devido à sobrecarga de equipes e procedimentos implementados nos últimos anos, de acordo com funcionários de solo e pilotos ouvidos pela reportagem. Apesar de ter atualmente uma demanda por voos internacionais menor do que a de 2019, Guarulhos enfrenta entraves conjunturais no momento em que o Galeão, porta de entrada do turista estrangeiro no Brasil, enfrenta uma crise que se arrasta há meses, mas sem solução à vista.

No período de janeiro a abril, o país registrou 18,75% menos passageiros em rotas internacionais do que em igual período de 2019, antes da pandemia. No Galeão, a crise é mais aguda do que na média nacional: o fluxo de passageiros foi 25% inferior ao registrado no mesmo período de 2019. No quesito decolagens internacionais, o Galeão registrou, de janeiro a abril, 27,9% menos saídas do que nesses meses de 2019.

Guarulhos não recuperou os níveis de demanda anteriores à pandemia, mas tem números melhores, embora com gargalos operacionais. Em número de passageiros em rotas internacionais, opera 12,9% abaixo dos níveis de 2019. Já em relação a decolagens internacionais, 14,05% a menos. Segundo pilotos e funcionários de solo, há problemas como inspeções de tripulantes e defasagem de mão de obra. Mesmo assim, o terminal manteve-se em 2022 como o único aeroporto brasileiro no ranking dos 50 megahubs da base de dados OAG.

Rodrigo Maciel, presidente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos (SindiGru), diz que há defasagem na reposição de funcionários de solo desde a pandemia.

— O Galeão está praticamente inoperante no terminal internacional. Aqui em Guarulhos, as empresas tiveram um aumento significativo pela demanda de voos, mas não retomaram a reposição dos postos de trabalho na mesma intensidade. Isso gera uma sobrecarga de trabalho —afirma ele.

FALTA DE PROFISSIONAIS

A estimativa da entidade é que exista um déficit de cerca de 20% no número de vagas no local. Nesta semana, O GLOBO verificou em Guarulhos filas nos guichês de check-in de duas grandes companhias aéreas europeias no Terminal 3. Das 15 janelas disponíveis, havia funcionários em apenas dez. As filas duravam cerca de 40 minutos.

— Temos recebido denúncias de falhas e incidentes que são causados por falta de profissionais. Além disso, temos visto um achatamento de salários —diz Maciel.

No mundo todo, a procura por voos após a pandemia recupera-se de maneira mais acelerada em rotas domésticas, enquanto a normalização é mais lenta no segmento internacional.

No Brasil, o cenário é similar, mas a alta nos preços das passagens, influenciada por reajustes no querosene de aviação (o QAV, usado em aeronaves de transporte regular de passageiros), tem sido apontada por executivos do setor como fator limitante à retomada.

No Rio, o aeroporto internacional passa por um processo de esvaziamento, com premissas previstas no contrato de privatização que nunca foram alcançadas. Em maio, durante audiência na Câmara dos Deputados, o secretário nacional de Aviação Civil, Juliano Noman, disse que passaram pelo Galeão 5,7 milhões de passageiros em 2022, número que equivale a 16% da capacidade total estimada.

Guarulhos tem capacidade de transportar 50,5 milhões de passageiros por ano, mas teve demanda de 16,9 milhões no ano passado, o equivalente a 33,5% da capacidade máxima.

Para Marcus Quintella, da FGV Transportes, ainda há espaço para crescimento de operações tanto em Guarulhos como no Galeão.

—De maneira geral, os terminais têm capacidade ociosa acima da que tinham em 2019. Guarulhos historicamente concentra mais voos porque as companhias aéreas, em especial as estrangeiras, assim decidiram.

OBRAS DE EXPANSÃO

Em nota, a GRU Airport afirma que Guarulhos “concentra cerca de 65% da oferta de longo curso no Brasil, enquanto que Buenos Aires – Ezeiza, Lima e Santiago do Chile têm quase 100% da oferta dos seus respectivos países.”

“Hoje o Brasil está ligado a 13 cidades na Europa, número pequeno para o potencial e o tamanho do país (...). O enfraquecimento do hub pode diminuir ainda mais esse número, em função da perda de competitividade para outros países”, diz a concessionária, acrescentando que trabalha “em obras de expansão para aumento da capacidade de pistas, terminais de passageiros e cargas.”

Economia

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2023-06-01T07:00:00.0000000Z

2023-06-01T07:00:00.0000000Z

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