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Baixa procura por vagas segura taxa de desemprego

Desemprego fica em 8,5% em abril. Cresce o total de pessoas que não buscam trabalho

CAROLINA NALIN E MAELI PRADO economia@oglobo.com.br RIO E SÃO PAULO

Com o incremento do setor de serviços e a redução do número de pessoas procurando vaga no mercado de trabalho, a taxa de desemprego no trimestre encerrado em abril ficou em 8,5%, o menor índice para o período desde 2015, segundo dados do IBGE. Resultado surpreendeu analistas.

Omercado de trabalho brasileiro está menos pressionado em razão da menor procura por vagas e do fôlego do setor de serviços. A taxa de desemprego ficou em 8,5% no trimestre encerrado em abril, um resultado melhor do que o esperado pelos analistas e que representa a menor taxa para o período desde 2015, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE. Em relação ao trimestre anterior, o dado representa estabilidade.

O Brasil ainda tem 9,1 milhões de desempregados em busca de trabalho, patamar próximo ao de oito anos atrás. O número de pessoas ocupadas recuou 0,6%, a 98 milhões de empregados, entre formais e informais.

Segundo especialistas, alguns fatores ajudaram a conter a taxa de desemprego. Há mais gente fora da força de trabalho, ou seja, mais pessoas que não trabalham nem procuram emprego (alta de 1,3% em relação a janeiro), e o IBGE só considera desempregado quem efetivamente busca uma oportunidade no período da pesquisa. Outro ponto citado por especialistas é a resistência do setor de serviços, forte gerador de emprego.

A taxa de participação, indicador que mede a relação entre pessoas que estão ocupadas ou em busca de emprego e o total da população em idade ativa, está em queda há sete meses seguidos. Para Rodolpho Tobler, economista e pesquisador do Ibre/FGV, a menor busca por trabalho é um movimento global pós-pandemia e ganhou novos contornos no Brasil com o aumento das transferências de renda. Em 2022, o Auxílio Brasil passou de R$ 400 para R$ 600, valor que foi mantido pelo Bolsa Família no atual governo.

—Isso não significa que o valor é suficiente para a pessoa não trabalhar. Mas, para muita gente, não faz sentido procurar emprego nessas condições, principalmente em regiões que têm alta informalidade e salário muito baixo —afirmou Tobler.

Para Daniel Duque, a geração de emprego em si avançou pouco:

—Não há nada a ser comemorado, é quase uma estabilidade. O mercado de trabalho está andando de lado, mas há menos gente procurando emprego. E isso puxa a taxa para baixo —disse o especialista ao blog da colunista Míriam Leitão, para quem há uma série de fatores por trás da menor procura por emprego. — Em 2022, o aumento da transferência de renda explica a queda na taxa de participação, principalmente no caso dos mais jovens. Este ano, isso aconteceu de novo, já que a transição não somente garantiu R$ 600 do Bolsa Família, mas também R$ 150 adicionais para crianças e R$ 50 para adolescentes.

De outro lado, no setor de serviços houve aumento de 1,2% na população ocupada em transporte, armazenagem e correio; de 1% no setor de alojamento e alimentação; e de 0,2% no setor de informação e comunicação.

— Os serviços vêm surpreendendo por causa de uma combinação da demanda reprimida de dois anos de pandemia e o aumento da transferência de renda através de programas sociais —afirmou Duque. —O valor das transferências de renda passou de R$ 25 bilhões para quase R$ 150 bilhões ao ano. É um aumento gigantesco que não vai somente para produtos básicos, mas também para serviços.

Para Alessandra Brito, analista do IBGE, a menor busca por trabalho pode indicar uma opção por mais tempo de estudo ou a busca por um concurso público. Outra alternativa é a pessoa ter uma fonte de renda, como aposentadoria, Bolsa Família ou aluguel.

RENDIMENTO ESTÁVEL

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, diz que uma vez que a população volte a procurar uma vaga, a taxa de desemprego tende a subir:

—A queda na taxa de desemprego não está se dando pelo avanço da ocupação, mas pela diminuição do número de pessoas procurando emprego. Daqui para a frente, deveremos ver uma redução da taxa de ocupação, refletindo o esfriamento da atividade econômica.

Uma resiliência do emprego no setor de serviços, em nível maior do que se esperava no primeiro trimestre, poderá contribuir para um Produto Interno Bruto (PIB) mais elevado, cujo resultado será divulgado pelo IBGE hoje.

O rendimento médio real, quando já se desconta a inflação, ficou em R$ 2.891, estabilidade frente ao trimestre encerrado em janeiro. Já a massa de rendimento real habitual, de R$ 278,8 bilhões, ficou estável na comparação trimestral. Na comparação com abril de 2022, a alta foi de 9,6%, puxado pelo crescimento da renda após o período mais agudo da pandemia e por uma melhora no nível de inflação.

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2023-06-01T07:00:00.0000000Z

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