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Com vida de luxo, Thiago Brennand deve até aluguel

Empresário acusado de uma série de agressões a mulheres foi excluído de testamento da família e enfrenta revés financeiro. Além de não pagar loja de decoração, ele deve R$ 2,1 milhões em mensalidades atrasadas de imóvel em SP

NICOLAS IORY nicolas.iory@sp.oglobo.com.br SÃO PAULO

Oparadeiro da fortuna de Thiago Brennand, que enfrenta uma série de acusações de mulheres por crimes de estupro, agressão e cárcere privado, pode dar origem a novas investigações à medida que avançam os diferentes processos contra ele. Antes de a Justiça determinar, na semana passada, o bloqueio de R$ 47.510 para pagar dívida com uma loja de móveis e itens de decoração de Sorocaba (SP), o empresário já havia enfrentado outra medida do tipo, no fim do mês passado, no valor de R$ 2,1 milhões por atraso de aluguel.

Brennand, que ostentava vida de milionário até ser preso e extraditado dos Emirados Árabes Unidos, no final de abril, foi condenado em 2019 a pagar dívida com a administradora de um apartamento em Alphaville, na Grande São Paulo, que ele alugou entre 2013 e 2014.

De acordo com os autores da ação, o empresário não pagou nem o IPTU nem os R$ 19 mil cobrados mensalmente pela locação do imóvel, além de ter danificado a pintura das paredes. O GLOBO apurou que esse bloqueio na conta do réu não foi efetivado até o momento. Assim como não foram achados valores suficientes para quitar o débito com a loja.

Anteontem, Brennand foi a julgamento pela primeira vez, na 2ª Vara de Porto Feliz (SP), num caso de estupro de uma modelo americana que foi sua namorada por três meses. A Justiça, no entanto, marcou nova audiência, para o dia 21 de junho. Brennand está detido no Centro de Detenção Provisória 1 de Pinheiros.

Antes de embarcar para os Emirados Árabes escapando de mandados de prisão, o empresário vivia no condomínio Fazenda Boa Vista, a cerca de uma hora da capital paulista, mas cujo trajeto ele podia fazer em menos tempo quando estava a bordo de sua Ferrari F8 Spider, avaliada em R$ 4,34 milhões.

Brennand mantinha ainda um flat no Itaim Bibi, bairro nobre da Zona Sul de SP, e colecionava armas e obras de arte. Uma das mulheres que o acusam relatou ao Ministério Público que foi levada por ele a dois restaurantes caros dos Jardins numa mesma noite. Em setembro, quando deixou o Brasil, ele ficou hospedado em um hotel cinco estrelas em Abu Dhabi.

OFENSAS CONTRA A MÃE

A fortuna de Thiabo Brennand vem de berço: sua família criou uma série de negócios em Pernambuco, como um bem-sucedido serviço de atendimento hospitalar que mais tarde teve unidades vendidas a uma grande rede de hospitais. Ele foi registrado como Thiago Antonio Fernandes Vieira, mas abandonou o nome que constava originalmente na certidão para adotar o sobrenome da família materna, a mesma do renomado artista plástico Francisco Brennand (1927-2019).

Thiago e os quatro irmãos receberam uma antecipação de suas heranças em 2007, quando a mãe, Joana Tavares da Silva Fernandes Vieira, e o pai, José Aécio Fernandes Vieira, aceitaram distribuir a maior parte de seus bens ainda em vida. Na ocasião, Thiago Brennand não aceitou receber sua fatia em participações societárias de empresas ao lado dos irmãos, exigindo imóveis e dinheiro.

Em novembro de 2019, os pais de Brennand registraram um novo testamento no 8º Tabelionato de Notas do Recife.

Reservaram R$ 3,6 milhões para um neto, hoje com 16 anos, e dividiram o restante em quatro partes iguais para os irmãos de Thiago, que foi excluído da partilha.

A mãe de Brennand registrou no documento que decidiu deixá-lo de fora da divisão por “absoluta inexistência de qualquer afinidade” entre eles, relatando que o filho “sempre demonstrou hostilidade para com ela e desejo de com ela não se relacionar, tendo-a já agredido e injuriado verbalmente e por escrito de forma reiterada”. Segundo a mulher, o comportamento do filho a causou “insuportável nível de sofrimento”.

O testamento foi registrado em novembro de 2019, cinco dias depois de Brennand ter enviado um e-mail à mãe no qual a chama de “figura abominável”, “abjeta” e “nojenta”. “Muito foda ter essa coisa horripilante como genitora”, escreveu Thiago, de acordo com a mãe.

AMEAÇAS AO PAI

Da mesma forma, o pai de Brennand também o deserdou e relatou que vinha sofrendo ameaças do filho por conta de seu inconformismo com os planos de repartir a herança apenas entre seus irmãos.

Hoje, Thiago Brennand tem apenas uma empresa em seu nome, a TFV Administradora de Imóveis LTDA, com patrimônio registrado de R$ 100 mil. O jornal levantou que algumas consultorias se negaram a trabalhar para Brennand por considerarem se tratar de uma “roubada”, enquanto uma pessoa familiarizada com as investigações sobre o empresário o classificou como um “profissional da fraude”.

Nos processos a que responde, Thiago Brennand já foi representado por ao menos oito escritórios de advocacia. O último a deixar a causa foi o do famoso criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, que tem no currículo as defesas do ex-presidente Michel Temer e de Suzane Von Richthofen. Mariz de Oliveira foi convidado a dar consultoria ao atual advogado do empresário, Eduardo Cesar Leite, no caso da modelo americana. Ele deixou o processo após quatro dias, antes da audiência desta semana.

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2023-06-01T07:00:00.0000000Z

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