Infoglobo

Liberação de R$ 1,7 bi em emendas não aplaca irritação com governo

Líder de bloco que engloba 173 parlamentares, integrante da base diz que Padilha, responsável pela articulação, ‘perdeu crédito‘

DIMITRIUS DANTAS politica@oglobo.com.br BRASÍLIA

Em mais um movimento para tentar construir uma base sólida no Congresso, objetivo que ainda não foi atingido depois de seis meses, o Palácio do Planalto autorizou ontem o empenho de mais R$ 1,7 bilhão em emendas para parlamentares de diferentes partidos. A liberação de recursos — a maior já feita em um só dia desde o início da gestão do petista —não foi suficiente para arrefecer as insatisfações do Parlamento com a articulação do governo.

Boa parte do valor das emendas destravadas ontem pelo Executivo saiu dos cofres do Ministério da Saúde. A liberação ocorre também no prazo final programado pelo Fundo Nacional da Saúde, que executa os pagamentos. O envio de propostas de trabalho pelas prefeituras e pelos governos que receberam os valores terminou nesta semana.

Ontem, após se reunir com líderes do Congresso e com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Lula ligou para Arthur Lira (PPAL), presidente da Câmara, na tentativa de aparar arestas, sem sucesso.

Para o deputado Felipe Carreras, líder do PSB e do bloco de 173 parlamentares na Câmara, que também abriga Arthur Lira, o titular do Palácio do Planalto precisará procurar também os líderes do Centrão na Casa.

—Padilha perdeu o crédito para conversar com a gente — atestou o parlamentar. — Lula precisa procurar Elmar Nascimento (União Brasil), André Fufuca (PP) e Hugo Motta (Republicanos). Sem eles, haverá nova derrota.

Na semana passada, em um jantar no escritório de Antônio Rueda, esses mesmos líderes tratavam com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a possibilidade de deixar a medida provisória vencer para forçar o Planalto a governar com a configuração da Esplanada deixada por Jair Bolsonaro.

PRIMEIRO ACENO

No início de maio, na tentativa de acalmar a base e criar um cenário de estabilidade no Legislativo, o Palácio do Planalto acelerou a liberação de R$ 700 milhões em emendas — representava até então, 58% de todo o montante encaminhado ao Congresso desde o início da gestão. Levantamento do GLOBO mostrou que o derrame de recursos beneficiou os principais partidos aliados: o PSD levou R$ 143 milhões, seguido por PT, com R$ 136 milhões; MDB, com R$ 91,3 milhões; e União Brasil, com R$ 75 milhões. Deste grupo, contudo, somente o PT entregou a Lula a fidelidade esperada pelo presidente durante a votação do decreto que alterava o marco do saneamento. Apesar de somarem 142 deputados, PSD, MDB e União contribuíram com somente oito votos favoráveis às mudanças defendidas pelo Planalto. Desde então, essas mesmas legendas têm demonstrado insatisfação com a articulação política e votado contra os interesses do governo — a aprovação do marco temporal, na última terça-feira, foi o recado mais recente.

Embora a maior fatia distribuída em maio tenha ido para congressistas da Câmara, na lista dos dez maiores beneficiários, nove são senadores — Mara Gabrilli (PSD-SP), Daniella Ribeiro (PSD-PB), Jayme Campos (União-MT) e Renan Calheiros (MDB-AL) encabeçam o ranking. É na Casa que aindsa vão tramitar projetos caros ao governo, como o marco temporal. Entre os deputados, quem mais recebeu emendas na ocasião foi Aluisio Mendes (RepublicanosMA), com R$ 13 milhões, que foi base de apoio do governo de Jair Bolsonaro. Nesta primeira leva, o governo federal empenhou R$ 467 milhões para deputados e R$ 232 milhões para os senadores.

“Padilha perdeu o crédito para conversar com a gente. Lula precisa procurar Elmar Nascimento (União Brasil), André Fufuca (PP) e Hugo Motta (Republicanos). Sem eles, haverá nova derrota” _ Felipe Carreras, líder do PSB na Câmara

Política

pt-br

2023-06-01T07:00:00.0000000Z

2023-06-01T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281663964392488

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.