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Influencers serão investigadas por vídeo com crianças negras

Nancy Gonçalves ofereceu banana e macaco de pelúcia a um menino e uma menina; para advogada, houve ‘racismo recreativo’

JÚLIA COPLE E PAULO ASSAD granderiol@oglobo.com.br

Mãe e filha postaram imagens em que dão a crianças macaco de pelúcia e banana. Para advogada, houve “racismo recreativo”.

ADelegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) do Rio de Janeiro instaurou um procedimento para investigar se as influenciadoras Nancy Gonçalves e sua filha Kérollen Cunha, que gravaram um vídeo entregando uma banana e um macaco de pelúcia para crianças negras, praticaram crime de racismo ou injúria racial e se também infringiram algum crime do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Já o Ministério Público (MP) fez requerimento pedindo que as influenciadoras sejam identificadas e que prestem depoimento à polícia em até 30 dias. E que as crianças que aparecem no vídeo sejam ouvidas, assim como seus responsáveis.

As influenciadoras foramd enunciadas pela advogadaFayd aB elo, especialista em direito anti discriminatório, na terça-feira. O MP do Rio informou que, até ontem, recebeu cerca de 700 comunicações com denúncias relativas ao caso. Ainda não há informações sobre o local e a data exatos dos registros.

Ontem, as influenciadoras, que apagaram o vídeo após a repercussão negativa, publicaram uma nota nas redes sociais na qual dizem que“repudiam veementemente qualquer forma de discriminação racial” eque“naquele contexto não havia intenção de fazer qualquer referência atemáticas raciais ou a discriminações de minorias ”.

Segundo anota, elas“gostariam dese dirigir às pessoas que se sentiram diretamente atingidas, para dizer que não tiveram intenção de ofender individualmente”. E que as publicações em questão “foram retiradas de contexto e interpretadas de maneira distorcida”.

MOTORISTA HUMILHADO

O texto ainda destaca que “a dupla reforça que em uma sociedade democrática, todos têm o direito à liberdade de expressão. No entanto, esse direito não deve ser usado como um escudo para o discurso de ódio ou promover a discriminação. As influenciadoras estão cientes dessa responsabilidade e se comprometem a aprender com esse episódio, aprofundar o aprendizado em questões raciais e a refletir sobre o impacto de suas afirmações”.

Nancy e Kérollen já eram investigadas pela Decradi. Mãe e filha têm um canal no qual publicam vídeos juntas e já haviam sido criticadas por, em uma outra gravação, humilharem um motorista e por fazerem o homem comer larvas. As duas vivem no Rio de Janeiro e têm 17 milhões de seguidores nas redes sociais.

No vídeo com as crianças, Nancy primeiro aparece conversando com um menino negro em uma calçada e pergunta se ele gostaria de receber um presente ou R$ 10. Ele opta pelo presente, mas, ao perceber que se trata de uma banana, responde “só isso?”. Ela pergunta “gostou, não? Olha direito, você gosta”. O menino, então, diz que não gostou e sai comendo a fruta.

Em outro registro, a influenciadora aborda uma menina na rua e faz proposta similar, oferecendo a opção de a criança escolher entre R$ 5 e uma caixa. A criança opta pelo “presente” e, ao abrir, encontra um macaco de pelúcia. Aparentando ter ficado feliz, ela abraça o brinquedo e agradece.

A advogada Fayda Belo afirma que o vídeo apresenta o chamado “racismo recreativo”, que ocorre quando alguém usa de “discriminação contra pessoas negras com intuito de diversão”.

— Vocês conseguem dimensionar o nível de monstruosidade que essas duas “desinfluenciadoras” tiveram ao dar um macaco e uma banana para duas crianças e ainda postar nas redes sociais para os seus milhões de seguidores [...]? Para ridicularizar duas crianças negras, para incitar essa discriminação perversa que nos tira o status de pessoa e nos animaliza como se fosse piada — afirma Fayda. —Você pode receber uma pena de até quase oito anos de cadeia.

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2023-06-01T07:00:00.0000000Z

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