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Início de temporada derruba ao menos um técnico de clube grande desde 2003

BRUNO MARINHO E THALES MACHADO esporteglb@oglobo.com.br

Quando tiver dúvidas sobre a importância dos Estaduais em tempos de futebol globalizado, de obsessão pela Libertadores, pergunte a Paulo Pezzolano, campeão da Série B com o Cruzeiro em 2022, e que deixou o clube no domingo, após a eliminação na semifinal do Mineiro —ontem, o português Pedro Miguel Marques da Costa Filipe, o Pepa, de 42 anos, foi anunciado. Ele estava fora do mercado desde janeiro, quando deixou o Al Tai, da Arábia Saudita. Ou então a Vítor Pereira e Luís Castro, ambos correndo perigo dependendo do que acontecer nas últimas partidas de Flamengo e Botafogo no Carioca.

Por mais que se venda a ideia de que as competições regionais estão com os dias contados, ou que devem ser vistas com uma espécie de pré-temporada estendida, na prática elas seguem determinando a interrupção de trabalhos. Com a queda do uruguaio que comandava o Cruzeiro, uma escrita se reforçou: desde 2003, ano que teve início o Brasileiro de pontos corridos, que ao menos um treinador à frente dos 12 clubescom mais participações na história da Série A é demitido ou pede para sair antes mesmo do centésimo dia de temporada, que é geralmente a duração até o fim do Estadual, semanas antes do Brasileirão.

A queda de Pezollano é ainda mais emblemática porque o Cruzeiro é SAF e a figura da sociedade anôniestá ma tenta se vincular a uma ideia de modernidade, que foge do amadorismo das trocas constantes de treinador. E os Estaduais são cada vez mais tratados como um resquício do passado no futebol brasileiro, uma amarra que impede o país de ter um calendário de jogos mais racional. Em outras palavras, o discurso de profissionalismo não resistiu à pratica que a realidade impõe: treinador cujo time não convence no Estadual está com meio caminho andado rumo à demissão. Independentemente se a gestão é tocada por cartolas ou CEOs.

COMPONENTE CULTURAL

Luís Castro, no Botafogo, outro clube que recorreu à SAF para sobreviver, é fortemente questionado por não ter levado o alvinegro à semifinal do Carioca e pode ser ainda mais pressionado se não conquistar o título da Taça Rio, um troféu que vale uma vaga na Copa do Brasil que é praticamente impossível o Botafogo não conquistar por outras vias, ao fim da temporada.

— Quando eu cheguei, muitos diziam que o Estadual não era tão importante para a temporada, mas quando olhamos para o lado, estava tudo fervendo por causa do Carioca —afirmou depois do jogo contra a Portuguesa, sábado: — Preservamos a parte mental dos jogadores para as grandes batalhas que virão, mas ela já dilapidada por já estarmos em competição em um período que era para ser de pré-temporada.

Existe o aspecto da cultura que entra na balança e ajuda a dizer quais clubes estão mais ou menos tendenciosos a demitir um treinador por causa do Estadual. O Internacional, por exemplo, entre os 12 clubes mais tradicionais do Brasil, é o que menos demitiu treinadores com até o centésimo dia do ano: dois. Há cinco não vence o Gaúcho, sem chegar sequer à decisão em três oportunidades no período.

RIO DE JANEIRO NA PONTA

O Athletico, que não entrou no levantamento, elevou a independência dos rumos de seu futebol em relação ao Estadual para outro patamar. Passou a escalar jogadores sub-20 e sub-23 em diversas partidas, atuando com o grupo principal somente para as finais.

No lado oposto está o futebol carioca, que lidera as trocas de treinador nos 100 primeiros dias do ano. Os quatro grandes do Rio aparecem nas primeiras posições, o Vasco encabeça a lista, mas Maurício Barbieri pode ficar tranquilo, apesar das duas derrotas para o Flamengo na semifinal do Carioca. O técnico está firme como uma rocha no cargo, seu trabalho é bem avaliado pelos responsáveis pela SAF do cruz-maltino.

— Estamos no começo de um processo. Existe a tristeza pelo resultado, mas sempre dissemos que estamos em construção de algo —afirmou no último domingo.

Ainda que sigam pesando, os Estaduais enquanto moedores de trabalhos enfrentam cada vez mais a resistência de quem defende mais tempo para os técnicos implementarem trabalhos. Passagens extremamente curtas no começo de uma temporada têm se tornado mais raras com o tempo.

Quem foge um pouco dessa tendência é o Corinthians, que deu 39 dias de trabalho para Sylvinho em 2022 — ele havia sido contratado em maio de 2021.

E não são apenas os dirigentes corintianos que levam os resultados do Paulista a sério. Na última sextafeira, um grupo de torcedores invadiu o centro de treinamento. O motivo: protestar contra a derrota para o Ituano nas quartas de final.

Esportes

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2023-03-21T07:00:00.0000000Z

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