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Bolsas sobem no mundo com risco menor de crise bancária

Ação do UBS fecha em alta, após compra do Credit Suisse, que viu papel despencar

VITOR DA COSTA* vitor.santos@oglobo.com.br RIO E ZURIQUE *Com agências internacionais

Os mercados globais tiveram dia de recuperação ontem, com os investidores ainda monitorando a situação do sistema bancário nos EUA e na Europa. O anúncio da compra do Credit Suisse pelo UBS, ainda no domingo, por 3 bilhões de francos suíços (ou US$ 3,2 bilhões) e a ação coordenada para injetar liquidez no mercado financeiro ajudaram, por ora, a evitar perdas maiores para os índices acionários.

As injeções de liquidez pelos BCs, que eram semanais, passaram a ser diárias. Ontem, o BC suíço injetou US$ 101 milhões e o Banco Central Europeu (BCE), outros US$ 5 milhões no mercado.

A quantia foi considerada pequena por analistas, num sinal de que a crise pode ter esfriado. Não houve demanda por recursos do BC inglês nem por liquidez do BC japonês. Os recursos são oferecidos por meio de linhas de swap cambial, ou seja, troca de divisas.

As ações do UBS subiram 1,26%, negociados a 17,33 francos suíços, na Bolsa de Zurique, depois terem cedido mais de 10%. Os papéis do Credit despencaram 55,74%, cotados a 0,82 franco suíço.

—No caso do Credit Suisse, ocorreu uma marcação a mercado do valor que foi pago pelo UBS. Para o UBS, é crescimento com um competidor a menos, apesar de um risco muito grande, o que justifica a ação subir de forma tímida —disse o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves.

O chefe de pesquisa da Guide Investimentos, Fernando Siqueira, avalia que o movimento das ações do Credit tem relação com o montante envolvido na compra ser inferior ao valor de mercado do banco no fechamento de sexta-feira.

— É uma marca que já foi mais forte, mas ainda tem uma quantidade de clientes grande na parte de gestão de fortunas. Pelo UBS ter comprado por um valor simbólico, pode ser positivo para eles.

Mas o negócio não foi bom para todos. Detentores de títulos num valor total de US$ 17,24 bilhões viram, do dia para noite, suas aplicações virarem pó. Os papéis, chamados de Additional Tier 1 (AT1), foram contabilizados como zero por determinação das autoridades regulatórias suíças que coordenaram o resgate. Ou seja, esses investidores perderam todo o dinheiro que aplicaram nos títulos.

BATALHA JUDICIAL

A decisão da Finma, a agência reguladora suíça, irritou investidores, e analistas não descartam uma batalha legal. Um grupo de investidores suíços já está considerando uma ação legal sobre a aquisição emergencial. A Ethos Foundation disse que os fundos de pensão suíços que ela representa são “duplamente penalizados” pela aquisição, porque não poderão votar no acordo e enfrentarão, no futuro, as desvantagens de negociar com um banco nacional dominante.

O Credit Suisse e o UBS podem se beneficiar de um socorro de mais de 260 bilhões de francos suíços (cerca de US$ 280 bilhões) do Estado e do banco central do país. O valor corresponde a um terço do Produto Interno Bruto (PIB) da Suíça.

Outro efeito colateral da aquisição será a demissão de funcionários. Mesmo antes do negócio fechado, o Credit

Suisse estava em processo para cortar 9 mil empregos. Isso pode ser apenas o começo, de acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg.

Com a fusão, haverá sobreposições de funções significativas. Juntos, os dois bancos empregavam quase 125 mil pessoas no fim de 2022, com cerca de 30% do total na Suíça.

O presidente do UBS, Colm Kelleher, disse que é muito cedo para saber o número exato de cortes de empregos, mas indicou que será significativo.

A Bolsa de Londres subiu 0,93% e a de Frankfurt, 1,12%. Em Paris, houve alta de 1,27%. O movimento de recuperação se estendeu aos Estados Unidos, com a notícia sobre o socorro ao Signature Bank, um dos bancos que quebraram nos últimos dias. O índice Dow Jones subiu 1,20% e o S&P, 0,89%. A Bolsa Nasdaq avançou 0,39%.

No Brasil, no entanto, o Ibovespa caiu 1,04%, aos 100.923 pontos, no menor patamar desde julho, pressionado pela queda dos papéis da Petrobras, com a queda no preço do petróleo nos últimos dias, apesar da alta de ontem.

Para Alves, da Avenue, a atuação rápida dos reguladores ajudou a arrefecer os receios dos investidores. Mas ainda é cedo para afirmar que houve uma mudança na percepção de risco sobre o setor:

—Aconteceu uma sucessão de eventos que minam a confiança dos agentes em um setor que é pautado essencialmente pela confiança. E quando rompe a questão da confiança... A tentativa dos reguladores é recuperar essa confiança.

O descontentamento não se restringe aos investidores. Manifestantes jogaram ovos na sede do Credit Suisse, na Paradeplatz, coração do distrito financeiro de Zurique. O protesto, que reuniu cerca de 200 pessoas, foi contra a concentração financeira no país.

Economia

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2023-03-21T07:00:00.0000000Z

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