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Apoiadores e doador de Bolsonaro integram comitiva de Lula à China

Parlamentares que foram da antiga base e empresários que financiaram campanha de ex-presidente e aliados estão na comitiva

DANIEL GULLINO E DIMITRIUS DANTAS politica@oglobo.com.br BRASÍLIA

Entre parlamentares e empresários ligados ao agro que viajarão com Lula para a China no domingo estão na lista deputados aliados do ex-presidente e ao menos um pecuarista que fez doação eleitoral para o rival do petista.

No esforço de estreitar laços com o agronegócio e precisando tornar a base no Congresso mais sólida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva incluiu na megacomitiva que levará à China antigos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Estarão presentes empresários que contribuíram para a campanha de seu principal adversário político ou de aliados dele, além de parlamentares que deram sustentação à gestão anterior.

Entre os membros da comitiva que ajudaram a financiar a tentativa de reeleição de Bolsonaro, há o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de uma doação em nome de Hugo Leonardo Bongiorno, diretor na Avenorte, grupo do setor de avicultura, no valor de R$ 25 mil. Também há uma contribuição em seu nome de R$ 62,5 mil para o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), aliado do ex-presidente.

Existe ainda, de acordo com os dados do TSE, um repasse de R$ 30 mil em nome de Diego Riva Magnabosco, diretor da empresa Frigosul, para a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra de Bolsonaro.

Já na lista de parlamentares que apoiaram o antigo ocupante do Palácio do Planalto e farão parte da viagem estão os deputados federais Gutemberg Reis (MDB-RJ) e Fred Costa (Patriota-MG).

Em 2022, Gutemberg declarou voto em Bolsonaro dizendo que ele “foi um líder patriota, esforçado e que montou uma ótima equipe de governo”. Agora, afirma que foi convidado por ser vice-presidente de duas frentes parlamentares: Brasil-China e Brics.

— Nenhum (problema). Estou na vice-presidência (da frente parlamentar) do Brics e da frente Brasil-China.

Por esse motivo, o embaixador fez questão de a gente ir na comitiva.

Questionado sobre o governo Lula, Gutemberg afirma que ainda é “muito cedo” para avaliar a administração.

Fred Costa, por sua vez, declarou voto no então presidente em uma entrevista. Quem também estava na lista é o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). No ano passado, ele apoiou Bolsonaro e afirmou que a reeleição era necessária porque o país não podia “retroceder”. O parlamentar informou, via assessoria, que não aceitará o convite.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que ajudou a organizar a comitiva, minimizou as discordâncias. Fávaro foi escalado, ainda na campanha eleitoral, para minimizar as resistências do agro ao PT.

—A eleição acabou. Todos que respeitarem o resultado das urnas e quiserem olhar para frente e ajudar a trabalharmos pelo bem do Brasil serão bem-vindos.

Procurado pelo GLOBO para comentar a doação a Bolsonaro, Hugo Leonardo Bongiorno afirmou desconhecer o pagamento e levantou a hipótese de seu nome ter sido utilizado por outros sócios da empresa.

— Preciso verificar. Eu não tinha essa informação. Às vezes, foi feita a doação para vários partidos, dentro da legalidade, e pode ser que, como não pode ser no nome da empresa, está no nome da pessoa física. Preciso me informar.

O empresário pediu mais tempo para checar a informação, mas depois não retornou os contatos. Riva Magnabosco ou a Frigosul não foram localizados para comentar.

Ao todo, mais de 100 empresários e 39 parlamentares foram convidados para a comitiva. Como revelou O GLOBO, os irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo J&F, integram a lista. O governo não vai pagar a viagem dos empresários, que terão que bancar seus próprios gastos.

Os irmãos, que chegaram a ser presos em 2017, foram responsáveis por acusações que atingiram, em especial, o ex-presidente Michel Temer e o deputado Aécio Neves (PSDB-MG). Temer chegou a ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo crime de obstrução de Justiça, mas foi absolvido. Aécio também nega qualquer ilegalidade. Joesley chegou a citar em depoimentos repasses no exterior para caixa dois de campanhas de Lula e Dilma Rousseff, o que não ficou comprovado.

CENTRÃO E TUCANO

Em 2020, o ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a repactuação do acordo de delação premiada firmado entre a PGR e os irmãos Batista. Pela tratativa, eles concordaram em pagar multa de R$ 1 bilhão, evitando que sejam condenados pelos crimes citados.

Também está na lista da comitiva Kleverson Scheffer, do grupo Bom Futuro. Ele é filho de Erai Maggi, conhecido como o Rei da Soja. Há ainda integrantes de partidos de oposição: do PP, foram chamados Fausto Pinato (SP), que é presidente da frente Brasil-China, e Eduardo da Fonte (PE). Do PSDB, o convidado é Paulo Alexandre Barbosa (SP).

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2023-03-21T07:00:00.0000000Z

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