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PF resgata, no Rio, 19 paraguaios sob trabalho análogo à escravidão

Mantidos em situação análoga à escravidão, 19 estrangeiros estavam alojados sem qualquer condição de higiene e junto a animais no mesmo lugar onde trabalhavam; vítimas eram submetidas a jornadas de 12 horas diárias

GERALDO RIBEIRO geraldo.ribeiro@extra.inf.br

Eles foram trazidos do país vizinho com venda nos olhos e trabalhavam sem higiene numa fábrica clandestina de cigarros.

Uma operação da Polícia Federal resgatou ontem 19 trabalhadores paraguaios que eram mantidos em situação análoga à escravidão numa fábrica clandestina de cigarros, no bairro da Figueira, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo os agentes, a empresa tinha grande capacidade de produção e distribuía cigarros para todo o Estado do Rio. Foi o segundo caso semelhante no mesmo município em pouco mais de sete meses.

A PF informou que os estrangeiros estavam alojados na própria fábrica, sem quaisquer condições de higiene. Os trabalhadores dividiam espaço com animais, esgoto a céu aberto e os resíduos oriundos da produção dos cigarros.

A investigação mostrou que eles eram submetidos a uma jornada excessiva de trabalho. Eram 12 horas por dia, sete dias na semana, em dois turnos, inclusive durante a madrugada, sem direito a descanso semanal. Além de não receberem remuneração pelos serviços prestados, tinham a liberdade de locomoção restrita e ainda eram forçados a trabalhar sem equipamentos de proteção.

VENDA NOS OLHOS

Os resgatados disseram aos policiais que foram trazidos do Paraguai com os olhos vendados, mediante a promessa de que iriam trabalhar na produção de roupas. Chegando aqui, foram levados para as instalações da fábrica, onde eram mantidos presos desde então. A data da chegada deles ao Rio não foi divulgada. De acordo com a PF, os estrangeiros sequer tinham conhecimento da localidade em que se encontravam.

Eles também relataram que tinham contato com apenas uma pessoa, responsável por levar os mantimentos, que sempre estava armada e usava uma máscara que ocultava seu rosto.

A deflagração da Operação Libertatis contou com o apoio do Ministério Público do Trabalho e da Receita Federal. A ação tinha como objetivo o cumprimento de quatro mandados de busca e apreensão, expedidos pela 7ª Vara Criminal Federal do Rio.

Em julho do ano passado, em Campos Elísios, também em Caxias, outra fábrica clandestina de cigarros já havia sido estourada pela PF. No local, foram encontrados um brasileiro e 23 paraguaios, que também trabalhavam sob regime análogo à escravidão. Eles foram libertados com a chegada da polícia.

No galpão, os investigadores encontraram mais de 500 caixas de cigarros que eram produzidos diariamente de forma ilegal. A perícia foi realizada, os materiais foram apreendidos e o maquinário, removido.

Os trabalhadores contaram aos policiais que saíram de Ciudad Del Este, no Paraguai, e viajaram de ônibus para São Paulo, de onde pegaram outro ônibus para o Rio. Eles foram atraídos pela quadrilha com a promessa de emprego pelo período de quatro meses, com pagamento de salário de R$ 3 mil. Depois de três meses na cidade em condições degradantes, receberam apenas R$ 500. O dinheiro não era pago diretamente a eles. O combinado era depositar o pagamento na conta de parentes das vítimas.

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2023-03-21T07:00:00.0000000Z

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