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Na véspera do Copom, Alckmin pede ‘bom senso’ do BC para baixar juros

Evento do BNDES se torna palco para pressão pela queda da Selic. Presidente da Fiesp afirma que patamar é ‘pornográfico’

CAROLINA NALIN E GLAUCE CAVALCANTI economia@oglobo.com.br

O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio defendeu que o Banco Central reduza a Taxa Selic. O Conselho de Política Monetária se reúne entre hoje e amanhã.

Um seminário na sede do BNDES se tornou ontem palco para que integrantes do governo, empresários e economistas cobrassem a redução da taxa básica de juros um dia antes do início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A Taxa Selic está hoje em 13,75% ao ano.

O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, afirmou que os juros nesse patamar não se justificam, travam investimentos e tornam a dívida brasileira mais cara. E cobrou “bom senso” do Banco Central.

—Dificulta consumo, atrasa investimento e onera o fiscal. E não há nada pior para o fiscal do que isso, porque metade da dívida é Selic. Acreditamos no bom senso de que vamos ter redução da taxa de juros —disse Alckmin.

Segundo o vice-presidente, há gordura para cortar os juros. Alckmin lembrou que “o mundo inteiro tem juros (reais) negativos” e frisou que não há por que ter juro real de 8% quando “não há demanda explodindo”.

COMBINAÇÃO RECESSIVA

O economista André Lara Resende, que mediou uma mesa com Joseph Stiglitz, disse que a combinação de juros e impostos altos é “profundamente recessiva e impede o crescimento”.

— A fórmula correta é ter taxa de juros inferior à taxa de crescimento (econômico). Mas nós fazemos o contrário, o Banco Central coloca os juros na lua.

Segundo ele, a política monetária e a política fiscal não são independentes, uma se reflete sobre a outra.

O presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, também foi enfático nas críticas aos juros altos, classificando-os como “pornográficos”. Segundo ele, um país com dívida de 72% do PIB e que conta com reservas cambiais não pode ser considerado um país com problema fiscal:

—Essa não é uma boa explicação para as pornográficas taxas de juros praticadas no Brasil. E se não baixarmos (os juros), de nada adianta fazer políticas industriais, porque as principais políticas industriais que atingem a economia são

“Em relação ao novo arcabouço fiscal, Haddad pode esperar de mim total lealdade e parceria. Não temos expectativa de substituir ou competir com ninguém. Mas não nos peçam para não dizer o que pensamos”

Aloizio Mercadante, presidente do BNDES

uma taxa de juros compatível com dimensão e riqueza e, obviamente, uma reforma tributária que crie isonomia entre os setores.

DÍVIDA PÚBLICA

Alckmin afirmou que o governo tem concentrado seus esforços para fazer avançar a reforma tributária e para encaminhar uma nova proposta de ancoragem fiscal, algo que deve ser apresentado “nos próximos dias”:

—Acho que o governo encaminha nos próximos dias a ancoragem fiscal, que vai combinando curva da dívida, de outro lado, superávit e, de outro lado, controle do gasto. Uma medida inteligente, bem feita, que vai trazer bastante segurança na questão fiscal.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem apoio irrestrito do BNDES em seu projeto para o novo arcabouço fiscal.

—Em relação ao novo arcabouço fiscal, Haddad pode esperar de mim total lealdade e parceria. Não temos expectativa de substituir ou competir com ninguém. Mas não nos peçam para não dizer o que pensamos. Vamos apoiar, ajudar a encontrar o melhor caminho para o país, adotar as melhoras práticas. (...) Não estamos aqui substituindo ou competindo com nenhum ministério. Estamos cumprindo o papel de subsidiar para que não cometamos os mesmos erros. O BNDES nesses 70 anos fez muito pelo Brasil —afirmou.

Em painel sobre os desafios brasileiros para o desenvolvimento econômico, o diretor do BNDES Nelson Barbosa apontou estimativa de que o governo precisa fazer um ajuste fiscal entre R$ 200 bilhões e R$ 300 bilhões para conseguir estabilizar a trajetória da dívida pública:

— É um número elevado. Mas esse esforço pode ser menor se a economia crescer mais e o juro for menor.

As falas ocorreram no Seminário Estratégias de desenvolvimento sustentável para o século XXI, realizado pelo BNDES ontem. O evento é organizado pelo banco, Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e Fiesp.

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2023-03-21T07:00:00.0000000Z

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