TRUQUES E ESQUEMAS

O PÚBLICO GOSTA DE SURPRESAS E TAMBÉM DE FAMILIARIDADE. MAS CERTAS FÓRMULAS ANDAM MUITO SURRADAS

Opúblico de novelas é muito treinado para adivinhar o desenrolar das tramas que acompanha. Muito antes do desfecho, é capaz de imaginar que casais ficarão juntos no final e que vilões serão punidos ou redimidos. No meio de uma cena, com muita frequência, já pressentimos como ela será concluída. Isso acontece porque o gênero está encravado na formação de todos nós. Não existe um brasileiro que tenha crescido sem ver televisão e sem apreciar a nossa teledramaturgia. A gente conhece novela, é uma questão cultural. Gostamos de surpresas, mas a familiaridade também nos agrada.

Com as séries estrangeiras, algumas fórmulas também costumam ser repisadas.

Um truque frequente e previsível é o do salvamento em cima do laço nas tramas policiais. O mocinho está prestes a ser assassinado e seu algoz aponta a arma, mas demora uns segundos a atirar. Aí, do nada, aparece algum herói interrompendo tudo. Vemos também personagens zangados socando a parede ou atirando objetos por todo lado. E, quando alguém passa mal, corre para a privada e invariavelmente põe a mão no vaso (pode reparar) para vomitar. Certas figuras eram campeãs desse gesto, como a Carrie Mathison (Claire Danes) de “Homeland”. Nada disso, entretanto, afasta o público de seus programas queridos.

Porém, o uso excessivo de alguns esquemas merece ser revisto. Refiro-me à dança das cronologias para contar uma história. É diferente do ,que costuma servir a narrar algo remoto. Trata-se de uma forma de explicar o presente, como se fosse a montagem de um quebra-cabeças. É uma jogada recorrente. Quase todos os enredos atualmente começam e logo vem uma tarja transferindo a ação para “algumas semanas antes” ou coisa parecida. Em si, não é ruim. Mas, por excesso de uso, cansou.