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ABASTECIMENTO DO TRÁFICO

Justiça bloqueia R$ 25 milhões em bens de bando que trazia armas e drogas para o Rio

CAROLINA HERINGER carolina.heringer@extra.inf.br

Uma organização criminosa que fornece drogas e armas para favelas do Rio esbanjava o dinheiro que ganhava com o tráfico a mais de mil quilômetros de distância, em Balneário Camboriú, no estado de Santa Catarina. Eram casas de luxo, carros de primeira linha e até lanchas. Ontem, 11 suspeitos de integrar a quadrilha foram presos numa operação da Polícia Federal e do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do estado. Em três anos, os criminosos teriam movimentado R$ 100 milhões.

A PF descobriu que, na chegada ao Rio, os transportadores do armamento e da droga vindos de Santa Catarina, no sul do país, faziam uma parada na Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa). O entreposto fica a cerca de 1,5 quilômetro da Favela de Acari, na Zona Norte, origem dos principais integrantes do grupo. A operação foi batizada de Fim do mundo, em razão do nome de uma localidade na comunidade. A quadrilha também tinha compradores em Belo Horizonte (MG).

Ontem, cerca de cem policiais federais foram às ruas para cumprir 18 mandados de prisão preventiva e 31 de busca e apreensão no Rio, em São Paulo e em Santa Catarina. A 1ª Vara Criminal Especializada em Organização Criminosa do Tribunal de Justiça do Rio ainda determinou o bloqueio de R$ 25 milhões em bens da organização criminosa. A lista inclui 15 imóveis, 19 automóveis e duas lanchas, além de 32 contas bancárias.

DEPÓSITOS FRACIONADOS

As investigações da PF tiveram início em 2019, com a apreensão de duas toneladas de maconha e 18 carregadores de fuzil em Piraí, no interior do estado. Outras apreensões também serviram de base para a polícia rastrear os envolvidos no transporte do material, os pagamentos e os compradores. Os investigadores descobriram que traficantes de Acari e da Vila Aliança, na Zona Oeste, pagavam pelas armas e drogas com depósitos fracionados em agências bancárias localizadas nas proximidades das comunidades.

Ao menos três pessoas que faziam esses depósitos com frequência foram identificadas. Uma delas, Douglas Cabral, transferiu R$ 138 mil, em três meses e meio, para Renato Castro, acusado de ser chefe de um nos núcleos investigados. De acordo com as investigações, Douglas, que mora na Vila Aliança, fez transferências que variaram de mil reais a R$ 49,9 mil para Renato, que está foragido.

A estratégia dos depósitos até R$ 50 mil — para não levantar suspeitas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) —foi usada, ainda, para a aquisição de um dos imóveis de Renato em Balneário Camboriú. Segundo as investigações, a corretora Grazieli Maria da Cruz recebeu

R $1,4 milhão, de março a julho de 2021. O responsável pelos depósitos, de acordo coma PF, é Rafael Mendes de Oliveira, também da Vila Aliança. O dinheiro teria ido para a conta da corretora e sido usado para comprar o imóvel. O marido de Grazieli, o corretor deimóveis Moacir Ribeiro, també mé acusado de fazer parte do esquema criminoso. O casal é de Santa Catarina: para os investigadores, além de corretores, eles seriam administradores financeiros de Renato.

A investigação da PF mirou três núcleos, um deles chefiado por Renato e seu irmão, Rodrigo Castro, que foi preso. O segundo era liderado por Edivaldo Freitas Portugal, Edinho Portugal, também detido, e por João André de Souza, conhecido como João do Gelo, que está foragido.

Aquadrilhados irmãos Castro—que moravam em Acari antes de mudarem para o Sul — era familiar: sete parentes são acusados de fazer parte do bando, incluindo duas irmãs e a mãe. De acordo comas investigações, eles atuavam na lavagem do dinheiro. Alguns eram usados como laranjas para a ocultação de bens obtidos com o lucro oriundo do crime.

CONVERSAS PELO TELEFONE

Segundo a PF, Renato movimentou, entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020, cercade R $400 mil em sua conta bancária. No restante de 2020, foi mais R$ 1,5 milhão — a maior parte dos recursos foi de depósitos fracionados. Mesmo assim, ele e seu irmão receberam auxílio emergencial,benefício concedido pelo governo federal a famílias com dificuldades financeiras durante a pandemia.

Nos arquivos que Renato mantinha em seu telefone celular, os agentes da PF encontraram conversas sobre a negociação de armas e drogas. Os acusados vão responder por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Em nota, a Ceasa informou não ter recebido qualquer notificação do MP sobre o uso de seu espaço por criminosos, portanto não tem ciência da investigação. Acrescentou que o local tem portaria funcionando 24 horas por dia com monitoramento de câmeras que controlam a entrada e a saída dos veículos de mercadorias, que precisam apresentar notas fiscais em todos os seus acessos. A defesa dos acusados não foi localizada pelo GLOBO.

Rio

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2023-01-27T08:00:00.0000000Z

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