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DECISÃO DE PARTIR

Exaustão? Falta de reconhecimento? Como saber a hora de pedir demissão

CHRISTINA CARON

Até mesmo as grandes autoridades políticas internacionais têm seus problemas de trabalho. Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia, anunciou inesperadamente na semana passada que renunciaria ao cargo após quase seis anos.

— Estou saindo porque com um papel tão privilegiado vem a responsabilidade, a responsabilidade de saber quando você é a pessoa certa para liderar e também quando não é —disse Ardern, em entrevista coletiva. — Eu sei o que esse trabalho exige. E sei que não tenho mais combustível suficiente no tanque. É simples assim.

Ardern, de 42 anos, a primeira-ministra mais jovem da Nova Zelândia em 150 anos, também disse que planeja passar mais tempo com seu parceiro, o apresentador de televisão Clarke Gayford, e sua filha de 5 anos, Neve.

Tomar a decisão de se afastar de um emprego nem sempre é fácil ou viável. Mas quando seu bem-estar físico ou emocional está sofrendo e seu estresse não é aliviado por um dia de folga, especialistas dizem que geralmente é melhor começar a procurar trabalho em outro lugar. Apenas certifiquese de pensar um pouco antes de “explodir” subitamente.

Eis alguns sinais de que pode ser hora de partir —e o que fazer se você não tiver como.

Você se sente esgotado

O burnout é tipicamente caracterizado por três sintomas: exaustão emocional, negatividade e a sensação de que não importa o quanto você tente, você não consegue ser eficaz em seu trabalho, detalha Dennis Stolle, diretor sênior de psicologia aplicada da American Psychological Association.

Todo mundo se sente emocionalmente exausto de vez em quando, mas “estou falando de um nível extremo”, enfatiza Stolle:

—É o tipo de angústia em que muitas vezes você sente que não tem mais nada para dar e se houver mais uma coisa, vai gritar ou chorar.

O esgotamento também pode levar as pessoas a se tornarem mais pessimistas ou indiferentes em comparação ao que já foram um dia.

Se você está se sentindo um pouco esgotado, fazer uma pausa — seja no fim de semana ou durante as férias — deve ajudar, orienta Jessi Gold, psiquiatra da Universidade de Washington em St. Louis. Mas se você não está se sentindo restaurado e volta a ficar com raiva e odiar seu trabalho, esse é outro sinal de alerta.

Se você está se sentindo esgotado a ponto de afetar seu bem-estar físico ou emocional e prejudicar seus relacionamentos, isso também é um sinal de alerta. Faça um balanço de como você se sente no trabalho. Está frequentemente com raiva, desconectado, entorpecido ou deprimido? Se está com dificuldade para dormir ou dormindo demais, se você se irrita fácil ou se sente triste ou muito culpado, procure ajuda.

Você está passando por uma mudança de identidade

O trabalho muitas vezes se confunde com a identidade das pessoas. Nossos cargos, a organização para a qual trabalhamos e até mesmo a quantidade de tempo que passamos trabalhando podem se tornar uma grande parte de quem somos. Mas o que acontece quando suas prioridades mudam e você não sente mais o mesmo apego ao seu trabalho?

— Quando você sofre uma mudança em um aspecto da identidade, isso pode levar à depressão e à ansiedade — diz Stewart Shankman, professor de psicologia na Northwestern University Feinberg School of Medicine.

Se o trabalho costumava ser um aspecto central de sua identidade e agora não é, esse pode ser um motivo para cogitar se afastar. Mesmo que você não consiga parar de trabalhar no momento, tente reservar um tempo para explorar as coisas que parecem significativas para você agora. Pode haver alguma outra parte de sua vida que esteja preenchendo o papel que o trabalho costumava desempenhar, sinaliza Shankman.

—Seu trabalho não precisa necessariamente ser o que define você —esclarece.

Você não se sente valorizado ou apoiado

Um estudo feito por pesquisadores da Regent University, nos Estados Unidos, descobriu que um pouco de reconhecimento ajuda muito os funcionários. Eles não tendem a ser mais produtivos apenas quando seu gerente expressa gratidão, mas também quando seus colegas demonstram apreço e respeito.

Uma pesquisa da Pew Research Center descobriu que salários baixos, falta de oportunidades de promoção e sentimento de desrespeito no trabalho foram os principais motivos pelos quais os americanos deixaram seus empregos em 2021.

As pessoas que se sentem valorizadas também tendem a experimentar segurança psicológica, ou seja, ficam à vontade para contribuir com ideias, fazer perguntas ou compartilhar preocupações, sem medo de punição ou de se sentirem ridículas.

Se você trabalha para uma organização que não promove a segurança psicológica, pode ser hora de pensar em sair, dizem os especialistas. Esse é especialmente o caso se seu gerente ou colegas estiverem fazendo ameaças ou comentários abusivos.

Sua empresa não prioriza o bem-estar das pessoas

Idealmente, a organização para a qual você trabalha tentará apoiar seus funcionários em vários aspectos do bemestar, incluindo suas necessidades físicas, emocionais, sociais e financeiras.

E também deve tentar fazê-lo de maneira equitativa, diz Laura Putnam, autora do livro “Workplace wellness that works” (“Bem-estar no local de trabalho funciona”, em tradução livre do inglês). Alguns empregados do seu trabalho têm mais oportunidades de autonomia do que outros? Só alguns podem fazer uma pausa ou são interrompidos durante as reuniões?

Você não pode deixar seu emprego? E agora?

Se alguma das situações descritas acontece com você mas não há como deixar seu emprego no momento, verifique se é elegível para uma licença de invalidez de curto prazo. Caso tenha uma condição já diagnosticada, como depressão grave ou transtorno de estresse pós-traumático, negocie com os seus superiores uma permissão para trabalhar de casa. Mesmo sem um diagnóstico específico, seu empregador pode estar aberto a fazer mudanças que melhorem sua qualidade de vida no trabalho.

“O burnout éotipode angústia em que muitas vezes você sente que não tem mais nada para dar e se houver mais uma coisa, vai gritar ou chorar.”

Dennis Stolle, psicólogo

“Seu trabalho não precisa ser o que define você”

Stewart Shankman, psicólogo

Saúde

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2023-01-27T08:00:00.0000000Z

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