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Vídeo com pai de Djokovic expõe elos de sérvios e russos

Países têm proximidade histórica, mas relação é complexa; Sérvia acena para a Rússia e ao mesmo tempo para a Europa

ANA ROSA ALVES ana.rosa@infoglobo.com.br

Srdjan Djokovic, pai do tenistamulticampeãosérvio Novak Djokovic, foi filmado no Australian Open ao lado de fãs que carregavam bandeiras da Rússia estampadas com o rosto do presidente Vladimir Putin e repetindo a frase “longa vida aos russos”. Um deles usava uma camisa com a letra Z, símbolo das forças russas que invadiram a Ucrânia. O episódio põe os holofotes sob as complexidades da relação entre Belgrado e Moscou e dá luz ao oxigênio nacionalista que a invasão na Ucrânia injetou no país balcânico.

O pai de Djokovic apareceu na gravação aparentemente dizendo “zivjeli Russiyani” no lado de fora da Arena Rod Laver, em Melbourne. Em sérvio e croata, “zivjeli” é uma saudação que pode ser traduzida como “longa vida” e “russiyani” significa “cidadãos russos”.

A afinidade entre Sérvia e Rússia começa na herança compartilhada de duas nações com maioria eslava e cristã ortodoxa. Ao longo dos séculos, com os Bálcãs disputados por forças católicas e otomanas, Moscou fez-se presente como aliada e patrona dos ortodoxos, e ingressou na Primeira Guerra em apoio a Belgrado, contra quem o Império Austro-Húngaro declarou guerra após o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando por sérvios-bósnios.

As relações próximas e cordiais entre os dois povos se mantiveram, com alguns altos e baixos ao longo do século XX. Nas últimas décadas, a questão de Kosovo —que pertencia à Sérvia e declarou independência em 2008, nove anos após um conflito em que a Otan forçou a retirada de forças sérvias do território — tornouse um elo forte entre Moscou e Belgrado.

ESPERANÇAS SOBRE KOSOVO

Par aos sérvios mais nacionalistas, aguerra na Ucrânia desperta a esperança deu mare incorporação de Kosovo. Para vizinhosnos Bál cãs, o posicionamento sérvio gera preocupação de novas guerras na região, acentuada por atritos no ano passado. Nãoéà toa, contudo, que o grupo paramilitar russo Wagner — que na quinta foi classificado pelos EUA como uma “organização criminosa transnacional” — veiculou anúncios na Sérvia neste mês buscando recrutas.

O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, veio a público afirmar que o “Wagner não fará isso na Sérvia”, buscando afastar-se de Moscou. Disse que o “pior está por vir” no conflito da Ucrânia, afirmando que rechaça desde o início a invasão e que “para nós, a Crimeia e Ucrânia, Donbass é Ucrânia, e continuarão a ser”.

Cabe ver, contudo, se o distanciamento é real ou se Belgrado continuará a jogar dos dois lados. Reeleito no ano passado com vitória acachapante, é candidato à adesão à União Europeia (UE), mas se encontrou várias vezes com Putin no último ano e não aderiu às sanções europeias a Moscou, apesar de condenar a invasão da Ucrânia na ONU.

Para os russos, manter Belgrado em sua órbita é chave, importância ressaltada pelo distanciamento de ex-repúblicas soviéticas e outros ex-integrantes da Iugoslávia. Putin, que chegaria ao poder logo após a guerra no Kosovo em 1999, e seus ideais nacionalistas são peça-chave disso, e casam bem com o ressentimento dos nacionalistas sérvios.

O manda-chuva do Kremlin se opôs à criação de um tribunal para julgar crimes cometidos por líderes sérvios, tirou as forças de paz russas do Kosovo em 2003 e bloqueou o reconhecimento do país na ONU. É um grande crítico das intervenções ocidentais no pequeno Estado, vendo-as como um sinal do enfraquecimento russo e de seus interesses na cena internacional.

Os Bálcãs também são centrais para o argumento de Putin contra a expansão da Otan, umadas justificativas para a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. Ele critica a expansão da organização rumo às fronteiras russas, que vem desde o fim da União Soviética, e cita uma promessa feita por americanos e europeus nos anos 1990 de que o “limite” da Otan seria a Alemanha então recém-reunificada, algo que Washington nega.

Desde 2017, quando Montenegro se juntou à Otan, todos os portos no Mar Adriático, por exemplo, pertencem a países da aliança. A Sérvia, portanto, é uma aliada de peso, mas o xadrez político para Belg rad oé mais complexo: aUEé a maior parceira comercial dos sérvios, sendo responsável por mais de 60% das trocas em 2021, e ova lordas exportações para o bloco mais que quadruplicou de 2009 a 2001.

Foi também há 13 anos que o país pediu a adesão à UE, negociações que começaram em 2014 eque Vu cica firma para Bruxelas ser sua prioridade. Até outubro passado, o país havia começado a abordar 22 dos 35 pontos demandados para a conclusão da candidatura, mas encerrado apenas dois.

GÁS RUSSO COM DESCONTO

Uma das demandas é que o pleiteante se alinhe à política externa do bloco, algo que caiu de 64% em 2020 para 45% em 2022. Os sérvios continuam a ter grande dependência energética, e firmaram um acordo de três anos para receber gás russo apreço reduzido.

Junto coma Hungria, a Sérvias e destaca como a única a acenar para Putin: Belgrado continua ase rum destino para os russos, e uma pesquisa feita em junho passado pela Demostat mostra que 51% dos sérvios votariam contra a ad esã oà UE eque40%vee mP ut inc omo olíderg lobal que mais gostam. A maior parte é contra sanções a Moscou.

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2023-01-27T08:00:00.0000000Z

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