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Exército de Israel mata 9 palestinos na Cisjordânia

Exército de Israel mata nove palestinos em campo de refugiados na Cisjordânia

JENIN, CISJORDÂNIA

Segundo autoridades palestinas, forças israelenses mataram ontem a tiros nove pessoas no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, território ocupado por Israel. O Exército afirmou que estava em busca de suspeitos de terrorismo. O episódio é mais um entrave ao processo de paz, paralisado desde 2014.

Nove palestinos, incluindo uma idosa, morreram por tiros disparados por militares de Israel no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, território ocupado por forças israelenses desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, disseram autoridades palestinas. A ministra da Saúde palestina, Mai Al Kaila, alertou em nota que a situação era “crítica”, com muitas outras pessoas feridas e ambulâncias incapazes de alcançá-las. Segundo ela, além dos nove mortos, houve ao menos 20 feridos, incluindo quatro em estado grave.

As forças israelenses também “jogaram deliberadamente granadas de gás lacrimogêneo” na ala pediátrica de um hospital de Jenin, o que “causou a asfixia de algumas crianças”, acusou a ministra palestina. O Exército israelense negou o lançamento deliberado de gás lacrimogêneo na instalação:

— Ninguém lançou gás lacrimogêneo deliberadamente em um hospital (...), mas a operação foi realizada não longe do local, e é possível que o gás tenha entrado por uma janela aberta —disse um porta-voz do Exército à AFP.

SUSPEITOS DE TERRORISMO

Previamente, o Exército israelense disse que suas forças “estavam ativas no campo de refugiados de Jenin” e buscavam por suspeitos de terrorismo ligadosàJ ih adIslâm ica. Três deles foram“neutr alizados” durante uma troca de tiros, acrescentaram as autoridades militares. A mídia israelense disse que o Exército agiu para impedir “um grande ataque” de militantes palestinos.

O gabinete do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, disse que as mortes foram “um massacre do governo de ocupação israelense, à sombra do silêncio internacional”. Criada nos anos 1990, sob os Acordos de Os lo, aANP é responsável por administrar parte da Cisjordânia.

—Issoé oque encoraja o governo de ocupação acometer massacres contra nosso povoàvist ado mundo— disse Nabil Abu Rudeineh, porta-voz de Abbas.

Horas depois, a ANP anunciou o corte da cooperação de segurança com Israel. Em um comunicado, Abbas disse que “frente às reiteradas agressões contra nosso povo e à violação de acordos firmados em matéria de segurança, consideramos que a cooperação em segurança com o governo da ocupação israelense já não existe a partir de agora”.

ULTRADIREITA NO GOVERNO

Os incidentes de ontem preocuparam o governo dos EUA, dias antes da visita do secretário de Estado americano, Antony Blinken, a Israel, Cisjordânia e Egito. Ele se reunirá com o premier israelense, Benjamin Netanyahu, Abbas e com o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi.

Será o primeiro encontro de Blinken com Netanyahu desde a volta do premier ao poder à frente dacoa lizãomaisà direita de História recente de Israel, com membros da ultra direita adeptosd alinha-dura na segurança no Gabinete.

O secretário de Estado, entre outros temas, deve discutira importância da solução de dois Estados para o problema palestino, mas as negociações estão paradas desde 2014.

Uma greve geral foi anuncia dana Cisjordânia em luto e protesto pelas mortes, o número mais elevado em meses na região. O Exército de Israel se prepara para um cenário em que o Hamas e a Jihad Islâmica lançarão foguetes da Faixa de Gaza, interrompendo uma trégua vigente desde grandes ataques israelenses ao território em agosto do ano passado.

Os incidentes de ontem elevam o número de palestinos mortos este ano por forças de Israel para 29.

De acordo com dados compilados pelo site Middle East Eye, pelo menos 220 pessoas morreram em ataques israelenses nos territórios ocupados em 2022, incluindo 48 crianças. Destes, 167 foram na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, e 53 na Faixa de Gaza. Este número é mais alto do que qualquer outro ano desde a Segunda Intifada, em 2000. Israel diz que a maioria dos mortos eram militantes palestinos armados, mas jovens que protestavam contra as incursões e outros não envolvidos nos confrontos também foram mortos.

Mais cedo, palestinos disseram que soldados do Exército israelense entraram no campo de refugiados de Jenin em um caminhão comercial, eque confrontos violentos eclodiram logo depois. Testemunhas disseram que o incidente ocorreu em um prédio que e rausado como ponto de encontro para os moradores. Essas mesmas testemunhas também relataram que o Exército entrou na área com escavadeiras e houve um intenso tiroteio.

OPERAÇÕES FREQUENTES

Segundo o jornal israelense Haaretz, militantes armados ligados à Brigada Jenin, um grupo informal reunindo várias organizações na Cisjordânia, disseram que abriram fogo contra soldados de Israel. A ministra da Saúde palestina classificou a situação no campo de refugiados como “terrível”, acrescentando que vários palestinos feridos não receberam tratamento dos serviços de emergência porque o Exército de Israel barrou o acesso das equipes ao local.

O Ministério das Relações Exteriores da ANP reagiu ao incidente, pedindo à comunidade internacional e aos Estados Unidos que “interviessem imediatamente” contra o que chamaram de “máquina de matar israelense”.

O Exército israelense, cuja ocupação da Cisjordânia é considerada ilegal pelo direito internacional, realiza operações quase diárias no território palestino, principalmente no Norte, nos setores de Jenin e Nablus, redutos de grupos armados.

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2023-01-27T08:00:00.0000000Z

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