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Produção de etanol de milho cresce 800% em 5 anos e atrai empresas

Investimentos previstos somam R$ 19 bilhões nos próximos sete anos. Brasil já é o segundo maior no mercado global

JOÃO SORIMA NETO joao.sorima@sp.oglobo.com.br SÃO PAULO

Se o Brasil se transformou em referência mundial na produção de etanol deca nade-açúcar, coma maior frota global de veículos movidos com esse biocombustível, o país agora avança em nova frente: o etanol de milho. Atraindo investimentos bilionários e atendendo à agenda mundial de descarbonização, o Brasil já se tornou o segundo maior produtor global de etanol de milho, atrás dos EUA.

Nos últimos cinco anos, a produção saltou de 520 milhões de litros para 4,5 bilhões de litros, um crescimento de 800%. A estimativa da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) é que ela chegue a 10 bilhões de litros até 2030, aumentando a participação no mercado nacional de etanol de 15% para 20%.

O crescimento da produção de milho, especialmente a segunda safra, tornouse uma oportunidade para fabricar o etanol desse grão no país, observa o presidente da Unem, Guilherme Linares Nolasco.

Asafra2020/2021foide87,1 milhões de toneladas, enquanto a safra 2022/2023 chegou a 126,4 milhões de toneladas. As primeiras usinas se instalaram naregiãoCentro-Oeste,maior produtora do país, em estados como Mato Grosso e Goiás. Mas já existem unidades em São Paulo e no Paraná. São 28 usinas no total, que atraíram R$ 15 bilhões em investimentos da iniciativa privada.

—Mais 23 projetos estão em elaboração e pelo menos nove já foram aprovados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Se todos vingarem, serão mais R$ 19 bilhões em investimentos nos próximos sete anos —conta Nolasco.

PRODUÇÃO O ANO TODO

AFSfo ia indústria pioneira do segmento a utilizar exclusivamente o milho como matériaprima. Inaugurou sua primeira usina em 2017 em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Em menos de três anos, colocou em funcionamento duas usinas com investimento de R$ 2,7 bilhões. A capacidade de produção cresceu mais de seis vezes, de 230 milhões de litros de etanol anidro para 1,5 bilhão de litros por ano.

A empresa tem outra unidade em Sorriso, no Mato Grosso, e há ainda uma terceira usina em fase de construção em Primaverado Leste, nomes moestado, prevista para entrarem operação a indano primeiro semestre, com investimento de R $2 bilhões eque elevará a capacidade total de produção para 2 bilhões de litros de etanol/ano. Já são 860 funcionários, e até março serão abertas cem novas vagas em diversas áreas, principalmente na nova planta.

—Além de etanol, a empresa produz óleo de milho, dried distillers grains (DDGs), um resíduo de alto teor nutricional, produzido após a fermentação e destinado à alimentação de bovinos, suínos, aves, peixes e pets. E gera eletricidade a partir de biomassa —conta Rafael Abud, CEO da FS.

Outros grupos estão investindo no setor. A Inpasa inaugurou mais uma unidade em maio em Dourados, Mato Grosso do Sul. O grupo São Martinho já tem operações no setor e a americana ICM e a Agribrasil se uniram para construção de unidade em Canarana, no Mato Grosso.

No caso da cana, a usina fica ociosa ao menos quatro meses no ano, porque não tem matéria-prima disponível para fazer etanol. Com o milho é possível produzir o ano todo, por sua capacidade de armazenagem mais prolongada. Nolasco, da Unem, afirma que as indústrias de etanol de cana-de-açúcar podem adaptar suas instalações para usar o milho como matéria-prima, seja no período de entressafra, com o modelo de indústria flex, ou de forma concomitante, conhecido como modelo full-flex.

SEM DIFERENÇA NO TANQUE

Os subprodutos do milho são usados na nutrição animal, como o DDG, reduzindo custos, além da produção de energia a partir da biomassa. Para o consumidor que coloca etanol de milho no tanque não há diferença, diz o presidente da Unem. Segundo o gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo, o etanol de milho é mais uma alternativa sustentável no segmento de combustíveis dentro da agenda ESG das empresas.

Ele observa que o milho está adaptado para todas as situações de clima e solo no Brasil. Isso ajuda a descentralizara produção, estimulando o desenvolvimento regional.

Para Antônio Jorge Martins, coordenador na FGV de cursos automotivos, o uso de etanol de milho ou de cana como alternativa de combustível limpo, antes da transição para a eletrificação total da frota de automóveis, seria uma alternativa:

— Atualmente as montadoras estão trabalhando na transição para uso de combustível limpo. Mas, para que o etanol fosse viabilizado como uma alternativa anterior à transição para os elétricos, seria necessário que gerasse escala, chegando a outros países.

Economia

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2023-01-27T08:00:00.0000000Z

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