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Como regular inteligência artificial?

PEDRO DORIA blogs.oglobo.globo.com/opiniao coluna@pedrodoria.com.br

Um grupo de pesquisadores pôs o ChatGPT, a ferramenta de inteligência artificial da empresa OpenAI, para fazer provas de Direito na Universidade de Minnesota e de Administração em Wharton. A plataforma que produz textos marcou 60% na primeira e passou dos 70% na segunda — nenhum brilho, mas nota para passar. A Nature, mais importante revista científica do mundo, soltou nesta semana uma norma — autores podem usar a ferramenta, mas devem deixar isso claro. Pois a OpenAI faz planos de soltar uma versão ainda mais avançada da ferramenta neste semestre. Tudo indica que o Google também tornará público o Lambda, em que seus engenheiros trabalham há anos. Não faz muitos meses, um desses engenheiros foi demitido por se convencer de que Lambda era uma entidade capaz de consciência. Não temos, ainda, legislação que regule redes sociais e, no entanto, já precisamos começar a pensar nesse tipo de inteligência artificial — a genAI, inteligência artificial que gera conteúdo.

Já existem à disposição, na internet, inúmeros sistemas. Os mais populares são os que produzem texto ou imagens. Mas há plataformas que separam música de voz. Sabe aquele hit que você gostaria de usar na festa de karaokê? Basta tirar a voz dos cantores. A Meta, dona do Facebook, trabalha noutra plataforma que será capaz de separar as vozes de um mesmo arquivo de áudio. Um arquivo só com a voz da mulher, outro com a do marido, não importa se de vez em quando se atropelam. Uma terceira plataforma tira marcas-d’água de imagens. Inúmeras agências que vendem fotografias e ilustrações divulgam seus produtos com manchas de logomarca ou hachuras em cima. A proteção se tornou inútil. Alguns desses sistemas escrevem código de programação. Há outros capazes de tornar nítidas fotos desbotadas de 40 anos atrás. (É um susto ver com tanta precisão o rosto do menino que fui em meados dos anos 1970.)

Pelo menos uma empresa de segurança, a CheckPoint Research, já identificou o uso das ferramentas por criminosos. Num caso, para escrever e-mails mais convincentes que fazem pessoas cair em golpes de toda sorte. Outros dois casos identificados mostraram que hackers melhoraram com inteligência artificial pública o código de seus malwares, espécies de vírus para computador.

E não se trata só disso. A questão dos direitos autorais não pode simplesmente ser ignorada. Em alguns casos é patente — alguém tem responsabilidade se uma fotografia publicada com marca-d’água é pirateada por inteligência artificial? Noutros casos é bastante mais complicado. Um autor ou um artista é dono do estilo que construiu? Peça ao ChatGPT que reescreva “Hamlet” ao estilo de Hemingway e, se ele não fizer perfeitamente agora, dá só dois anos para ver.

O Congresso americano e os reguladores da União Europeia já estão mergulhados no problema. Uma das ideias iniciais é algo que já existe nos sistemas de busca. Todo site tem um arquivo no diretório raiz chamado robot.txt — lá o administrador determina o que um buscador pode catalogar e o que não pode. Seria o mesmo: não quer que seus textos ou fotos sejam lidos e processados por sistemas de IA? Bloqueia, e todos obedecem. O detentor do direito autoral deveria poder fazer essa escolha.

O Executivo, a Câmara e o Senado Federal, no Brasil, precisam instituir estruturas de estudo permanente das novas tecnologias com pessoal especializado. Porque, a partir de agora, será mudança todo ano. Não para mais.

O Brasil precisa instituir estruturas de estudo permanente das novas tecnologias com pessoal especializado

Opinião

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2023-01-27T08:00:00.0000000Z

2023-01-27T08:00:00.0000000Z

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