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Petrobras aprova Prates presidente, e ações caem

Ações têm queda de quase 3%, devido a preocupações sobre os rumos da estatal

BRUNO ROSA E VITOR DA COSTA economia@oglobo.com.br

Aprovado ontem pelo Conselho de Administração da estatal, Jean Paul Prates renunciou ao cargo de senador pelo PT e já assume o comando hoje. Os papéis da empresa tiveram queda de quase 3% na Bolsa, refletindo, segundo analistas, incertezas sobre a nova gestão da petroleira.

OConselho de Administração da Petrobras aprovou ontem Jean Paul Prates como novo conselheiro e presidente da estatal, conforme antecipou O GLOBO. Ele foi aprovado por maioria, segundo fontes. Apesar de a aprovação já ser esperada, os papéis da estatal caíram quase 3%, em um dia de alta do petróleo no exterior. Segundo analistas, essa queda reflete as incertezas sobre a nova gestão da petroleira.

Entre elas, destacam-se o futuro da política de paridade de preços de combustíveis, hoje vinculada às oscilações do câmbio e do petróleo, e o aumento do investimento em áreas fora da atividade-fim da empresa, como energia renovável, com a consequente redução no pagamento de dividendos.

Ontem, houve uma posse protocolar para que Prates comece a comandar a empresa. Entre suas prioridades nos primeiros meses, de acordo com fontes, está o desenvolvimento de uma nova política de preços, a volta da Petrobras ao mercado internacional e o investimento em refino, fertilizantes e energias renováveis.

Segundo comunicado da Petrobras, o mandato de Prates vai até 13 de abril, quando haverá uma assembleia de acionistas para aprovar sua recondução no comando da companhia. Está prevista para hoje sua chegada à sede da empresa, no Rio.

As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras encerraram em queda de 2,79%, a R$ 29,75, enquanto as preferenciais (PN, sem voto) perderam 2,75%, a R$ 26,20.

Esse comportamento destoou do avanço do petróleo no exterior. O contrato para março do petróleo tipo Brent subiu 1,57%, a US$ 87,47 o barril. Já a cotação do tipo WTI teve alta de 1,07%, a US$ 81,01.

PENTE-FINO NAS VENDAS

O analista de research da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, não acredita na continuidade da atual política de preços da companhia. Segundo ele, pelas últimas falas de Prates, caminha-se para a criação de um fundo de estabilização para movimentos de volatilidade nos preços do petróleo.

— A principal dúvida é qual seria a origem de recursos para compor esse fundo, dado o delicado quadro fiscal do país. Ainda restam incertezas sobre a nova configuração do conselho, se vamos ter nomes mais técnicos —diz Arbetman.

Segundo fontes, Prates vai mudar boa parte da diretoria atual, mas não de imediato. Essas fontes dizem que ele vai escolher, em sua maioria, pessoas que já estão na companhia.

Para a diretoria de Transição Energética e Fontes Renováveis, que será criada, deve vir um nome de fora. Fontes lembram que Mauricio Tolmasquim, ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), está cotado para o cargo, mas ainda não houve convite formal.

O mandato dos demais integrantes da diretoria executiva, segundo a Petrobras, também vai até 13 de abril.

Uma fonte destacou que Prates fará uma espécie de pente-fino em todos os ativos vendidos nos últimos anos. A estatal tem hoje uma série de processos em curso, como a venda de operações no exterior, campos de petróleo, rede de fibra óptica e até direitos minerários. Tudo será examinado com lupa, frisou uma fonte.

DIVIDENDOS NO RADAR

A mudança na política de preços deve ser um dos primeiros temas de Prates, avalia o estrategista de ações da RB Investimentos, Gustavo Cruz. Alterações na política de investimento e de dividendos devem vir em seguida.

— Devemos ver a parte de investimentos voltando a ser expressiva em alguns ramos que não são o core da empresa. Ele (Prates) falou bastante sobre energia limpa. O receio do mercado é que eles voltem a apostar em indústria naval, e isso não funcionou diversas vezes no histórico recente —diz Cruz.

Arbetman, da Ativa, ressalta que o cenário atual ainda é positivo para o ganho das petrolíferas. Segundo ele, o valor mínimo do barril do petróleo para os produtores terem lucro está em torno de US$ 40 — menos de metade da cotação atual.

—Hoje, os recursos são usados para pagamento de dívida e remunerar os acionistas. E o governo tem sido bem claro na sua intenção de altera ressa dinâmica, aumentando seus investimentos em energia renovável e refino. Quando você investe em projetos que têm retorno mais incerto, isso vem nos números, e podemos esperar resultados mais modestos —diz Arbetman.

Prates se reuniu ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, segundo fontes. Ele ainda renunciou ao mandato de senador do PT pelo Rio Grande do Norte, a fim de assumir a Petrobras.

— Prates pode fazer uma boa administração, desde que entenda que a empresa passa, desde 2015, por uma reformulação. Se ele continuar a trajetória que já foi iniciada, podemos ver o mercado ficando menos reticente. Se isso não ocorrer, teremos solavancos nas ações — diz o sócio-fundador da GT Capital, Marcus Labarthe.

No ano, os papéis ON da estatal acumulam alta de 5,46%, e os PN, de 6,94%.

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2023-01-27T08:00:00.0000000Z

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