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GUERRA NA UCRÂNIA AFETA AGENDA VERDE

Guerra acelerou investimentos em segurança energética em todo o mundo mas, na contramão dos compromissos climáticos, aumentou demanda por combustíveis fósseis, em especial o gás

PAULO VASCONCELLOS

Oconflito na Ucrânia acelerou os investimentos em segurança energética, mas, na contramão dos compromissos climáticos, também reacendeu as soluções baseadas em fontes de origem fóssil. Dados atualizados do Climate Action Tracker (CAT), que acompanha a ação climática desde 2009, apontam que o mundo exagerou em sua tentativa de responder à crise energética, pois as emissões relacionadas à nova capacidade de gás agora ameaçam o limite de aquecimento de 1,5°C até o fim do século.

“A corrida do ouro pelo gás é contraproducente ao Acordo de Paris”, diz trecho do relatório apresentado na COP27. “A crise energética causada pela invasão da Ucrânia fez com que governos se esforçassem para escorar segurança energética, mas, em muitos casos, dobrando a aposta nos combustíveis fósseis”.

O passo atrás abala o ritmo da transição energética no mundo, apontam especialistas ambientais eder elações internacionais. No curto prazo, aexpec ta tivaéqu eh aja au mentona produção de energia de origem fóssil e recuperação dos investimentos na produção de petróleo. Só no longo prazo, de acordo coma Agência Internacional de Energia (AIE), o impacto poderá ser o de avanço das energias limpas.

—Houve uma retomada do [uso de] carvão e, se a saída for a energia nuclear, ainda haverá dependência ao urânio russo, masa questão europeia agora é sobreviver ao inverno — afirma Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM.

COMPROMISSO ESQUECIDO

Para Anderson Dutra, sócio líder de energia e recursos naturais, óleo e gás da KPMG, “a transição energética deu um passo atrás para depois dar dois à frente com a aceleração de novas tecnologias de fontes renováveis”.

No Pacto de Glasgow, da COP26, a Aliança Financeira de Emissões Zero (GFANZ), que reúne investidores e instituições financeiras e é responsável pela administração de US$ 130 trilhões (cerca de R$ 692 trilhões), prometeu assumir parcela da descarbonização. Mais de 40 países se comprometeram a eliminar gradualmente o uso da energia a carvão, uma das fontes mais poluentes do mundo, mas, na COP27, o compromisso foi esquecido.

— Os compromissos firmados pelos países na conferência seguem nos pondo no rumo de um aquecimento de 2,4°C até o fim do século — diz Daniela Costa, porta-voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.

O relatório do CAT mostra que o uso global de gás até 2030 precisa estar pelo menos 30% abaixo dos níveis de 2021 para que o objetivo do Acordo de Paris seja alcançado.

O preço do gás natural chegou a cair desde o fim de agos-to porque havia estoque acima do limite esperado e a Europa já buscava alternativas de abastecimento da matéria-prima no Norte da África, Portugal, Espanha e Catar. A alternativa, além do custo de transporte, tem um preço ambiental: o diesel marítimo usado nas embarcações é extremamente poluidor.

Diferente do diesel rodoviário, o óleo usado nos navios precisa de uma temperatura maior do que o de um caminhão para liberar vapor e não tem mistura com biodiesel. O diesel marítimo também têm um teor de enxofre mais de 3 mil vezes maior que o utilizado por veículos pesados, segundo a France Nature Environment, a federação francesa de associações para a proteção da natureza e do meio ambiente.

— A transição energética para fontes limpas é o caminho para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e combater a emergência climática — diz Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).

EXPANSÃO DE CAMPOS

O impacto da crise ucraniana também pode pautar a indústria petrolífera na exploração de novos campos de produção. Depois de um freio por causa da guinada por fontes alternativas, o setor só espera uma definição do cenário de incertezas para decidir se retoma a expansão. O fim da guerra é considerado essencial para a retomada dos compromissos ambientais.

— O processo de transição energética vai sofrer um baque porque haverá necessidade de dinheiro para cobrir os custos energéticos agora — afirma Rudzit.

Para Domingos Valladares, professor da Escola de Negócios da PUC do Rio Grande do Sul “quanto mais durar a guerra, maior será o atraso para a transição energética”.

“Transição energética para fontes limpas é o caminho para combater a emergência climática” _

Marina Grossi, presidente do Cebds

“Acordos firmados pelos países seguem nos pondo no rumo de um aquecimento de 2,4°C até o fim _ do século”

Daniela Costa, do Greenpeace

Especial Cop27

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2022-11-30T08:00:00.0000000Z

2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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