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Jovens ganham reconhecimento inédito na cúpula

Conferência do clima deste ano teve primeiro Pavilhão Infanto-Juvenil; países-membros concordaram em se comprometer com ações para melhorar a educação climática e empoderamento durante as negociações

ANDREA VIALLI

Pela primeira vez na história das conferências de clima das Nações Unidas, crianças e adolescentes foram reconhecidos como agentes transformadores na questão das mudanças climáticas e os governos, instados a incluí-los na elaboração e implementação de políticas públicas relacionadas ao tema.

A COP27 organizou o primeiro Pavilhão Infanto-Juvenil, um espaço liderado por movimentos infantis e juvenis, com atividades voltadas à participação de crianças e jovens e debates. Ao final, os países membros da convenção do clima concordaram em se comprometer com ações para melhorara educação climática e o empoderamento das crianças dentro do processo for maldas negociações.

A inclusão de crianças e jovens nas discussões sobre mudanças climáticas já era uma reivindicação de movimentos sociais ligados à infância nas cúpulas anteriores, e ganhou força com a publicação, em agosto de 2021, do primeiro índice de risco climático para crianças, que classificou os países com base na exposição da infância a riscos climáticos e ambientais, bem como sua vulnerabilidade a eventos extremos, por meio do acesso a serviços essenciais, como água, saneamento e saúde.

BRASIL BEM ATRÁS

O relatório foi elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) em colaboração com o Fridays for Future, o movimento global de jovens pelo meio ambiente criado pela adolescente sueca Greta Thunberg. Revelou que 1 bilhão de crianças e adolescentes, quase metade dos 2,2 bilhões de meninas e meninos do mundo, vivem em um dos 33 países classificados como de “risco extremamente elevado ”— a lista é encabeçada pela República Centro-Africana, Chade, Nigéria, Guiné, Guiné-Bissau e Somália, todos no continente africano.

O Egito, que sediou a COP27, está na 58ª posição e o Brasil foi considerado como de risco climático médio a alto, ocupando o 70º lugar entre os 163 países do índice.

O relatório reverberou na COP26, ano passado em Glasgow, Escócia, por trazer, pela primeira vez, um quadro completo da fragilidade das crianças e adolescentes às mudanças climáticas. Somado à cada vez maior participação de lideranças juvenis em protestos pela ação climática, o tema da infância sensibilizou a organização da COP27.

Em seu texto final, a conferência incentivou os estados membrosa incluir jovens representantes e negociadores em suas delegações e organizar reuniões para esse público nas próximas conferências.

— O tema avançou demais, e este é um dos ganhos da COP27, fruto dos movimentos da sociedade civil. Agora a expectativa é criar um processo formal de participação do Brasil — afirma JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza do Instituto Alana.

A organização, que trabalha com apautada infância, passou a incorporar atemática ambiental aos seus eixos estratégicos em 2017, relacionando-a aos direitos das crianças.

Durante a COP27, um grupode organizações da sociedade civil entregou um acarta aberta das juventudes para a equipe de transição do futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, solicitando maior atenção da próxima gestão para as questões envolvendo jovens e mudanças climáticas. Entre os pedidos, estão a criação de um Conselho Nacional de Juventudes pela Ação Climática, com atuação interministerial e deliberativa e orçamento específico para ações diretas nos territórios e comunidades. O documento propõe ainda que os representantes sejam escolhidos de forma participativa, levando em conta os seis biomas, a diversidade de povos e gênero do Brasil eque o conselho possa atuar deforma agarantiraimple mentação de medidas de mitigação e adaptação e a criação de novas estratégias de resiliência climática que levem as juventudes em consideração.

O Engajamundo, uma das organizações que assinam a carta, vem participando de COPs do clima desde 2019 e reuniu a maior delegação para ir acompanhar as discussões em Sharm elSheikh, com 19 jovens no total, ações de comunicação, advocay e ativismo.

PRIMEIRO PASSO

De acordo com Mirela Coelho,coordenadora do grupo de trabalho demudanças climáticas do Enga jamundo, a COP27 foi um passo inédito na participação dos jovens brasileiros nas discussões sobre o clima, mesmo coma dificuldadede bancar os custos coma viagem e a falta de apoio institucional. Aos 21 anos, a ativista é natural de Feira de Santana e cursa engenharia de energias na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

—Esta COP teve a maior delegação brasileira de juventude e foi um espaço importante de articulação, além de ter avançadona questão da justiça climática —diz Coelho.

“O tema avançou demais, e este é um dos ganhos da COP27, fruto dos movimentos da sociedade _ civil

JP Amaral, do Instituto Alana

“Esta COP teve a maior delegação brasileira de juventude e foi um espaço importante de articulação” _

Mirela Coelho, do Engajamundo

Especial Cop27

pt-br

2022-11-30T08:00:00.0000000Z

2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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