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Governos chegam a acordo sobre dívida climática

Países desenvolvidos seguem sem entregar até os recursos já acordados

JIANE CARVALHO

ACOP27 chegou ao fim praticamente como começou, pelome nos quando oassun toé o financiamento climático e alenta liberação de recursos pelos países desenvolvidos voltados à mitigação e adaptação das economias. Os principais embates ficaram em torno do reconhecimento de que é preciso indenizar as nações mais pobres afetadas pelas mudanças no clima, oque culminou coma decisão de criar um fundo de perdas e danos. A necessidade de garantir que os recursos para financiamento climático, já acordados e descumpridos pelos países desenvolvidos, cheguem ao seu destino segue em aberto.

Lançado às vésperas da COP27, um relatório do Programadas Nações Unidas para o Meio Ambiente( P numa) sob reos investimento sem políticasde adaptação climática ao redor do globo confirmou a dificuldade em fazer com que os acordos sejam cumpridos. “Muito pouco, muito devagar” éo subtítulo do relatório do P nu maque apontou o fracasso do compromisso instituído há mais de uma década.

Os países desenvolvidos se comprometeram adoar US$ 100 bilhões (R$ 530 bilhões) por ano até 2020 para projetos de adaptação e mitigação climática nos países pobres. Na prática, aponta o Pnuma, os recursos liberados sempre ficaram abaixo da meta e foram de US$ 83,3 bilhões (R$ 440 bilhões) em 2020. Embora, segundo oP numa, as necessidades anuais estimadas de adaptação estão em alta e variem de US$ 160 bilhões (R$ 850 bilhões) a US$ 340 bilhões (R$ 1,8 trilhão) até 2030, não houve alteração na meta para os próximos anos.

— Os esforços globais para planejar, financia reimplementara adaptaçãoà mudança climática não estão acompanhando os riscos crescentes. O dinheiro saia conta gotas. Os países desenvolvidos até aumentam de forma substancial investimentos em energia limpa, por exemplo, mas aparcela que seria para financiar ações em outros países é tema polêmico — afirma Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade.

Toni avalia como positiva a atitude dos países em desenvolvimento que decidiram não avançar em novos compromissos para mitigação antes que as nações desenvolvidas cumpram sua parte.

— Foi uma atitude firme, propositiva, que não resolve, mas deve repercutir na próxima COP e pressionar.

Marcelo Laterman, portavoz de Clima e Justiça do Greenpeace, destaca as agendas internas, próprias dos países desenvolvidos, como um fator importante eque dificulta a liberação de recursos.

—Não podemos desconsiderar que os países desenvolvidos vivem momentos diferentes, com agendas e interesses diversos. Não é algo simples chegara acordos, aprovar internamente e executar.

Além da lenta liberação de recursos, o porta-voz do Greenpeace critica o formato da ajuda, lembrando que de 2016 a 2020,72% do financiamento climático para mitigação e adaptação foi via empréstimos reembolsáveis.

—Quando falamos da responsabilidade dos países desenvolvidos, os recursos deveriam ser doado senão reembolsáveise com juros. É um debate difícil de ser travado, mas importante — diz ele, que acredita que a solução para destravar o financiamento poderá vir pela pressão exercida pela sociedade civil. — Tem leis e mecanismos sendo criados em vários países para cobrar o cumprimento de metas de descarbonização e mitigação de efeitos do clima, que passa pelo financiamento.

CORTINA DE FUMAÇA

O tema financiamento climático e transferência de recursos dos países desenvolvidos para outras nações é tão complexo que até mesmo a vitória das nações mais vulneráveis que conseguiram o compromisso da criação de um fundo para indenização por perdas e danos é vista com cautela.

— Claro que é um debate importante, mas acabou desviando a atenção de outro debate essencial que são os financiamentos para mitigação e adaptação que ficaram em segundo plano. Já estão atrasados —comenta Rodrigo Sluminsky, coordenador do Eixo de Awareness do Laclima. — Para mim foi uma grande cortina de fumaça.

Especial Cop27

pt-br

2022-11-30T08:00:00.0000000Z

2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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