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‘THRILLER’: AOS 40, COM JEITO DE IMORTAL

SILVIO ESSINGER silvio.essinger@oglobo.com.br

‘Thriller’: Marco de Michael Jackson faz 40 anos com ar de insuperável

Não foi por falta de tentativa, mas nunca houve um disco igual a “Thriller”. O sexto álbum solo de Michael Jackson —cantor que ainda criança se destacou dos irmãos mais velhos no grupo americano Jackson 5 — segue como o disco mais popular da história da música, tendo batido a assustadora marca de 70 milhões de cópias. Hoje, nos 40 anos do seu lançamento, ele coleciona feitos aparentemente impossíveis de serem replicados, mas que ainda servem de parâmetro para boa parte dos grandes artistas pop da era atual, de Weeknd e Anitta a Justin Bieber e Drake.

Com seus 43 minutos de duração e nove faixas embaladas em uma das capas mais reconhecíveis da cultura ocidental, “Thriller” foi o disco que melhor simbolizou os anos 1980 no imaginário global: um tempo de oportunidades para todos, nos quais um jovem negro poderia conquistar o estrelato mundial pela simples força do talento e da perseverança. Sucesso na pós-discoteque com o álbum “Off the wall” (1979), Michael tinha o necessário para dar a partida: investimento da gravadora CBS e um produtor que partilhava de sua ambição (Quincy Jones).

Ou seja: a combinação perfeita para que o cantor pusesse em prática o plano de gravar um disco em que cada faixa fosse um grande acontecimento e pudesse ser lançada como single. Perfecionista e centralizador, Michael Jackson não se limitou no entanto às suas composições. Do inglês Rod Temperton (que lhe havia presenteado com o hit “Rock with you”), conseguiu a faixa-título, “Baby be mine” e “The lady in my life”. E de Steve Porcaro, tecladista dos soft-rockers do Toto (que tocam no disco), trouxe “Human nature”.

As semelhanças com os discos do pop mainstream de 2022 (dominados por produtores e times de compositores) não termina por aí, já que em “Thriller” Michael e Quincy também apostaram na sua cota de feats: Paul McCartney (de quem o cantor havia gravado “Girlfriend” em “Off the wall”) comparece em um dueto de “The girl is mine” (de Michael). E o guitarrista Eddie Van Halen se soma à base pesada do Toto em “Beat it”, visionária fusão de R&B e hard rock feita no contexto dos anos 1980.

DISCO E MÚSICO FLUIDOS

Mas essa união das canções e feats certos não teria funcionado tão bem se “Thriller” não tivesse uma sonoridade tão bem engendrada. Aproveitando-se de forma artesanal de toda a tecnologia de estúdio disponível em Los Angeles, Michael e Quincy conseguiram borrar as distinções entre R&B, pop e rock, num disco que poderia ser ouvido sem sobressaltos tanto pelo público branco quanto pelo negro — que, 40 anos atrás, tinham paradas de sucessos distintas nos EUA.

E não é só em sua musicalidade que esse álbum revelou um Michael Jackson fluido. As músicas do disco trazem muita luz, mas também alguma sombra (no filme de terror de “Thriller”) e perigo (em “Beat it”). Mostram o cantor romântico, namorinho de portão, mas também o mais sexualizado (“Billie Jean” e “Human nature”). Um homem negro com feições cada vez mais brancas e femininas, com atitudes nada usuais, como a de posar no encarte com um bebê tigre (muitos anos antes de “Tiger King”!). Um prenúncio da figura excêntrica e em permanente mutação (de fazer inveja a David Bowie) que ele revelaria nos anos seguintes, e que, entre consagração e tragédia, o seguiria até a morte.

Toda essa imagem do Michael Jackson pós-“Thriller”, de alguém maior que a vida — que hoje os astros simultaneamente perseguem e rejeitam —, devese, em grande parte, a ele ter sabido aproveitar uma novidade de então: a MTV. Depois da luta de sua gravadora para que o clipe de “Billie Jean” fosse tocado na emissora (que privilegiava os artistas do rock e, por causa disso, recebeu acusações de racismo), foi a vez de Michael brigar com a CBS para que ela investisse US$ 1 milhão em sua ideia maluca: um filme de 17 minutos para a cinematográfica faixatítulo, dirigido por John Landis (de “Um lobisomem americano em Londres”).

A MTV, Hollywood e o pop nunca mais foram os mesmos depois do clipe de “Thriller”. E 40 anos depois, tudo o que as estrelas almejam para suas criações é um audiovisual que as leve para todas as telas, os fones e os alto-falantes do mundo — assim como Michael Jackson chegou um dia.

MAIOR SUCESSO DE MICHAEL JACKSON E REFERÊNCIA NA HISTÓRIA DA MÚSICA, DISCO-SÍMBOLO DOS ANOS 1980 É LEMBRADO POR FEITOS QUE ATÉ HOJE PARECEM IMPOSSÍVEIS DE SEREM SUPERADOS

Segundo Caderno

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2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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