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MANUSCRITOS DESCOBERTOS ABREM MAIS CAMINHOS PARA ENTENDER HEGEL

RUAN DE SOUSA GABRIEL rsgabriel@edglobo.com.br SÃO PAULO

Transcrições até então desconhecidas dos cursos do filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) foram encontradas na Alemanha e podem “oferecer uma nova compreensão” da obra do autor de “Fenomenologia do espírito”, segundo noticiou o jornal britânico The Guardian. Mais de 4 mil páginas de anotações das aulas de Hegel foram localizadas na arquidiocese de Munique e Freising por Klaus Vieweg, um dos mais destacados estudiosos do filósofo que produziu uma obra tão influente quanto impenetrável. Tanto que o britânico Bertrand Russell (18721970) o chamou de “o mais difícil de entender de todos os grandes filósofos”.

“A descoberta desses manuscritos é comparável a encontrar uma nova partitura de Beethoven”, disse Vieweg, que é professor da Universidade de Jena, na Alemanha, onde o próprio Hegel lecionou. Segundo ele, os manuscritos recémdescobertos ajudam a compreender as origens da teoria estética hegeliana.

O autor das transcrições é Friedrich Wilhelm Carové, aluno da Universidade de Helderberg, onde Hegel também deu aulas entre 1816 e 1818. A papelada será reunida numa edição organizada por um time de hegelianos capitaneado por Vieweg e Christian Illies, professor da Universidade de Bamberg, também na Alemanha. Ao Guardian, Illies lembrou que boa parte da obra de Hegel só chegou ao público graças às anotações de alunos, como os de seus célebres cursos de estética, transcritos por Heinrich Gustav Hotho, aluno da Universidade de Berlim, por onde o filósofo também passou.

Foi um leitor da biografia de Hegel, escrita por Vieweg, que sugeriu que ele pesquisasse o arquivo de Friedrich Windischmann, professor de Teologia Católica em Munique, cujo pai, Karl Hieronymous Windischmann, fora amigo de Hegel. A correspondência de

Hegel indica que Carové dera suas anotações de presente a Windischmann, o pai.

Os pesquisadores suspeitam que, no meio da papelada, esteja a primeira versão dos cursos de estética do filósofo. “Hegel deu aula de Estética primeiro em Heidelberg. Quando começou a lecionar em Berlim, já tinha reelaborado significativamente suas ideias”, afirmou Illies. “Esta é a primeira vez que se encontra qualquer transcrição do curso original.”

Vieweg explicou ao Guardian que as transcrições apresentam a primeira concepção de arte formulada por Hegel, assim como as diferenças entre arte e religião e comentários sobre textos de Aristóteles e também sobre peças de Sófocles (“Antígona”), Shakespeare (“Hamlet”) e Schiller (“Os ladrões”). A discussão sobre a liberdade, uma das principais preocupações filosóficas de Hegel, também aparece nas transcrições.

“A transcrição termina com uma ênfase no eu, na liberdade individual e sua representação na arte. Mostra que a arte, sem dúvida, contribui para uma ideia que é crítica em nossos dias, a de queaeducaçãolevaàliberdade”, disse Vieweg, que não descarta encontrar novos tesouros hegelianos por aí.

TRANSCRIÇÕES DE CURSOS FORAM LOCALIZADAS NA ALEMANHA E PODEM OFERECER NOVOS ÂNGULOS DO PENSAMENTO DO FILÓSOFO EM ÁREAS COMO LIBERDADE INDIVIDUAL E ARTE

Segundo Caderno

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2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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