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SELEÇÃO AMENIZA TENSÃO DA COPA COM PRESENÇA CONSTANTE DOS FAMILIARES

DIOGO DANTAS Enviado especial diogo.dantas@extra.inf.br DOHA

Oambiente da seleção brasileira na Copa do Mundo foiestruturadocomumapreocupação principal, que está por trás das duas vitórias iniciais e a classificação antecipada às oitavas de final: a saúde dos jogadores, não só física, como mental, é a prioridade no dia a dia de trabalho e de jogos. Das frases que se multiplicam no vestiário do Centro de Treinamento localizado no estádio Grand Hamad, uma resume com perfeição a intenção nos bastidores,queédetiraropeso da disputa de um Mundial para um grupo mais jovem do que em 2018, mas sem abrir mão da responsabilidade: “Concentrem e desfrutem”.

O lema tem sido alcançado com um grande entrosamento entre os atletas dentro e fora das quatro linhas, mas também com interação constante junto aos familiares. Sem falar nos cuidados oferecidos por ex-campeões do mundo que exercem papéis variados na comissão técnica e dividem sua experiência.

— A gente vê muita coisa, no hotel, no treino, no vestiário. Essa alegria deles, na batucada. Há responsabilidade e descontração — afirmou Taffarel, preparador de goleiros e campeão do mundo em 1994.

Diferentemente da Copa de 2018, quando havia uma mistura maior com a presença dos convidados dos atletas no mesmo hotel, agora é tudo dividido, com momentos para trabalhar e para relaxar. Em Sochi, o dia a dia era de convivência diária dos atletas com seus entes próximos. E os envolvidos remanescentes do último torneio admitem que dessa vez o plano tem sido melhor. Na Rússia, houve vazamento de treinos por parte de amigos de jogadores, reclamações de parentes sobre escalação e pouca privacidade. A circunstância enfraqueceu o então diretor de seleções, Edu Gaspar, que era quem coordenava tudo, acima de Tite. Hoje, Juninho Paulista, campeão em 2002, ocupa a função e é visto com semblante tranquilo por verificar que esse tipo de preocupação tem dado resultado.

JANTAR COM FAMÍLIA

Entre curtos intervalos, um clima mais seco e fuso horário bem diferente do Brasil, a concentração da seleção brasileira ganha, após as primeiras partidas, um ar cada vez mais familiar, com a presença de parentes e amigos sempre que é possível. A cada dia que passa o otimismo cresce, e o CT recebe mais pessoas e mais animação. Mas quando se aproxima da preparação para o próximo jogo, há uma blindagem gradativa. Assim que a rotina e as obrigações acabam, como na reapresentação de ontem após o jogo com a Suíça, as crianças entram em campo. Filhos pequenos dos jogadores quebram o clima e filtram a pressão ao brincarem com bola junto aos pais, tios e membros da comissão técnica. Depois da atividade, os jogadores foram liberados para jantar com os familiares em Doha e se reapresentar no hotel apenas para dormir, afrouxando ainda mais o protocolo. Hoje e amanhã, antes do jogo contra Camarões, o foco será retomado e a privacidade volta a prevalecer.

O contato entre as famílias dos atletas e membros da comissão acontece desde o início da preparação, na Itália, quando os treinos eram abertos, mas no hotel não.

Desde o primeiro jogo da Copa, logo que a partida termina, os jogadores vão se encontrar, conversar e tirar fotos com familiares nas arquibancadas. O comportamento tem se tornado hábito, assim como é frequente o discurso de que em primeiro lugar está a pessoa, não o jogador.

O exemplo mais emblemático do momento é a recuperação de Neymar e Danilo, e agora Alex Sandro, que têm recebido solidariedade dos demais jogadores, preocupados que os amigos fiquem bem em primeiro lugar, e não que voltem correndo para jogar. A comemoração de Vini Jr. no gol anulado contra a Suíça imitando o ídolo ilustrou bem como o camisa 10, mesmo em recuperação de lesão, segue vivendo esse ambiente.

—É um cara muito importante para os demais jogadores. Vejo o quanto eles gostam de estar perto dele, fora e dentro de campo. Uma referência muito grande — apostou Taffarel.

Há, por outro lado, uma rotina própria dos atletas entre si nos ambientes fechados, que também contagia por aliar leveza e compromisso. A batucada no ônibus para os jogos e no vestiário minutos antes da partida se tornou uma marca que vem desde os primeiros treinos em Turim.

— A gente vê o quanto há de entrega, profissionalismo, no pré e no pós-jogo — salientou César Sampaio, auxiliar de Tite e vice-campeão em 1998.

ENCONTRO COM TORCEDOR

Sampaio, Juninho, Taffarel e o observador técnico Ricardo Gomes concederam entrevista coletiva que reforçou a imagem de um grupo protegido por grandes campeões. No fim do bate-papo, sem a presença de jogadores, posaram para foto com Zinho e Júnior, que também integram a seleta lista de atletas com títulos mundiais.

Ontem, a CBF promoveu o encontro de Tite com o torcedor palestino que carregou Lucca, um dos netos do treinador pelo metrô de Doha, após a estreia do Brasil na Copa do Mundo. O técnico havia declarado numa entrevista que queria conhecer o torcedor, que agiu ao ver a dificuldade de sua nora com duas crianças na saída da partida.

O palestino, chamado Husam, assistiu de perto ao treino da seleção, tirou foto com o treinador e ganhou uma camisa autografada por Tite e pelos jogadores. Já a nora do treinador, Fernanda Bacchi, foi presenteada por Husam com um doce árabe típico.

Catar 2022

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2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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