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Operação mira bicheiros e oficiais da Polícia Militar

Operação do MP tem como alvos bicheiros e oficiais da Polícia Militar

CHICO OTAVIO chico@oglobo.com.br

Investigação contra corrupção e lavagem de dinheiro ligadas a jogos de azar teve 26 mandados de prisão expedidos.

OMinistério Público do Rio (MPRJ) deflagrou ontem uma operação para combater os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados à exploração de jogos de azar. Entre os alvos dos 26 mandados de prisão, está o bicheiro Bernardo Bello, que não foi localizado pelos agentes. Um dos endereços dos 57 mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça foi a casa do coronel Rogério Figueredo de Lacerda, ex-secretário estadual de Polícia Militar. Até o início da tarde, apenas dez pessoas tinham sido presas.

Na investigação, o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPRJ, identificou a prática de corrupção sistêmica em batalhões da Polícia Militar, sendo alvos de busca e apreensão, ao todo, quatro oficiais da corporação. Nas buscas de ontem, as equipes encontraram R$ 435 mil em espécie na casa do sargento da PM Alexandre Ribeiro da Silva, também denunciado como integrante da organização. Já na casa de Altamir Senna Oliveira Junior, o Mizinho, as equipes apreenderam R$ 31.800 em dinheiro. Ele, que seria inspetor da Secretaria estadual de Administração Penitenciária e teria sido candidato a deputado federal na última eleição, está entre os presos na operação.

FRAUDE E VIOLÊNCIA

A investigação foi conduzida pelo Gaeco a partir da identificação do responsável por confeccionar as cartelas para bingos ilegais explorados por organizações criminosas no Rio, entre os quais um descoberto em Copacabana, na Zona Sul. A casa funcionaria com a “permissão” de policiais militares. De acordo com a Promotoria, para viabilizar, potencializar e assegurar vantagens financeiras, as organizações utilizam diferentes modos de fraudar os resultados dos jogos, corrompem PMs e usam violência para a conquista de território. Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Especializada em Crime Organizado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

O coronel Figueredo, destituído do cargo de secretário da PM em agosto do ano passado, não foi denunciado pelo MP. Em nota, o governo do estado informou que a troca de comando na pasta fez parte de uma rotina administrativa, como acontece em outras áreas. O nome do oficial apareceu na investigação do Gaeco após o fechamento do Bingo Nova Cascadura, no início de 2019. Para reabrir a casa clandestina, a advogada Denildes Abreu Palhano teria usado a influência junto ao coronel e a outro oficial da PM, o major Rômulo de Oliveira André, para promover um encontro entre um subcomandante do batalhão da área e um dos donos do bingo. O caso está relatado na denúncia do MP.

As provas, diz o Gaeco, foram obtidas com a quebra do sigilo telemático de um dos donos do bingo, o contraventor Carlos Alberto Nassar Júnior, o Nassar ou Barba. Após o fechamento da casa, onde ele diz que mantinha 600 funcionários, Nassar acionou Denildes para interceder junto a oficiais da PM responsáveis pela ação. Ela procurou o subcomandante da PM da área, o major Alexandre Gualberto da Silva, e conseguiu agendar o encontro com Nassar. Nas conversas, ela diz ser “amiga de Rômulo e Figueredo” e que obteve o número dele com Rômulo.

A reunião foi marcada para dois dias depois, 2 de fevereiro de 2019, no próprio batalhão. A advogada garantiu ainda que o contraventor poderia ir com tranquilidade, que ele seria preso, porque ela era “amiga do Figueredo”.

O Gaeco está convencido de que os dados produzidos pela investigação “conferem justas suspeitas de que o encontro de Nassar com o major Gualberto, agendado por Denildes, contou com a conivência do major Rômulo de Oliveira André e do coronel Rogério Figueredo de Lacerda”. Depois do encontro, como sustenta a investigação, as casas de apostas da área continuaram operando normalmente.

TRÊS NÚCLEOS CITADOS

A advogada Denildes e o contraventor Nassar são citados na denúncia do MP como integrantes do Núcleo Cascadura, um dos três citados na operação de ontem, que ganhou o nome de Fim da Linha. Os outros dois são o Olímpico, comandado por Bernardo Bello, e o Saens Peña. Ao todo, foram denunciadas 23 pessoas.

Denunciado por corrupção ativa e organização criminosa, Bernardo Bello é um antigo conhecido da polícia e da Justiça. Em janeiro, ele foi surpreendido e preso no aeroporto de Bogotá, na Colômbia, enquanto supostamente seguia uma rota de fuga. Acusado de ordenar a morte do rival Alcebíades Garcia, o Bid, na disputa de pontos de caça-níqueis e jogo do bicho, ele acabou libertado e retornou ao Brasil por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Investigações concluíram que a morte de Bid foi motivada por disputa com Bello pelo controle dos pontos da contravenção na Zona Sul do Rio. Inconformado com o avanço de Bello sobre sua área, Bid teria ameaçado retomá-los. Bid era irmão de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, ex-sogro de Bernardo, também assassinado, em 28 de setembro de 2004, na Freguesia. Bello foi casado com uma das filhas de Maninho, Tamara Garcia.

As investigações da Polícia Civil e do Ministério Público, que levaram à prisão de Bello na Colômbia, revelam ainda uma íntima relação de Bello com o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020, durante uma operação policial na Bahia. Adriano chefiava o grupo de matadores de aluguel Escritóriodo Crime e foi acusado de integrar uma milícia no Rio.

Outro denunciado é Marcelo Simões Mesqueu (Marcelo Cupim), que teria arrendado de José Caruzzo Escafura, o Piruinha, as operações do jogo do bicho em parte da Zona Norte do Rio. Em 2016, chegou a ser condenado a quatro anos e seis meses de prisão pela Justiça Federal. Ele é acusado de chefiar quadrilha que explora caça-níqueis em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.

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