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JUVENTUDE AMEAÇADA

6 a cada 10 crianças e adolescentes com HIV não recebem tratamento

MARIANA ROSÁRIO mariana.rosario@sp.oglobo.com.br SÃO PAULO

Seis a cada dez crianças de 5 a 14 anos vivendo com o vírus HIV no mundo não recebem tratamento adequado para o controle da infecção. O dado alarmante está presente em um novo relatório publicado ontem pelo Unaids, programa da Organização das Nações Unidas (ONU) ligado às medidas de enfrentamento ao vírus da Aids — síndrome que inviabiliza o sistema de defesa do organismo contra infecções.

Em números absolutos, o volume de meninos e meninas até a adolescência que seguiam sem tratamento para o controle do vírus foi de 800 mil, em 2021, mostrou o relatório.

O índice de crianças com a infecção revela a persistência de um problema já conhecido: a infecção vertical, que ocorre quando a gestante passa o vírus para seu bebê. Trata-se de uma ocorrência controlável quando há o pré-natal adequado e acolhimento da grávida positiva para o vírus, explicam os especialistas.

O relatório tem como foco as desigualdades sociais e econômicas, classificadas como grandes entraves para eliminar a epidemia de HIV e Aids até 2030 no mundo, uma meta estabelecida pelas Nações Unidas.

—Temos todas as ferramentas para acabar com a epidemia. Temos tratamento e meios para prevenção. Podemos seguir esse compromisso de acabar com a epidemia a 2030, mas sempre que se reduz o orçamento de medicamentos porque temos outras prioridades, perdemos esse caminho. É triste porque é (uma meta) possível. Podemos ser um país, o Brasil, que pode acabar (com o avanço do doença). A única barreira que nos impede são as desigualdades —afirma ao GLOBO Claudia Velasquez, diretora e representante do Unaids no país.

Em relação às crianças, a especialista informa que no Brasil a situação é mais bem controlada, com algumas cidades conseguindo praticamente eliminar a possibilidade que uma mãe infectada passe o vírus para o bebê.

—Ainda existe a transmissão vertical, mas não é tão crítica (como no mundo).

Em geral, temos tratamento disponível. Há algumas pessoas que apresentam resistência às linhas de tratamento disponíveis, por isso é importante o investimento em ciência— diz a representante do Unaids.

De acordo com Velasquez, 17% dos pacientes que foram identificados com o vírus, no Brasil, não aderem ao tratamento. Parte até chega a iniciá-lo mas não permanece em acompanhamento constante — o que permite que esses indivíduos sigam disseminando a infecção. Quando estendese a lupa aos que não buscaram o diagnóstico, estimase que 27% dos brasileiros que tiveram contato com o vírus não estão sob os cuidados necessários.

MASCULINIDADE TÓXICA

Um dos principais destaques da pesquisa é um levantamento sobre regiões com alta incidência de HIV. Nesses locais, as mulheres submetidas à violência por parte de seu parceiro enfrentam uma chance 50% maior de ser infectadas pelo HIV. Em 33 países, de 2015 a 2021, apenas 41% das mulheres casadas, com idades entre 15 e 24 anos, podiam tomar suas próprias decisões sobre saúde sexual.

A amostragem diz respeito às regiões da África Subsaariana e outros países com entraves econômicos e sociais, caso do Haiti, Filipinas e Albânia. Claudia Velasquez, porém, diz que a violência de gênero é também um tema sensível ao Brasil e que afeta ao enfrentamento à doença.

O documento ainda aponta que meninas da África Subsaariana são três vezes mais propensas a contrair o vírus HIV do que seus parceiros do sexo masculino. Outra pesquisa, também citada pelo levantamento, mostra que mulheres com histórico de violência doméstica têm o triplo de chance de também ter contato com o vírus.

O relatório ainda ressalta que as meninas que permanecem na escola até a conclusão do ensino médio têm reduzida em até 50% sua vulnerabilidade à infecção.

No Brasil, relatórios mais antigos mostram que as desigualdades seguem em aceleração. No começo do ano, o Unaids mostrou que, entre 2010 e 2020, as mortes de negros por HIV aumentaram 10,4% enquanto os óbitos de brancos caíram 10,6%. A detecção de novos casos também seguiu o padrão: os registros entre pessoas negras aumentaram 12,9% enquanto entre brancos caíram 9,8%.

Não há cura para a infecção do vírus HIV, mas a ciência apresenta excelentes respostas para o controle da sua disseminação e ação no organismo. Impedindo, inclusive, que pessoas que testaram positivo para a doença não sigam contaminando outras —desde que sigam rigorosamente o tratamento, que consiste em tomar medicamentos diários e realizar exames sistemáticos para averiguar sua carga viral.

Saúde

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2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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