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‘TRABALHO HÍBRIDO É OPORTUNIDADE PARA CARRO VOADOR DECOLAR’

ADRIANA LORETE/1-12-2018 (risos). *O repórter viajou a convite da organização do Web Summit

Abrasileira Eve, companhia controlada pela Embraer que está na fronteira do desenvolvimento dos eVTOLs — “carros voadores”, no popular —, enxerga no fenômeno do trabalho híbrido uma oportunidade para que a categoria decole. Quem conta é André Stein, co-CEO da Eve, que conversou com a coluna entre uma palestra e outra no Web Summit, evento de tecnologia ocorrido em Lisboa há algumas semanas.

A Eve chegou à Bolsa de Nova York este ano. Mas, do ponto de vista operacional, em qual estágio está a companhia?

Esperamos entrar em serviço em 2026 com o veículo, mas não estamos fazendo apenas o eVTOL — que estão chamando de “carro voador”, embora não seja um carro, mas um avião de mobilidade aérea urbana.

Esse termo incomoda (risos)?

Eu já me entreguei Mas é uma aeronave elétrica de pouso e decolagem vertical, queétambémdi ferente de um helicóptero. Eleéu ma ruptura em relação ao que há hoje disponível. É muito mais eficiente que o helicóptero, até pela própria eletrificação, o que dá mais liberdade de projeto. O motor elétrico é muito mais simp lesque omo toràc ombus tão,é muito meno remais leve. Você tem oito motores para decolar verticalmente, mas, uma vez que decolou, você desliga esses motores e usa outro para andar em cruzeiro, em processo até sete vezes mais eficiente. E você também endereça outro grande problema do helicóptero urbano, queéoruído.Vo cê sobrevoa a cidade de um jeito extremamente silencioso.

E vocês estão em qual estágio do cronograma?

No começo deste ano tivemos aprovação do processo de certificação pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que foi um passo fundamental. Então, estamos hoje nesse processo de desenvolvimento com todo o DNA da Embraer, de ter feito 30 modelos diferentes de aeronaves nos últimos 25 anos. Estamos aplicando os mesmos processos. Temos trabalhado com provas de conceito, mas também com ferramentas bem conhecidas, como simuladores, túnel de vento etc. Mas nosso grande foco, mais do que tentar mostrar para o investidor que estamos indo para frente, é realmente a entrada em serviço, que envolve muitos outros aspectos.

Quais?

Toda aparte de serviços para esse novo ecossistema, se japara operação do nosso próprio eVTOL, seja serviço para “vertiportos”, operadores de outros veículos etc. E você tem um aparte também queé muito importante, queéocontr olede tráfego aéreo urbano. Estamos desenvolvendo uma série de software que vão permitir voar de um jeito mais eficiente e crescer o volume de operações na cidade.

Por que isso é tão importante?

Numa cidade como São Paulo, por exemplo, você pode ter 400 eVTOLs em um mercado maduro. Então, é preciso gerenciar isso com um sistema de controle de tráfego aéreo eficiente.

Mas é muito diferente do que se faz com helicópteros?

Tem que caber todo mundo, porque você vai continuar compartilhando o espaço aéreo. Mas ele é bem diferente do de hoje. Hoje você tem muito desperdício de energia, porque você voa de um jeito muito solto. Então, você tem que otimizar as rotas. Servem para isso exercícios como o que fizemos no Rio de Janeiro, onde criamos uma rota nova junto ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea)enaqu alvo amos com um helicóptero tradicional. Uma das razões foi entender como se faz hoje e entender onde estão os desperdícios. Fizemos a mesma coisa em Chicago agora. Outro aspec toé a escalabilidade.

Em que sentido?

Hoje, no Centro de São Paulo, você não consegue voar mais que seis helicópteros ao mesmo tempo, porque não é um sistema otimizado para a mobilidade aérea urbana. Precisamos permitir essa escalabilidade, mantendo o nível de segurança.

Mas qual modelo de negócio vocês estão imaginando? Vocês vão vender aeronaves para companhias que vão operar esse sistema?

É isso. No futuro, você pode até ter o modelo individual. Mas nosso foco é mobilidade como serviço, através de parcerias com operadores. Queremos participar mais da operação, mas sem jamais ser o operador. É aproveitar que um pedaço da mobilidade está sendo reinventado para pensar em modelos de negócios diferentes. Mas sempre com parceiros locais. No Brasil, já temos vários clientes, como Helisul, Avantto e Flapper.

Vocês imaginam uma utilização com trajetos médios de quantos quilômetros?

Agente vê a média de uns 30 quilômetros, mas com trajetos podendo chegara uns cem quilômetros. São trajetos como São Paulo-Campinas ou São José dos Campos e, definitivamente, Rio-Niterói. Uma opor tu nida deéofenôm enodo trabalho híbrido, coma possibilidade de sair do Centro da cidade e morar um pouco mais longe, só que precisando ir ao escritório de vez em quando. Virou quase uma viagem de negócios ir para o escritório.

Esse tipo de solução estará massificada a ponto de ter impacto na densidade urbana?

Eu acho que, no longo prazo, possivelmente. Não sozinha, não temos a pretensão de resolver o trânsito nas cidades, masco momai suma opção de mobilidade. Não tem bala de prata. Mas é uma solução que requer um investimento mínimo em infraestrutura, não requer uma pista ou um túnel, por exemplo.

Vocês estão pensando exclusivamente em eVTOLs tripulados?

Vamos começar com a operação tripulada, mas o futuro é autônomo. Não há dúvidas quanto a isso.

E vocês já tem ideia de preço? Serão viagens que o passageiro poderá fazer com recorrência, toda semana?

Vai depender de mercado para mercado. Um dos exercícios do Rio foi testar a elasticidade de preço. Começamos a vender passagem por R$ 99 e foi até R$ 600. A ideia é que seja um pouco mais caro do que pegar um táxi ou um app de carona, sendo que você vai vender o assento, não o uso do veículo inteiro.

A fabricação, claro, começará antes de 2026, não é?

Sim, começará alguns anos antes. Fizemos até uma parceria com a Porsche especificamente para olhar para a industrialização, porque temos muito a aprender com a indústria automotiva em um veículo com essas dimensões.

A fabricação será feita no Brasil?

Ainda não decidimos. Mas o Brasil definitivamente seria um lugar natural para começar. O desenvolvimento já está sendo praticamente todo feito no Brasil.

Qual será o tamanho da frota lá na frente?

Estimamos que haverá 50 mil veículos até 2035, considerando todo o mercado, não apenas a Eve. Hoje já temos um backlog de 2.770 veículos vendidos para empresas como United Airlines, SkyWest, Republic Airways.

Este texto foi originalmente publicado na coluna de negócios Capital, no site do GLOBO: blogs.oglobo.globo.com/capital

“Numa cidade como São Paulo, por exemplo, você pode ter 400 eVTOLs em um mercado maduro. Então, é preciso gerenciar isso com um sistema de controle de tráfego aéreo eficiente”

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2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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