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Haverá queda de juros em 2023?

POR PAULO GALA*

Ainf lação americana deu sinais de alívio com preços ao consumidor e do produtor abaixo do esperado em outubro. O petróleo, as commodities em geral e o preço dos alimentos continuam recuando no mercado mundial. O minério de ferro e todas as commodities metálicas também cederam.

Tudo isso trará uma trajetória mais benigna para a inf lação em 2023. O mercado de juros dos EUA já precifica isso, colocando um movimento mais brando para a política monetária do FED nos próximos meses com alta de juros de 0,50% na reunião de dezembro. O mercado chama isso de “pivot do FED”, situação em que o BC americano fica menos agressivo em relação à alta de juros.

As Bolsas americanas voltaram para um patamar bem mais elevado, e os juros longos cederam para níveis que invertem a curva de juros. Significa dizer que o mercado acredita que, no futuro crescimento, juros e inf lação serão menores do que hoje.

Tudo leva a crer que no primeiro semestre do próximo ano o BC americano deve interromper o ciclo da alta de juros para possivelmente começar a cortar sua taxa básica no final de 2023. Difícil dizer hoje se os Estados Unidos entrarão em recessão nos próximos meses.

O PIB da economia americana caiu no primeiro e no segundo trimestres de 2022, configurando uma “recessão técnica”, mas se recuperou no terceiro e no quarto trimestres. O mercado de trabalho americano continua robusto, e o desemprego, em mínimas de 50 anos.

Por outro lado, o mercado imobiliário dos EUA dá claros sinais de desaceleração, com queda de preços de casas e queda em nível de vendas. A economia americana está desacelerando segundo indicadores de PMI já em zona de contração e pesquisas de confiança dos consumidores também mostram sinais de preocupação.

No Brasil, a situação é semelhante. Nossa curva de juros está invertida, com juros longos menores do que os curtos. O mercado acredita que inf lação e juros serão menores no futuro. O BC brasileiro sinaliza que a taxa Selic ficará no patamar de 13,75% por período prolongado. No relatório

Focus, o mercado enxerga inf lação de 2022 próxima de 6% ante uma expectativa de quase 9% no meio do ano.

Para 2023, o mercado acredita em inf lação de 5% e, para 2024, menos ainda. A redução do ICMS sobre combustíveis e o corte do preço de gasolina e diesel tiveram enorme efeito na inflação brasileira de 2022. A queda dos preços agro no mundo também tem contribuído. Nosso desemprego ainda está muito elevado e com muita informalidade, o que pressiona salários para baixo.

Podemos imaginar, sim, um cenário mais benéfico para inf lação no Brasil e no mundo com atividade mais fraca nos EUA, na Europa e na Ásia, num contexto de queda de preços de commodities e juros mais elevados em todo lugar. Mas todo o cuidado é pouco quando montamos cenários e tentamos antecipar o que virá mais adiante.

A tensão do mercado no momento está na incerteza sobre a futura equipe econômica e a e a “PEC da Transição”. Um economista mais ortodoxo e fiscalista teria a capacidade de acalmar os ânimos do mercado e trazer os juros futuros e o dólar para baixo. Uma “PEC da Transição” mais enxuta teria o mesmo efeito.

A situação fiscal brasileira só poderá ser equacionada de fato com a volta do crescimento econômico. O aumento de arrecadação e o crescimento de 2022 são um belo exemplo disso: tivemos neste ano o melhor resultado fiscal desde 2015.

O grande desafio da nova equipe econômica será a retomada da expansão do Brasil. Desde 2015 não temos crescimento acima de 2%, com a exceção do ano corrente. “Em casa que falta o pão, todo mundo briga e ninguém tem razão”, um ditado português que se aplica muito à situação brasileira hoje.

O programa de renda mínimo brasileiro deve ser mantido, e o anúncio de uma nova regra fiscal facilitaria muito a vida do novo governo. Mas, sem a volta do crescimento, a polarização e conf lito na sociedade brasileira seguirão elevados. A boa notícia é que podemos crescer bastante nos próximos anos devido à elevada capacidade ociosa que ainda temos no país. O corte da taxa Selic e investimentos públicos e privados serão dois pilares fundamentais para um novo ciclo de expansão brasileiro.

*Economista-chefe do Banco Master de Investimento. Graduado em Economia pela FEA USP, Gala é mestre e doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo, instituição em que leciona desde 2002 e na qual foi coordenador do Mestrado Profissional em Economia e Finanças, entre 2008 e 2010. Foi pesquisador visitante nas universidades de Cambridge (RU) e Columbia (NY) e atuou como economista-chefe, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo

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2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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