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A Tarifa Zero em 2022 e 2013

ELIO GASPARI blogs.oglobo.globo.com/opiniao editoria.artigos@oglobo.com.br

Geraldo Alckmin elegeu-se vice-presidente da República, e Fernando Haddad, derrotado nas três últimas eleições que disputou, é uma estrela do firmamento petista. No grande elenco da equipe de transição, circula a proposta da instituição de um regime de Tarifa Zero nos transportes públicos. Nas palavras do deputado Jilmar Tatto (PT-SP), ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo:

— O presidente Lula pode dar apoio a essa ideia. Joguei o tema para ser debatido no grupo de trabalho das cidades. Meu papel é ajudar a convencê-lo da necessidade do direito de ir e vir. Assim como a população tem acesso à saúde gratuita e universal, acesso à educação, precisa ter acesso ao transporte.

Noves fora a mistura de saúde com transporte, a ideia é interessante. Mais de 40 cidades (a maioria pequenas) já a adotaram, com sucesso. Nas últimas décadas, o modelo de negócio dos transportes urbanos sofreu poucas alterações e, do nada, surge a surpreendente informação de que a Tarifa Zero tem o apoio de destacados empresários desse setor cravejado por malfeitorias. Vá lá. Com a Viúva bancando os custos dos transportes urbanos, só Deus sabe o que acontecerá com a gestão dessas arcas.

Por ser um problema de gestão municipal, Tatto, Haddad e Alckmin deveriam ficar a quilômetros desse debate.

Em 2013, quando a garotada do Movimento Passe Livre protestava contra um aumento das tarifas de ônibus, o que eles fizeram?

Tatto, nada. Haddad foi severo na defesa do aumento, já que sua acrobacia tributária viu-se rejeitada pelo governo de Dilma Rousseff. Alckmin entregou a gestão das manifestações à Polícia Militar.

Com esse modelo de gestão, apesar dos protestos nas ruas, Alckmin e Haddad foram para Paris com uma agenda de trabalho para trazer à cidade um evento internacional. Numa das noites parisienses, a dupla subiu num palco e cantou “Trem das onze”, de Adoniran Barbosa. Dias depois a PM investiu, sem motivo nem propósito, contra uma passeata ordeira. Na esquina da Rua Maria Antônia com a Consolação, a tropa de choque desceu com bombas de gás e estrépito.

A violência potencializou os protestos. Tirou da garrafa o gênio das passeatas que, três anos depois, dariam base popular à deposição de Dilma Rousseff.

Alckmin e Haddad geriram o problema dos protestos contra o aumento das tarifas com arrogante insolência e deu no que deu.

Passaram nove anos, e a ideia da Tarifa Zero surge num governo em que Alckmin e Haddad são estrelas. Em 2013 a garotada da Tarifa Zero era demonizada por vândala e lunática. Vale repetir que, na esquina da Maria Antônia com a Consolação, vândala foi a PM. Coisa de quem acredita que caneta e cassetete resolvem qualquer questão.

Uma Tarifa Zero decidida com canetadas de Brasília é coisa de megalomaníaco lunático. O sistema de transportes de uma pequena cidade nada tem a ver com o de uma metrópole. Além disso, a rede de São Paulo não pode ser comparada com a pantanosa tragédia que existe no Rio. Para os megalôs lunáticos, cria-se o transporte gratuito num momento de estranha conveniência dos empresários. Tudo bem.

O que se fará quando os contratos não forem honrados (como no Rio), ocorrendo a deterioração dos serviços e incêndios de ônibus?

Canta-se “Trem das onze” em Paris e deixa-se o choque da PM cuidar do caso.

Opinião

pt-br

2022-11-30T08:00:00.0000000Z

2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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