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PT confirma apoio a Lira e tenta isolar o PL

Objetivo do partido de Lula é construir coalizão e assegurar o controle da CCJ

NATÁLIA PORTINARI natalia.portinari@bsb.oglobo.com.br BRASÍLIA

O PT decidiu apoiar a reeleição do deputado Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara,diantedaevidênciadeseufavoritismo.O objetivo do presidente eleito Lula é formar um “blocão do governo’’ agregando o maior número de partidos, para assegurar a preferência pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), por onde passam todos os projetos. Lira, que já tem apoio de 14 partidos, sinalizou que não vai atrapalhara movimentação do PT como fim de isolar o PL. O partido do presidente Bolsonaro também deseja controlara CC J.

Diante do favoritismo de Arthur Lira (PP-AL) para conquistar mais um mandato na presidência da Câmara, o PT traçou uma estratégia para controlar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a principal da Casa, no início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia é apoiar a reeleição de Lira e, ao mesmo tempo, tentar isolar o PL, maior partido da futura oposição, com um “blocão”formado por legendas que podem fazer parte do próximo governo. A expectativa é reunir ao menos 15 siglas.

Para conquistar a CCJ, o PT precisa integrar o maior bloco partidário da Câmara, a quem é garantida a preferência na escolha das comissões. Mesmo que tenha a bancada mais numerosa, com 99 parlamentares, o PL será preterido se não fizer parte do conjunto que tiver mais deputados. A formação desses blocos independe de quem será o candidato à presidência da Casa.

Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), Lira já reuniu o apoio de 14 legendas na disputa pelo comando da Câmara, marcada para fevereiro. Ontem, além do PT, PC do B, PV e PSB — partidos aliados de Lula — aderiram à candidatura do deputado do PP. Em troca, petistas negociaram com Lira o compromisso de que ele não vai atrapalhar os planos da legenda para presidir a CCJ, por onde precisam passar todos os projetos que tramitam na Câmara. Na prática, o controle do colegiado dará ao Palácio do Planalto poder para pautar propostas de seu interesse ou segurar aqueles que não lhe agradem.

Nos bastidores, Lira sinalizou que não vai atrapalhar as articulações do PT. O compromisso de não se mover já é relevante. O partido do deputado, o PP, deve formar um outro bloco com o PL, que também está trabalhando ativamente para conquistar o comando da CCJ. Uma das possibilidades aventadas entre aliados de Bolsonaro é tentar um “meio termo” com o PT para revezar o comando da comissão nos próximos dois anos. Petistas, contudo, descartam por ora um acordo.

—Não tem nenhum acordo firmado 100% sobre a questão dascomissões.Nóssomosparte do bloco do presidente Arthur Lira desde o início. Esse bloco (do PT) está se formando e só depois vamos discutir um acordo. É óbvio que o PL, pelo tamanho que tem, vai ser respeitado — afirmou o líder do PL, Altineu Côrtes (RJ).

LULA CONVIDA UNIÃO BRASIL

Para isolar o PL, a ideia do PT é formar um “blocão do governo”, composto pelos partidos que farão parte da base de Lula. Se o PSD ou o MDB forem indicar ministros, por exemplo, o objetivo é que também façam parte do bloco do PT na Câmara. Essa condição está sendo colocada nas conversas com dirigentes, segundo interlocutores do partido.

O próprio presidente eleito entrou ontem nas negociações ao convidar o União Brasil para integrar o novo governo. O petista se reuniu com os líderes do partido na Câmara e no Senado, respectivamente, Elmar Nascimento (BA) e Davi Alcolumbre (AP), no hotel em que está hospedado, em Brasília. Os parlamentares ouviram a proposta, mas não bateram martelo sobre a adesão.

O líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), prevê reunir ao menos mais 14 partidos no bloco. Além do próprio PT e partidos que formam a federação com a legenda — PV e PCdoB —, ele cita PSB, União Brasil, PSD, MDB, Avante, Rede, PSOL, Solidariedade, PROS, PSD, Cidadania e Podemos.

Ao todo, essas 15 siglas contarão com 284 deputados no ano que vem, mais da metade da Câmara. A intenção do PT, porém, é ampliar o bloco.

— O Cidadania está participando conosco da transição, mas no PSDB é preciso ampliar as conversas. Vamos construir esse diálogo para formatar o bloco de governo —disse Lopes.

Outro posto cobiçado no Congresso que pode entrar na mesa de negociação é a relatoria do Orçamento. O deputado indicado para o cargo vai controlar as chamadas “emendas de relator”. Na prática, é a ferramenta de execução do orçamento secreto, por meio do qual parlamentares indicam verbas da União a seus redutos eleitorais, em boa parte dos casos sem serem identificados. O União Brasil e os próprios petistas já manifestaram interesse pelo posto.

O líder do PT disse que o importante é que o partido tenha espaços na Câmara “que garantam maior governabilidade”, como CCJ e Orçamento.

Ao declarar apoio a Lira, o PT tenta evitar o que considera erros cometidos no passado que custaram caro aos petistas. Em 2015, a então presidente reeleita Dilma Rousseff insistiu com uma candidatura própria da legenda contra Eduardo Cunha (ex-MDB, atual PTB), que na época era o líder do Centrão, grupo que há anos dá as cartas no Congresso.

Ao ser tratado como adversário, Cunha se tornou um incômodo para o governo de Dilma e, nove meses após ser eleito à presidência da Câmara, autorizou o início do processo que culminou com o impeachment.

PSOL RECLAMA

Apesar de ser aliado de Bolsonaro e ter feito campanha contra Lula nas eleições, aliados do petista dizem ver Lira com perfil diferente do de Cunha. Para o futuro líder do PSB na Câmara, Felipe Carreras (PE), a adesão à candidatura do deputado do PP passa a mensagem de que o novo governo priorizará o diálogo e a pacificação política. Ontem, ao chegar ao jantar que reuniu a bancada do PL, e do qual Bolsonaro também participou, Lira foi hostilizado por um pequeno grupo de apoiadores do presidente.

— Com suas virtudes e seus defeitos, nós sabemos que algo que é muito importante nesse Casa, que é a manutenção da palavra, é um traço muito forte do presidente Arthur Lira — afirmou Carreras.

O deputado Aliel Machado (PR), líder do PV, disse que a aproximação do PT com Lira não é “estranha”, a despeito da atuação pró-Bolsonaro nos últimos dois anos.

— Ao tempo que nós nos aproximamos do presidente Arthur Lira, que é um grande articulador e tem força política, ele também se aproxima do novo governo —afirmou o líder do PV na Câmara.

O PSOL, que decidiu não apoiar Lira, deve ser uma das exceções entre as legendas que caminham com Lula no movimento em direção ao deputado alagoano.

— Lira foi responsável pelo avanço do Bolsonaro e do bolsonarismo e segue sendo conivente. Parte dessa política é o orçamento secreto, que comprou uma base de apoio. Está tudo no mesmo pacote, a reeleição do Lira, o orçamento secreto e um pacto com os bolsonaristas — diz a líder do partido na Câmara, Sâmia Bomfim (SP).(Colaboraram Bruno Góes, Jennifer Gularte e Jussara Soares)

“Vamos construir esse diálogo para formatar o bloco de _ governo”

Reginaldo Lopes (PT-MG), líder do partido na Câmara

“Arthur Lira também se aproxima da federação e do novo governo do presidente _ Lula”

Aliel Machado (PV-PR), líder do partido na Câmara

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2022-11-30T08:00:00.0000000Z

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