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ITINERÁRIO PESSOAL EM TRÊS DIMENSÕES

EM CARTAZ NA GALERIA NARA ROESLER, PRIMEIRA INDIVIDUAL DO FRANCÊS XAVIER VEILHAN NO RIO REÚNE 15 OBRAS QUE DESTACAM SUA RELAÇÃO COM A HISTÓRIA DA ARTE, A MÚSICA, A ARQUITETURA E A MODA

NELSON GOBBI nelson.gobbi@oglobo.com.br

Com sua primeira individual no Rio, em cartaz até o dia 29, o francês Xavier Veilhan ocupa os dois andares da galeria Nara Roesler, em Ipanema, com 15 obras recentes de diferentes técnicas, suportes e escalas. Numa síntese de sua produção — com obras presentes em instituições como o Centro Georges Pompidou e o Museu de Arte Moderna de Paris e destacada no Pavilhão Francês na Bienal de Veneza de 2017 — a mostra reúne esculturas em argamassa, bronze e madeira, entre trabalhos fixos e cinéticos, e um móbile de 4,5 metros de altura, instalado na área externa da galeria.

Durante a montagem da exposição, no mês passado, Veilhan destacou que, para a estreia no Rio (em 2017, o artista ocupou a sede paulistana da galeria), pensou em obras representativas de sua trajetória:

—São obras autossuficientes, você pode vê-las separadas umas das outras, mas juntas elas também ganham um sentido. Cada mostra é também uma forma de lidar com o meu passado. Os trabalhos criam uma espécie de paisagem, um itinerário por onde vou construindo a exposição.

TECNOLOGIA DO SEU TEMPO

Para além da trajetória pessoal, as esculturas, deformas arredondadas ou sextavadas, também estabelecem uma relação coma história da arte.

— Pensamos muito em estética e conceito, mas cada obra também está ligadaà tecnologia mais adequada aseu tempo. A pintura pode ser feita nas paredes de uma caverna, numa placa de madeira, como um afresco ou numa tela. Fazer uma pintura hoje envolve quase o mesmo processo técnico de 200 anos atrás, mas há mudanças que afetam o conteúdo da obra, não apenas aforma. Cada uma dessas possibilidades está ligada a um período de tempo — observa Veilhan. — Para mim, é uma questão importante pensara arte como um meio de abraçar o tempo presente para criar uma imagem, para entender as mudanças de determinada sociedade.

As obras também destacam a sua conexão com outras formas de criação artística, como a música e a arquitetura. Algumas das esculturas expostas são batizadas com os nomes de Le Corbusier (1887-1965), considerado um dos pais da arquitetura moderna, e Renzo Piano, responsável pelo projeto do Centro Pompidou, e do produtor musical e engenheiro de som Tom Moulton, criador do remix e, consequentemente, de toda a revolução fonográfica que desaguaria no hip hop. Uma relação que também o leva a estudar bem cada espaço onde irá expor.

— Conhecer a arquitetura de cada lugar é importante para definir que tipo de obras exibir. Não apenas pelo diálogo que será estabelecido entre o que está pronto, mas só de entender por que caminho ir dá vontade de trabalhar em algo novo — conta o francês. — A planta de um lugar pode me levar até uma obra, mas esse trabalho também pode vir a caber em outro lugar, caso o projeto mude em algum momento.

ROUPA COMO EXPRESSÃO

Outra forma de criação com a qual o artista se conecta é a moda. Nas últimas temporadas de alta costura, Veilhan criou instalações e obras digitais e audiovisuais para a Chanel, a convite de Virginie Viard, diretora criativa da marca. Em janeiro deste ano, ele criou um cenário por onde Charlotte Casiraghi (filha da princesa Carolina de Mônaco e neta da ex-atriz Grace Kelly) abriu o desfile da marca montada a cavalo.

— O interessante da moda não é seu aspecto luxuoso, mas a sua relação com as pessoas. Muitas pessoas ficam intimidadas em dar sua opinião sobre arte contemporânea, por exemplo, mas ficam à vontade e confiantes para decidir o que vão vestir. É uma forma que cada um encontra de se expressar com o que se tem à mão — analisa. — Outro aspecto positivo é que a Chanel nunca me encomendou nada, pude ficar totalmente livre. Além, é claro, da possibilidade de criar essas colaborações divertidas com Charlotte, Sébastien Tellier (cantor e multi-instrumentista francês )e( o rapper e produtor americano) Pharrell Williams.

Onde: Galeria Nara Roesler — Rua Redentor 241, Ipanema (3591-0052). (Nos dias 5, 19 e 26/10, o crítico Felipe Scovino ministra curso a partir da obra de Veilhan, no local. Mais informações pelo mariapaula@nararoesler.art). Quando: Seg a sexta, das 10h às 19h; sáb, das 11h às 15h. Quanto: Grátis. Classificação: Livre.

Segundo Caderno

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2022-10-03T07:00:00.0000000Z

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