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A VOLTA POR CIMA DE UMA PIONEIRA DO FUNK

APÓS ENFRENTAR DEPRESSÃO, CRIA DA CIDADE DE DEUS RETOMA CARREIRA E CONCILIA SHOWS COM A PROFISSÃO DE GARI NO RIO

LEONARDO RIBEIRO leonardo.ribeiro@extra.inf.br (risos).

Pioneira entre as mulheres no funk, Deize Tigrona viveu o auge da carreira no início dos anos 2000, embalada pelo hit “Injeção”. Mas uma depressão afastou-a dos palcos. Buscou novas carreiras, passou no concurso para ser gari, profissão que exerce até hoje, aventurou-se nas artes plásticas e ensaiou várias retomadas à música. A mais bem-sucedida foi “Sadomasoquista”, de 2021, que ganhou as pistas e o TikTok. Foi o suficiente para dar embalo à cantora, de 43 anos, que lança agora o álbum “Foi eu que fiz”. A língua rasgada pregando a liberdade sexual feminina segue presente. E traz revelações autobiográficas. Nesta entrevista, a cria da Cidade de Deus fala sobre bissexualidade, o lado materno e o desejo de fazer da arte novamente o seu ganha-pão.

Você lançou seu álbum no dia da visibilidade bissexual (23 de setembro). E a primeira música já é sobre um “Sururu das meninas”. É autobiográfico?

Claro, tem a ver com meu íntimo. E também a ver com artistas que não falam abertamente sobre a sexualidade. Sinto falta de algo escancarado.

Você sempre cantou sobre a liberdade sexual feminina, fetiches e prazer. Qual a importância desses temas?

A minha escrita sempre foi relacionada às conversas com as amigas e vizinhas, sobre meninos ou temas tabus que não conversávamos com nossos pais naquele tempo, como virgindade, menstruação. A ideia sempre foi ter liberdade de se expressar como quiser e abrir um canal de conversa.

Mulher que canta proibidão sofre preconceito?

Já tem o preconceito com o funk em geral, não é? E quando a gente canta duplo sentido, ou o putaria, as pessoas se assustam quando me veem na vida privada. Porque sou tímida, carinhosa e quieta. Óbvio que há letras com algo de mim, mas há também aquilo que escuto dos outros.

Você é uma das precursoras das mulheres no funk. Sente essa importância?

Sim. O chato é quando conto para os jovens e eles não acreditam. “Como assim, você não ganhou grana?”, eles perguntam. Mas se acreditam ou não, não importa. Sei que estou correndo atrás e, graças a Deus, não desisti.

E a depressão?

Foi bem chata. Eu não entendia a doença, porque sempre ouvi que era coisa de rico. E eu não era rica. Isso me deu um baque, fiquei com a cabeça toda enrolada. Eu tinha acabado de voltar de uma viagem de três meses na Europa. Lá eu já me sentia perdida. Estava no processo de adoção do meu filho (que é, na verdade, seu sobrinho). Depois foi caindo a ficha que já tinha as questões conturbadas com minha família. No mesmo período, conheci meu pai. Era muita coisa. Por isso, com o passar do tempo, decidi falar sobre a doença. Depressão dói e muita gente precisa de ajuda também.

E stá vivendo só da música?

Não. Não pago aluguel, tenho minha casa na Cidade de Deus, mas o meu intuito é sair. Ainda tenho um trabalho paralelo. Estou na Comlurb há nove anos. Decidi fazer o concurso nessa mesma época que não sabia se o funk seria para mim. Me inscrevi e passei. Tenho pensado também em conciliar minha arte com a prefeitura.

E como fica a rotina?

Já trabalhei virada Moro perto da sede, dá cinco minutosaquidaCidadedeDeus. E vou tocando a arte em paralelo. Conciliar as carreiras e o álbum está corrido. Está tudo certo, mas, às vezes, ainda não acredito que esta retomada esteja acontecendo.

Segundo Caderno

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2022-10-03T07:00:00.0000000Z

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