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Após terceiro trimestre volátil, o que esperar da Bolsa no Brasil?

Cenário global exige nova estratégia. ‘Commodities’ perdem espaço, e ações ligadas ao consumo interno avançam

ISABEL FILGUEIRAS economia@oglobo.com.br

Após um terceiro trimestre de fortes perdas nas Bolsas internacionais —e no qual o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, saiu ileso, fechando no azul — como o cenário global vai influenciar as ações brasileiras daqui até o fim do ano? Analistas afirmam que as atenções agora devem se voltar para ações ligadas ao mercado interno. O risco de recessão lá fora acendeu um sinal de alerta para exportadoras e empresas de commodities.

EnquantooIbovespatevealtade8,18%noterceirotrimestre, o S&P 500 caiu 5,28%, a Nasdaq, 4,11%; e o Dow Jones, 6,66%, no mesmo período, de acordo com levantamento feito pelo head comercial da TradeMap, Einar Rivero.

As eleições presidenciais, claro, também tiveram seu papel no aumento da volatilidade por aqui, mas, segundo especialistas, o movimento foi contido porque o mercado já conhece os dois candidatos e havia se preparado para qualquer desfecho do pleito.

—Quando se compara o desempenho com as Bolsas globais, estamos indo superbem esteano.Láforatemumcenário mais negativo, com vários riscos geopolíticos, como tensões entre China e Taiwan, guerra entre Rússia e Ucrânia e os bancos centrais ainda subindo juros, sem pistas de quando esse ciclo de alta vai parar — afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Assim como outros emergentes na América Latina, o Brasil iniciou seu ciclo de alta de juros antes, porque a inflação subiu primeiro por aqui. Com isso, trouxe para si uma vantagem em relação aos mercados desenvolvidos, que ainda não sabem até quando vão os aumentos dos juros.

Se em Estados Unidos, Europa e Japão, os bancos centrais ainda estão acelerando os juros para conter a alta de preços, por aqui já se pisou no freio e, na última reunião, em 21 de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu encerrar o maior ciclo de alta de juros desde a criação do regime de metas de inflação, em 1999. A decisão de manter a Selic em 13,75% ao ano colocou um ponto final numa sequência de 12 elevações seguidas, desde março de 2021.

FOCO NO MERCADO INTERNO

O estrategista de ações da Genial,Filipe Vil legas, reitera que um ambiente desafiador como estepe deu macarteirabast antedi versificada e com papéis de menor volatilidade.

—Na dúvida, não tenha medo de ser conservador, fi quena renda fixa. Mas, para quem quer se expor à renda variável, a recomendação é que tenha uma menor exposição a empresas exportadoras e maior exposição a empresas da economia doméstica brasileira, com atenção para os fatores macroeconômicos e de atratividade no preço —explica, em sugestão para investidores com visão de longo prazo. Até o momento, eram as

commodities, principalmente ligadas ao petróleo, que sustentavam o Ibovespa. Um exemplo dissoéodest aqueda Petrobras entre as maiores altas do ano. A estatal colheu frutos do aumento do preço do barril de petróleo após sanções à Rússia, um dos principais fornecedores do produto.

A petroleira distribuiu altos dividendo ses teano, oque servi upara impulsionar ova lorde suas ações. Outra empresa do setor, a Prio (antiga PetroRio) também surfou nessa onda. Mas o risco de recessão no mundo traz ameaças ao desempenhodessas companhias e de outras exportadoras.

Ações do setor de mineração e siderurgia, que vinham de um ciclo próspero em 2021, já começam a acumular quedas, com exceção da Vale, que ainda se mostra interessante por ter um caixa robusto com política atrativa de distribuição de dividendos e alta liquidez. Usiminas e CSN (tanto mineradora quanto siderúrgica) amargam perdas acima de 45% desde o início do ano.

VAREJO E CONSTRUTORAS

Os lockdowns, que fecharam a economia, e um mercado imobiliário chinês com dados fracos desanimaram quem apostava que o gigante asiático voltasse com força total. Dessa forma, sofreram as exportadoras da indústria de base.

Entretanto, na medida em que o índice de inflação oficial (IPCA) recua, ainda que seja pela interferência de cortes temporários de impostos, o BC suaviza sua ação em relação aos juros.

Quando o mercado antevê uma queda de juros, ele volta atenção para ações ligadas ao mercado interno, que até então eram as párias da Bolsa. É uma tentativa de auferir ganhos ao se antecipar para um cenário de juros menores e reaquecimento da economia no Brasil. Assim, voltaram a ganhar força no trimestre papéis como Magalu e Via. Essas empresas sofrem com o custo do crédito alto e apolítica de combate à inflação, que desestimula o consumo.

—O terceiro trimestre foi diferente dos dois primeiros, que tiveram declínio, ações caindo. Varejo e consumo foram muito penalizados, mas agora estamos vendo uma volta nas maiores altas do terceiro trimestre, como Magalu, Via, Soma e construtoras também — avalia Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama.

No ano, bancos, elétricas e Petrobras vão ao topo da lista de maiores altas. Mas no último trimestre, empresas de varejo e tecnologia, como Positivo e Locaweb, que estavam com preços baixos, já dão sinais de recuperação. São empresas prejudicadas pelos juros altos e encarecimento do crédito, que têm mais a ganhar se o ciclo se inverter para um viés de baixa.

—Commodities e bancos são setores para proteção contra a inflação. E os bancos ganham coma subida de juros. Vemos ainda a recuperação das elétricas, que foi um setor mais penalizadopor falta de chuvas no ano passado, e agora as coisas melhoraram. É também um setor mais defensivo, estável e que fazp arte docon sumo b ás ico—destacaJen ni e Li, da XP.

Para Li, as maiores altas do Ibovespa mostram que ainda há chances de ganhos na Bolsa, mesmo com riscos coma política fiscal brasileira indefinidae ope ri gode uma recessão global. Mas, claro, o momento nãoé de assumir tantos riscos, diante de tantas instabilidades.

— Precisa escolher os setores certos que estão mais bem posicionados num cenário de bastante incerteza. Os mais protegidos. É um cenário macroeconômico mais difícil, desafiado por juros altos e inflação alta, e ainda com risco de recessão —aponta.

Economia

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2022-10-03T07:00:00.0000000Z

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