Infoglobo

A CRISE TUCANA PSDB PERDE SÃO PAULO APÓS 28 ANOS E NÃO ELEGE NENHUM GOVERNADOR EM 1º TURNO

GUSTAVO SCHMITT gustavos@sp.oglobo.com.br SÃO PAULO

Aderrota do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, no primeiro turno redimensiona o tamanho do PSDB no cenário da política brasileira. A sigla perdeu ontem seu principal reduto, onde governava ininterruptamente há 28 anos. Nos tempos áureos, quando rivalizavam com o PT no plano nacional, os tucanos chegaram a eleger oito governadores, em 2010. O quadro agora é bem diferente. A sigla não elegeu nenhum candidato e estará no segundo turno em quatro estados (RS, PE, PB e MS).

Fora do segundo turno, Rodrigo Garcia não se posicionou ontem sobre como se comportará na disputa entre Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos). Durante toda a campanha, o governador disputou o eleitorado mais conservador com o ex-ministro de Bolsonaro, que acabou levando a melhor. De histórico no DEM, Garcia se transferiu para o PSDB para concorrer como governador depois que João Doria (PSDB) renunciou do cargo para tentar uma candidatura à Presidência abortada antes mesmo da campanha.

ESTADOS-CHAVE

Na disputa local, Garcia tentou se desvincular de Doria, de olho a não se deixar contaminar pela rejeição ao tucano, mas a estratégia não funcionou. A campanha tucana tentou um discurso que escapasse da polarização entre petistas e bolsonaristas, mas a reprodução do cenário nacional no estado falou mais alto.

Após o resultado, o tucano publicou apenas uma mensagem em suas redes sociais: “Quero agradecer o carinho com que fui recebido durante nossa campanha e os votos recebidos neste domingo. Vou continuar trabalhando para o Estado que tanto amo. São Paulo, conte sempre comigo”.

O PSDB também perdeu espaço em estados-chave. Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, onde a legenda já comandou o governo estadual, o candidato tucano Marcus Pestana figurou entre os nanicos e amargou menos de 1% dos votos. No Rio, terceiro estado com mais eleitores, o tucanato apoiou a reeleição de Cláudio Castro (PL), do partido do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Outra decepção ocorreu no Rio Grande do Sul, onde o ex-governador Eduardo Leite liderava todas as pesquisas, mas acabou superado pelo bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL) com 37,5% dos votos. Leite passou ao segundo turno por uma apertada diferença de 2,5 mil votos sobre Edegar

Pretto (PT). O ex-governador era tido como favorito, mas se tornou o alvo preferencial dos rivais. Sua gestão é bem avaliada pela população do estado nas pesquisas de opinião, mas a imagem do tucano ficou arranhada após ele quebrar a promessa de não concorrer à reeleição. Agora, Leite tende a ficar em desvantagem. Desde a redemocratização, os gaúchos nunca reelegeram o governador.

NORDESTE

No Mato Grosso do Sul, o governador tucano Reinaldo Azambuja não conseguiu emplacar no primeiro turno o seu sucessor e ex-secretário Eduardo Riedel. Mesmo se vinculando a Bolsonaro e tendo a ex-ministra Tereza Cristina em sua chapa, o candidato de Azambuja ficou atrás do capitão Renan Barbosa Contar (PRTB). Contar teve 26,72% dos votos válidos, contra 25,17% de Riedel.

As notícias positivas para os tucanos vieram do Nordeste. Em Pernambuco, a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra foi para o segundo turno contra Marília Arraes (Solidariedade), que passou a campanha colada em Lula. Arraes teve 23,85%, ante 21,09% de Raquel. A tucana quebrou a hegemonia do PSB naquele estado, cujo candidato Danilo Cabral (PSB) acabou em quarto lugar e ficou atrás

4 estados no segundo turno PSDB está ainda na disputa em Rio Grande do Sul, Paraíba, Pernambuco e Mato Grosso do Sul 0,04% foi a diferença de Eduardo Leite sobre Edegar Pretto Candidato do PSDB era apontado como favorito, mas quase ficou fora do segundo turno no RS

do bolsonarista Anderson Ferreira (PL). Mesmo aqueles candidatos que surpreenderam, como o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima, não se associaram a bandeiras tucanas. Pelo contrário. Cunha Lima se vinculou a Bolsonaro para ir ao segundo turno na Paraíba contra o governador João Azevedo (PSB), que representa o campo de esquerda.

DESCENDENTE

Fundado em 1988 por um grupo de políticos críticos aos rumos fisiológicos do PMDB, liderados, entre outros, por Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, o PSDB venceu ou chegou ao segundo turno em todas as disputas eleitorais para presidente ocorridas no Brasil entre 1994 e 2014.

A sigla iniciou período turbulento a partir de 2018, quando amargou o quarto lugar na eleição presidencial e Geraldo Alckmin teve menos de 5% dos votos. Naquela eleição, Alckmin ainda teve o apoio da maior aliança partidária, mas viu o eleitorado mais à direita migrar para Jair Bolsonaro.

O pleito de 2022 ficou marcado como o primeiro em que o partido não lançou candidato à Presidência da República. Depois de fazer prévias internas, vencidas por João Doria contra o gaúcho Eduardo Leite, o partido não conseguiu se unir e acabou decidindo pelo apoio a Simone Tebet (MDB).

A disputa nacional foi suplantada pela corrida em São Paulo. A sigla queria priorizar a reeleição de Garcia e sua cúpula praticamente exigiu a retirada de João Doria da disputa presidencial. O objetivo era blindar Garcia da alta rejeição do então governador paulista, de quem ele tentou se descolar. No entanto, o candidato não conseguiu furar a polarização nacional representada por candidatos vinculados a Lula e Jair Bolsonaro.

Política

pt-br

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/282097755591346

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.