Infoglobo

O voto útil morreu na praia

Segundo turno promete batalha acirrada entre Lula e Bolsonaro; petista larga na frente, mas enfrentará presidente revigorado por votação de domingo

BERNARDO MELLO FRANCO

Aonda do voto útil morreu na praia. Lula confirmou a liderança apontada nas pesquisas, mas não conseguiu o impulso final para vencer no primeiro turno. Agora enfrentará um adversário revigorado pelo desempenho nas urnas.

Jair Bolsonaro chegou a liderar a apuração até pouco depois das 20h. Faltava contar os votos do Nordeste, mas a imagem do capitão em primeiro lugar devolveu o ânimo à sua tropa.

O mesmo não se pode dizer dos aliados de Lula. No fim da noite, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, informou que seus correligionários não estavam “tristes” nem “abatidos”. Pode ser, mas a decepção era visível no palanque do ex-presidente.

A análise fria dos números ainda sugere um favoritismo de Lula. Ele teve quase 6 milhões de votos a mais que Bolsonaro, e ficou a 1,58 ponto percentual de alcançar a maioria absoluta.

Em seis corridas ao Planalto definidas no segundo turno, nunca houve uma virada na fase final. No entanto, a história recente do Brasil mostra que é temerário projetar o futuro com base no que já aconteceu.

Em 2018, Bolsonaro emergiu do baixo clero da Câmara para liderar um tsunami conservador que varreu as urnas. Quatro anos depois, a extrema direita mostrou que veio para ficar.

O bolsonarismo fincou raízes na sociedade e na política. A pastora Damares Alves, símbolodofundamentalismoreligioso, conquistou uma cadeira no Senado pelo Distrito Federal. Em São Paulo, os extremistas Carla Zambelli e Ricardo Salles se juntaram a Eduardo Bolsonaro na lista dos cinco deputados mais votados.

No Rio, o general Eduardo

Pazuello foi premiado pela obediência ao chefe. Apesar da gestão calamitosa no Ministério da Saúde, ou talvez por causa dela, garantiu uma vaga na Câmara com mais de 200 mil votos.

O eixo Rio-São Paulo, que se imagina a vanguarda do país, foi quem garantiu a ida de Bolsonaro ao segundo turno. O capitão contrariou as pesquisas e venceu nos dois estados, abrindo uma frente de quase 3 milhões de votos sobre Lula. Só não fez a tríplice coroa no Sudeste porque Minas Gerais voltou a dar vantagem ao PT.

O tom da campanha nas últimas semanas indica que o presidente manterá a aposta na radicalização. Não há sinais de recuo em suas ameaças ao sistema eleitoral e à democracia.

No front petista, Lula precisará gerar fatos positivos para manter a militância acesa. Uma das primeiras tarefas é garantir o apoio de Simone Tebet, que já prometeu não ficar em cima do muro. A conversa com Ciro Gomes será mais difícil, mas o expresidente não está em condições de esnobar o ex-aliado.

O resultado do primeiro turno não permite mais ilusões. Só uma frente ampla de verdade será capaz de garantir a derrota da extrema direita. Lula terá quatro semanas para costurar novas alianças e construir um palanque tão plural quanto o da campanha das Diretas Já, que ajudou a livrar o Brasil da ditadura militar. E o eleitor terá até o dia 30 para decidir em que tipo de país quer viver.

Primeira Página

pt-br

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281835762586290

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.