Infoglobo

Bolsonaro pegou o PT de salto alto

Bolsonaro teve menos votos que Lula. Mas em quase todos os estados sua força eleitoral foi a alavanca para eleger personagens-símbolos de sua pregação extremista

LAURO JARDIM

Não se deve usar meias palavras: Jair Bolsonaro chega em posição privilegiada para a disputa do segundo turno. Venceu o descrédito de seus próprios aliados, que já ensaiavam pular para fora do seu barco. Bateu os institutos de pesquisas tradicionais, que não detectaram o voto envergonhado no presidente. E surpreendeu o PT que, de salto alto, já dividia ministérios de um governo Lula que começaria a ser montado já a partir de hoje.

Bolsonaro teve menos votos que Lula. Mas em quase todos os estados sua força eleitoral foi a alavanca para eleger personagens-símbolos de sua pregação extremista. De Damares Alves a Eduardo Pazuello, da Capitã Cloroquina ao astronauta Marcos Pontes. A lista é tão extensa quanto funesta. Só que espelha a realidade de um Brasil que certa bolha não admite ser expressivo numericamente. E que mais uma vez mostrou sua cara.

Mesmo depois de um governo desastroso em quase todos os quesitos, Bolsonaro recomeça hoje sua campanha de reeleição podendo falar mais grosso. Até o início das apurações, ele era o presidente que, no imaginário de quase toda a população, perderia no primeiro turno. Ou, no máximo, conseguiria avançar alquebrado para a segunda etapa da corrida eleitoral. Agora, é o político que encostou em Lula. E vai vender o discurso de que a sua candidatura está em ascensão. É uma narrativa de campanha, o.k., mas está também calcada em números.

O bolsonarismo é hoje não apenas um fenômeno eleitoral. É uma realidade social. Possui uma base poderosa entre os evangélicos. Tem uma mídia própria, que divulga os “feitos e as grandes realizações” do seu líder com canais de distribuição de grande capilaridade. Seja pela TV, internet ou redes sociais: é uma bem-montada rede de informações e desinformações. Sim, é uma rede fincada numa realidade paralela, o que é grave. Neste momento, entretanto, o ponto central é que é uma teia de transmissão de mensagens e de delírios que é eficiente naquilo que se propõe. E. às vezes, é o que basta para fazer diferença numa eleição.

O Bolsonaro que vai disputar cabeça a cabeça com Lula o segundo turno também obteve um outro triunfo. Nesta campanha pouco seguiu os conselhos da ala política e dos marqueteiros que o queriam mais contido.

Foi o Bolsonaro raiz que se fez presente: grosso, misógino, crítico do STF e, até o último momento, o político que insuflou os seus seguidores (que somam um número maior do que uma outra parte do Brasil gostaria) a duvidar da lisura do processo eleitoral. Em resumo, onde o queriam moderado, foi Carluxo.

Seu desafio agora não é pequeno. Para pensar na reeleição terá que conquistar mais apoios e diminuir sua rejeição — que, entretanto, é menor do que se imaginava. Contará, no entanto, com quase um mês pela frente com a divulgação de alguns bons indicadores na economia (emprego e inflação entre eles) e o ânimo de quem chegou mais longe do que todos esperavam.

Não é o favorito. Mas não convém subestimá-lo novamente.

Primeira Página

pt-br

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281689733698226

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.