Infoglobo

PRIMEIRA MISSÃO CUMPRIDA

APÓS FURAR ONDA PETISTA, BOLSONARO GANHA FÔLEGO

DANIEL GULINO E JUSSARA SOARES politica@oglobo.com.br BRASÍLIA (Colaborou Lucas Altino)

Opresidente Jair Bolsonaro (PL) contrariou expectativas criadas pelas pesquisas, conteve a onda petista na reta final da campanha e chegou ao segundo turno em condições de medir forças com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tentar eliminar a diferença de pouco mais de quatro pontos percentuais que o separou do ex-presidente na primeira etapa da eleição presidencial, marcada pela polarização. Além disso, o primeiro titular do Planalto a buscar a reeleição sem figurar como favorito mostrou força ao eleger governadores em diferentes regiões e emplacar aliados estratégicos na Câmara e, sobretudo, no Senado.

Apesar de ter ficado em segundo lugar, Bolsonaro teve ontem um gosto de vitória, já que, na véspera, Datafolha e Ipec estimavam uma distância de 14 pontos entre ele e Lula. O resultado surpreendeu até o núcleo da campanha do presidente, cujas previsões mais otimistas apontavam que ele ficaria a seis pontos do petista.

— Eu entendo que tem muito voto que foi pela condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos. Em especial, da cesta básica. Entendo que há uma vontade de mudar por parte da população, mas tem certas mudanças que podem vir para pior — disse ele ontem, em frente ao Palácio da Alvorada. — Temos dados bastantes positivos. Em quatro semanas vai dar para explicar bem para a população o que aconteceu.

Até o dia 30, em condições de igualdade na propaganda de rádio e TV, Bolsonaro precisará se equilibrar entre duas correntes de aliados que divergem sobre o melhor caminho para virar o jogo. A modulação entre a faceta beligerante do primeiro turno e a necessidade de demonstrar temperança tende a ser um dos maiores desafios da campanha bolsonarista daqui para frente.

A chamada ala ideológica, capitaneada pelo vereador licenciado Carlos Bolsonaro (Republicanos) e o ex-assessor da Presidência Felipe Martins, encoraja o presidente a partir para o ataque a Lula, sob o argumento de que funcionou no primeiro turno. Já o grupo político, formado por nomes do Centrão como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP ), e o presidente do P L, Valdemar Costa Neto, tentam convencê-loa investir numa versão mais ame nade si próprio para conquistar o eleitorado de centro.

ALIANÇAS E REJEIÇÃO

Ontem à noite, Bolsonaro indicou que pretende travar o debate da economia, cujas dificuldades atribui à pandemia e à guerra na Ucrânia. Também demonstrou que vai insistir em relacionar Lula a líderes de esquerda que governam países latinoamericanos. Citou ontem Nicarágua, Venezuela, Argentina, Colômbia e Chile.

— Vamos agora mostrar melhor para a população brasileira, em especial a classe mais afetada, que é consequência da política do “fica em casa, a economia agente vê depois”, de uma guerra lá fora, de uma crise ideológica também —disse Bolsonaro.

O presidente afirmou ainda que um dos focos da sua campanha no segundo turno será tentar recuperar votos em Minas e São Paulo, onde teve desempenho abaixo de 2018.

— É essa votação perdida que vamos buscar recuperar nesses três estados que são os maiores colégios eleitorais do Brasil — disse Bolsonaro, que votou pela manhã no Rio e retornou a Brasília para acompanhara apuração no Alvorada.

O núcleo principal da campanha apos taque abriga pelo Planalto ganha novo fôlego. Se Lula tivesse liquidado no primeiro turno, o candidato doPL seria o primeiro presidente da História anão conseguir se reeleger desde 1998, quando essa possibilidade foi instituída. A partir de agora, além do tempo igual no rádio ena TV, os debates promoverãoum confronto direto entre Lula e Bolsonaro, o que pouco aconteceu na primeira etapa.

A primeira grande missão da campanha é ampliar o arco de alianças. A coligação de Bolsonaro, formada por PL, PP e Republicanos, deve ganhar o reforço do PTB, cujo candidato a presidente, Padre Kelmon, defendeu abertamente o presidente nos debates. Outras siglas que tradicionalmente se posicionam à direita, como o PSC e o Patriota, preferiram ficar neutros no primeiro turno e também devem ser procuradas por aliados do presidente. Do outro lado, o PDT deve apoiar Lula, mesmo que sem a concordância do candidato da sigla derrotado, Ciro Gomes.

Bolsonaro disse que ainda pretende conversar com o governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo), em busca de apoio no segundo turno, além de contar com a ajuda de parlamentares do PL eleitos:

—É natural os candidatos se preocuparam mais com a campanha deles do que com a presidencial. Agora a campanha é a nossa. Entendo que isso vai ajudar a gente conseguir os votos suficientes para ganhar as eleições.

A campanha bolsonarista precisará desenvolver antídotos para reduzir a alta rejeição de 52% apontada na última pesquisa do Datafolha, principalmente junto às mulheres, segmento em que é ainda maior. Os levantamentos mostram que os esforços foram insuficientes até agora, mesmo depois de a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ter mergulhado na campanha.

Política

pt-br

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281681143763634

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.